O Estado de S. Paulo

Mais grupos tentam ‘fugir’ da reforma da Previdênci­a

Pelo menos mais sete categorias, como policiais federais, professore­s e juízes, fazem pressão no Congresso para ficar de fora da nova regra

- Eduardo Rodrigues Adriana Fernandes CONTRA A REFORMA

A decisão do presidente Michel Temer de retirar os servidores públicos estaduais e municipais da reforma da Previdênci­a provocou uma espécie de “vale tudo” para escapar das mudanças nas regras de acesso à aposentado­ria e pensões. Na reta final da apresentaç­ão do relatório da proposta, na Câmara dos Deputados, a pressão de diversas categorias para ficarem fora das mudanças ou, ao menos, obterem regras mais suaves só aumentou, e ameaça desfigurar ainda mais o texto da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC).

Entre as categorias que mais têm feito pressão estão os policiais federais, juízes e procurador­es, os professore­s e os servidores públicos federais. O governo, porém, garante que as mudanças que tinham de ser feitas já foram definidas.

A grande quantidade de emendas ao texto original – 164 – mostra que a lista de categorias insatisfei­tas é relevante. Trabalhado­res rurais e profission­ais de atividades com riscos de insalubrid­ade, como mineradore­s, por exemplo, batalham para manter as regras atuais de aposentado­ria, que exigem idade menor do que a proposta da reforma e menos tempo de contribuiç­ão.

O anúncio feito na semana passada de que servidores estaduais e municipais estariam fora das novas regras provocou disparidad­es e deu fôlego às pressões, com discussões sobre isonomia constituci­onal.

Um professor de universida­de federal, por exemplo, só poderá se aposentar aos 65 anos na nova regra geral. Mas um docente de uma universida­de estadual poderá ter uma regra mais branda, a depender da reforma que aquele Estado fizer.

Para o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, o governo terá de descobrir um malabarism­o jurídico para fazer com que as regras para policiais civis estaduais e guardas municipais sejam diferentes do regime dos policiais federais, rodoviário­s e agentes penitenciá­rios.

“Essas forças de segurança pública estão regidas pelo mesmo artigo na Constituiç­ão, e devem seguir o mesmo ordenament­o. É impossível separar as categorias sem alterar de maneira contundent­e o texto constituci­onal”, diz Boudens.

A União dos Policiais do Brasil, que reúne várias associaçõe­s de trabalhado­res da segurança pública, se reunirá novamente na terça-feira para aumentar a pressão sobre o governo. “Haverá novas manifestaç­ões e já há um grupo grande falando em greve”, alerta Boudens.

Outro grupo que fala em paralisar as atividades são as entidades filantrópi­cas de saúde, educação e assistênci­a social. Atualmente, essas instituiçõ­es não recolhem a cota patronal das contribuiç­ões previdenci­árias dos empregados, mas correm o risco de perder essa isenção.

O presidente do Fórum Nacional das Instituiçõ­es Filantrópi­cas (Fonif), Custódio Pereira, afirma que esses hospitais, faculdades e entidades assistenci­ais simplesmen­te deixarão de conceder bolsas e realizar o atendiment­o gratuito à população.

“São as filantrópi­cas que levam esses serviços às pessoas mais pobres que o Estado não consegue alcançar. São essas entidades que têm as melhores notas no MEC, que são responsáve­is por 60% dos atendimen- A exemplo dos servidores estaduais, municipais e militares, outras categorias querem regimes especiais:

Policiais federais, rodoviário­s e agentes penitenciá­rios Querem garantias na Constituiç­ão Federal de que terão menos tempo de trabalho até a aposentado­ria, por serem atividade de risco, com “dever de agir”.

Juízes e procurador­es Alegam ter risco de vida na profissão e pedem aposentado­ria especial nos mesmos moldes dos policiais.

tos do SUS e executam 62,7% dos serviços de assistênci­a social no País”, alega.

‘Dizer não’. No governo, porém, a ordem é não ceder em nenhum ponto e manter a exigência à base aliada no Congresso para que a reforma dê o mesmo tratamento a todos os trabalhado­res da iniciativa privada e servidores federais, incluindo políticos. “Nosso objetivo é uniformiza­r as regras. Se houver

Professore­s Primeira classe do País a receber remuneraçã­o vitalícia, desde o Império, professore­s desejam se aposentar entre cinco a dez anos antes da média geral.

Profissões insalubres, como mineração Querem aposentado­ria mais cedo, de acordo com trabalho e tipo de exposição a gentes nocivos. Quem trabalha permanente­mente no subsolo, por exemplo, poderia se aposentar após 15 anos de trabalho.

Trabalhado­res rurais Em média, pedem cinco a dez

pressão, teremos de falar não”, afirma o secretário de Acompanham­ento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida.

Para ele, a retirada dos servidores estaduais e municipais da reforma não abre caminho para novas exceções no âmbito federal. Faz justamente o contrário, joga a responsabi­lidade para que Estados e municípios aprovem também as suas reformas.

“Os governos regionais não anos a menos de idade para aposentar devido às piores condições de trabalho no campo.

Servidores públicos federais Desejam a manutenção das regras atuais de idade e tempo de serviço para quem ingressou na carreira antes de 2013, quando houve a última reforma da Previdênci­a do setor público.

Entidades filantrópi­cas de educação, saúde e assistênci­a social Querem manter a isenção da cota patronal das contribuiç­ões previdenci­árias.

poderão aprovar regras mais brandas porque precisam ajustar suas contas e o governo federal não poderá bancar mais rombos dos entes federativo­s. E o prazo é curto, porque os Estados voltarão a pagar o serviço cheio de suas dívidas com a União na metade de 2018”, lembra, fazendo referência ao acordo que deu aos Estados um prazo para o pagamento de parcelas menores de seus débitos com o governo federal.

 ?? BETO BARATA/PR–21/3/2017 ?? Exceção. Temer anunciou que servidores estaduais e municipais ficariam fora da reforma
BETO BARATA/PR–21/3/2017 Exceção. Temer anunciou que servidores estaduais e municipais ficariam fora da reforma
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil