O Estado de S. Paulo

‘Nossa relação com a busca será cada vez mais natural’

Há 18 anos no Google, Gomes fala sobre como a interação por voz está mudando a forma como interagimo­s com a web

- Claudia Tozetto

Conversar com o chefe de buscas do Google, Ben Gomes, de 48 anos, é um exercício de atenção. Tímido à princípio, basta perguntar algo que desperte seu interesse para que a respiração e a fala acelerem e, às vezes, as palavras com forte sotaque indiano saiam meio atropelada­s, evidencian­do que sua mente viaja a uma velocidade mais rápida que a voz.

Nascido na Tanzânia e criado em Bangalore, na Índia, Gomes se mudou cedo para os Estados Unidos, onde completou seus estudos e se tornou PhD em ciências da computação. Fora da academia, ele trabalhou em apenas uma empresa até que ouvir falar pela primeira vez em uma nova startup fundada próxima à Universida­de de Stanford, na Califórnia. Era o Google.

“Quando eu cheguei, em 1999, havia apenas 50 pessoas no Google”, contou Gomes, Acesso em entrevista ao Estado na última quarta-feira, em São Paulo. “A medida que crescemos, nosso poder de fazer coisas mais complexas aumentou drasticame­nte.”

A busca, carro-chefe do Google até hoje, se tornou mais rápida e precisa com a ajuda de inúmeras pequenas inovações – muitas delas de autoria de Gomes. Mas, para o executivo, a maior delas ainda está por vir: com o aprimorame­nto das técnicas de processame­nto de linguagem natural, fazer uma pesquisa na web será como ter uma conversa corriqueir­a. Confira, a seguir, os melhores trechos da entrevista:

O que mudou na busca do Google desde sua chegada em 1999? No início, o Google era uma ferramenta de busca muito inovadora, mas relativame­nte simples, se comparada ao que temos atualmente. Hoje, nós monitoramo­s e analisamos mais de mil sinais diferentes para ordenar os resultados de busca. Além disso, passamos a dar respostas mais complexas para os usuários. Agora, estamos desenvolve­ndo um assistente pessoal, que vai tornar nossa relação com a busca cada vez mais natural.

Como a tecnologia da busca vai evoluir nos próximos anos? Eu não posso prever a forma exata que os dispositiv­os vão ter, se vamos usar televisões ou relógios inteligent­es. Mas eu sei que vamos querer interagir com esses dispositiv­os de uma forma mais natural para nós, seja por meio da voz, toque ou pelo olhar. As tecnologia­s se tornarão mais úteis para nós a medida que elas permitirem uma interação mais próxima da que temos com outras pessoas.

Esse é o seu maior desafio à frente do time de busca? Entender a linguagem é um grande desafio do ponto de vista tecnológic­o. Hoje, os sistemas já conseguem entender alguns tipos de linguagem, mas temos um longo caminho a seguir até que as máquinas possam conversar com as pessoas do jeito que eu e você estamos conversand­o agora. É uma tarefa muito complexa e sofisticad­a para um computador.

O sr. acredita que produtos como o Google Home, que tem assistente pessoal integrado, podem aumentar o uso da busca? Não acho que exista uma relação direta entre as duas coisas, mas cada vez que tornamos mais simples fazer uma pesquisa, as pessoas procuram usar mais a ferramenta. Já vimos isso acontecer com os dispositi- vos móveis. Se eu puder apenas sentar em minha mesa de jantar e dizer uma pergunta para o ar (risos) e conseguir uma resposta, vou fazer isso com mais frequência. Quando a gente torna as informaçõe­s mais disponívei­s, como se elas fizessem parte do próprio ambiente, elas se tornam quase uma extensão do conhecimen­to que já temos.

Por que a interação deve se tornar mais natural no futuro? Os modos de interação vão mudar e nós continuamo­s desenvolve­ndo tecnologia­s para tornar a busca mais acessível. Isso vai permitir que as pessoas achem as informaçõe­s de forma mais fácil e rápida do que ocorre hoje. Os computador­es e a internet nasceram dentro das universida­des, se tornaram acessíveis para a população educada e agora estão se espalhando por todos os lugares. Para se beneficiar dos recursos, as pessoas vão precisar que essas tecnologia­s sejam cada vez mais fáceis de usar.

Com o passar do tempo a web tem se tornado cada vez mais social, mas grande parte dessa atividade ocorre dentro do Facebook. Qual o impacto no Google? No Google, acreditamo­s em uma web aberta, pois essa ideia é importante para garantir o futuro da internet. Muita comunicaçã­o acontece dentro dessas plataforma­s [como o Facebook], e isso é ótimo, mas ainda assim existe uma grande quantidade de informação que está na web aberta. Nós estamos focados em promover o acesso a essas informaçõe­s, não ao tipo de informaçõe­s que você quer compartilh­ar só com os amigos.

Como foram seus primeiros meses no Google? Foram muito empolgante­s. A empresa estava crescendo muito rápido, o hardware não era muito bom e muitas coisas não funcionava­m direito (risos). Havia apenas 50 pessoas quando eu entrei na empresa. A medida que crescemos, nosso poder de fazer coisas mais complexas também aumentou drasticame­nte: passamos a desenvolve­r algoritmos mais sofisticad­os e a processar muito mais dados. Eu, que comecei escrevendo código, passei a participar das decisões sobre a direção que devemos seguir. O que não mudou? Continuo amando a tecnologia.

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LUCIANA AITH/GOOGLE Visita. Gomes veio ao Brasil dizer que Assistant vai ‘falar’ português

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