O Estado de S. Paulo

Em carta, Dirceu critica Moro por mantê-lo preso desde 2015

Ex-ministro afirma que juiz ignora princípio da presunção de inocência; petista diz ainda que não tem renda há três anos

- Ricardo Galhardo Pedro Venceslau

Em carta publicada ontem pelo blog Nocaute, do escritor Fernando Morais, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso desde agosto de 2015 e condenado por envolvimen­to com o esquema de desvios na Petrobrás revelado pela Lava Jato, critica o que chama de “método” do juiz da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, Sérgio Moro, responsáve­l pela operação, e diz que está há três anos sem renda própria e com bens indisponív­eis.

Dirceu alega que Moro contraria o entendimen­to de tribunais superiores e age contra a Constituiç­ão ao prorrogar indefinida­mente sua prisão preventiva, uma vez que o próprio juiz já condenou o ex-ministro a mais de 30 anos de cadeia em dois processos, e o Supremo Tribunal Federal decidiu que os réus podem responder em liberdade até que sejam condenados em segunda instância. Segundo o petista, Moro ignora o princípio da presunção de inocência.

“Ora, minha condenação no processo Engevix-Petrobrás não transitou em julgado, logo tenho a presunção da inocência, não a culpabilid­ade. Ou Moro já a revogou? Mas Moro vai mais longe. Diz que ‘o produto do crime não foi recuperado, há outras investigaç­ões em andamento e ainda não foi determinad­a a extensão de minhas atividades’!!! Então Moro já me condena sem sequer ter me investigad­o?”, questiona Dirceu.

O ex-ministro argumenta que ministros do STF têm dado votos favoráveis ao uso de tor- nozeleira eletrônica e defendido que a prisão cautelar se aplica “só em último caso”. Na carta Dirceu faz ainda breve referência a sua vida privada, ao dizer que não tem fonte de renda desde que foi preso. “Todos os meus bens estão sequestrad­os e arrestados e – com exceção de dois – confiscado­s”, diz.

O ex-ministro foi condenado por Moro em dois processos envolvendo desvios na Petrobrás, em uma sentença a 11 anos e três meses, e em outra, a 20 anos e dez meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

A reportagem não conseguiu contato com a Justiça Federal do Paraná ontem.

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