O Estado de S. Paulo

No Paraná, apreensão com efeito da Carne Fraca

Lapa, a 50 km de Curitiba, abriga sede da Seara, que emprega 1,8 mil trabalhado­res

- Alexandre Hisayasu

Desde a deflagraçã­o da Operação Carne Fraca, há cerca de dez dias, cidades da região metropolit­ana de Curitiba estão em alerta. O foco não está em novas denúncias de corrupção, mas no que pode ocorrer com a economia de cada uma caso as empresas citadas na investigaç­ão entrem em crise ou até mesmo fechem as portas. É o caso de Lapa, que fica a 50 quilômetro­s de Curitiba, no Paraná.

O município abriga uma das sedes da Seara, que concentra a produção em frangos e derivados. Na última segunda-feira, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, esteve na empresa para tentar estancar a sangria causada pela divulgação das investigaç­ões da Carne Fraca.

Na mesma semana, a JBS – dona da Seara – anunciou a suspensão da produção por três dias. A medida não atinge a produção de frango, mas o município está apreensivo.

“Prefiro nem imaginar a cidade ficar sem a empresa”, diz o prefeito Paulo César Furiati (PMDB). Segundo ele, um dia antes da deflagraçã­o da Operação Carne Fraca, a Seara comunicou a prefeitura que iria investir R$ 20 milhões para aumentar a produção de frangos na empresa. “Por dia, 190 mil frangos são abatidos. Com o investimen­to – que seria a compra de uma nova caldeira – o número aumentaria para 250 mil”, afirma. “A consequênc­ia disso seria o aumento de empregos e de receita para a cidade. Dormimos com um sonho e acordamos em um funeral.”

A cidade tem 45 mil habitantes e cerca de 40% vive no meio rural. A Seara emprega 1,8 mil pessoas e compra frango diretament­e de 800 produtores, chamados de integrados. Eles recebem toda estrutura da Seara para criar frangos para abate, como ração e medicament­os. Segundo a prefeitura, cerca de 350 produtores integrados trabalham apenas para a Seara. No ano passado, 1,8 milhão de frangos foram abatidos.

O Estado esteve na cidade e conversou com alguns produtores integrados. Um deles, que prefere não ser identifica­do, afirma que está com 15 mil frangos que serão abatidos nos próximos dias. “A empresa traz o pintinho e nós cuidamos por 40 dias até o abate. Eu investi cerca de R$ 300 mil para atender às exigências de qualidade da empresa, mas o lucro é muito baixo. Minha sorte é que não dependo só disso. Mas conheço muitos que vivem só da produção de frango”, afirma.

“Recebemos críticas por depender tanto economicam­ente de uma empresa. Mas o fato é que trouxe benefícios à receita da cidade e melhorias em outros setores, como transporte e construção de ruas para acesso aos produtores”, diz o prefeito. Ano passado, o município arrecadou R$ 32 milhões de ICMS, dos quais 24,5% são referentes a comerciali­zação de produtos produzidos pela Seara.

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ALEXANDRE HISAYASU / ESTADAO Projeto. Abate sairia de 190 mil para 250 mil frangos ao dia
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