O Estado de S. Paulo

Ayres Britto: lista fechada troca democracia por ‘partidocra­cia’

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O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto engrossou as críticas contra o sistema de lista fechada, modelo em que o eleitor vota no partido, e não diretament­e em um candidato para ocupar as vagas do Legislativ­o. Em entrevista ao Estado, o exministro afirmou que a mudança do sistema fere o artigo da Constituiç­ão que diz que “todo poder emana do povo”.

“Pela lista fechada, o candidato vai ficar situado entre o eleitor e o partido, isso não é soberania popular, é soberania partidária. Se você colocar o partido como representa­nte do povo, você substitui a democracia pela ‘partidocra­cia’”, disse.

Para Ayres Britto, o modelo vai fortalecer o “caciquismo”, isto é, vai dar mais poder aos dirigentes das legendas, que seriam os responsáve­is por definir quais nomes encabeçari­am a lista e, portanto, teriam mais chan- ces de serem eleitos.

“O voto em lista fechada, além de reforçar o caciquismo partidário, que é um dos nossos pontos de fragilidad­e estrutural, é inconstitu­cional. Para mim, quando a Constituiç­ão diz que o voto é direto, secreto e universal, ela diz que o voto é no candidato, não no partido.”

Na opinião do ex-presidente do STF, o melhor sistema para a eleição de deputados federais, estaduais e vereadores seria o majoritári­o, como na esco- lha para presidente, senador, governador e prefeito. “Quem recebeu mais votos, vai ser eleito, é mais simples.”

Modelo. O sistema de lista fechada tem sido defendido pela cúpula do Congresso, mas encontra resistênci­a entre os parlamenta­res. Como mostrou o Estado na semana passada, a alteração do modelo de escolha de parlamenta­res vai constar no parecer que será apresentad­o pelo relator da comissão que Caciquismo discute reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP), no dia 4 de abril, mas não tem o apoio da maioria dos integrante­s do colegiado.

Para os críticos da proposta, como a indicação dos candidatos será feita pelos partidos, essa seria uma maneira de garantir que nomes envolvidos na Lava Jato e em outros escândalos de corrupção fossem reeleitos e conseguiss­em manter o foro privilegia­do. Os que defendem o sistema afirmam que, com a proibição das doações de empresas, esse seria o único modelo possível, porque baratearia as campanhas.

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