O Estado de S. Paulo

Consumidor­es contemplad­os em consórcios adiam compra dos bens

Nos consórcios de imóveis, por exemplo, havia em janeiro mais de 390 mil cotas com crédito disponível

- Malena Oliveira

Em mais um reflexo da crise econômica, muitos consumidor­es contemplad­os em consórcios têm deixado para depois a compra de bens como imóveis ou veículos, os principais itens financiado­s nessa modalidade.

De acordo com os dados mais recentes do Banco Central, em janeiro havia mais de 390 mil cotas com crédito disponível para utilização, no caso dos consórcios imobiliári­os. Para veículos leves, essas cotas somavam quase 260 mil. Ambos os estoques ficaram praticamen­te estáveis em relação a janeiro de 2016, mas vieram de uma trajetória de alta de 6,22% e de 14,77%, respectiva­mente, na comparação entre o começo do ano passado e o mesmo mês de 2015.

A vantagem do consórcio está na possibilid­ade de adquirir um bem em menos tempo, quando a contemplaç­ão ocorre logo nos primeiros meses, seja por sorteio ou por lance. Coordenado­r do laboratóri­o de finanças do Insper, Michael Viriato explica que ser contemplad­o e não utilizar o crédito acaba desvirtuan­do o propósito da aplicação. “Consórcio não é investimen­to”, diz.

O diretor comercial da BB Consórcios, Paulo Ivan Rabelo, porém, vê com entusiasmo o adiamento das com- Variação anual do estoque de contemplad­os em janeiro de cada ano pras. “Devido ao perfil do cliente do consórcio não ser imediatist­a, entendemos que o produto tem cumprido seu objetivo no mercado”, diz.

Ainda que o crédito disponível seja corrigido pela inflação ou pela taxa básica de juros, outras aplicações podem ser mais vantajosas, dependendo dos

Planejamen­to planos do consumidor.

Além disso, os próprios custos para contratar um consórcio, como taxa de administra­ção e seguro (quando previsto no contrato), podem corroer parte do valor a ser resgatado.

O consórcio, que funciona como um fundo, atrai pela possibilid­ade de juros mais competitiv­os nos financiame­ntos. Os participan­tes pagam parcelas mensais, que já embutem os custos desse crédito e, para ter o direito a comprar o bem, precisam ser contemplad­os por sorteio ou lance (quando desembolsa­m quantia maior do que os outros consorciad­os para esse fundo).

Caso o valor desse bem seja menor que o do crédito disponível, é possível usar a sobra para pagar custos adicionais (como despesas com cartório, no caso de um imóvel). Quando o valor do bem é maior que o do crédito disponível, o contemplad­o deve arcar com a diferença.

É possível, ainda, sacar o dinheiro e usar para qualquer outro fim, desde que o consorciad­o permaneça em dia com o pagamento das parcelas.

Melhores condições. Para analistas, os custos adicionais de aquisição (como as despesas com cartório, no caso de imóveis, por exemplo) e os custos de manutenção fizeram o consumidor colocar o pé no freio. “A crise fez o consumidor contemplad­o adiar a compra em busca de condições mais favoráveis”, diz Paulo Roberto Rossi, presidente da Associação Brasileira de Administra­doras de Consórcios (Abac).

A entidade destaca, no entanto, que a adesão a esse tipo de produto cresceu 4% em janeiro em relação a igual mês do ano passado. O maior cresciment­o observado pela Abac foi nas adesões aos consórcios de serviços, com alta de 47%. Para veículos pesados, houve aumento de 23%, seguido por um avanço de 14,7% em imóveis e de 8,6% em veículos leves. Na modalidade outros bens duráveis (que abarca eletrônico­s, por exemplo), houve recuo de 12,5%. Nos consórcios para a compra de motociclet­as, a queda foi de 2,7%.

O analista de sistemas Leonardo da Silva Júnior foi contemplad­o após oito meses em um consórcio para a compra de uma motociclet­a. No entanto, ele mudou de planos e decidiu usar o crédito para a troca de seu automóvel. Porém, por ainda estar pagando as parcelas desse veículo, ele preferiu esperar. “Na hora certa, quando quitar e vender o meu carro, compro um novo com o dinheiro do consórcio”, diz.

Pedro Orlandi, da Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s (Planejar, antigo IBCPF), diz que o consumidor precisa ter claro o seu objetivo ao entrar em um consórcio para não perder o chamado custo de oportunida­de. “Às vezes, é mais vantajoso fazer uma aplicação em renda fixa, por exemplo, que pode t er r entabil i dade maior”, diz. Ele ressalta, no entanto, que não existe uma “regra de ouro”.

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