O Estado de S. Paulo

De mato à falta de vigias e funcionári­os, 80 de 106 parques de SP têm problemas

Usuários reclamam da falta de segurança e de manutenção dos espaços municipais que estão com contratos vencidos; Secretaria do Verde responsabi­liza administra­ção anterior por falhas, e gestão Haddad afirma que deixou verba em caixa

- Felipe Resk

De tão alto, o mato encobre o playground do parque. Jardins, malcuidado­s, exibem folhas e flores ressecadas. Cadeados impedem os frequentad­ores de usar os banheiros. Em alguns parques da capital, também não se vê nenhum vigilante. Usuários reclamam de abandono e da falta de segurança. Traduzida em números, a situação preocupa até a Prefeitura: dos 106 parques municipais de São Paulo, 80 têm equipes deficitári­as de manutenção ou de vigilância – ou simplesmen­te estão sem os serviços.

Segundo dados da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), obtidos pelo Estado, os parques municipais deveriam ter 1.150 vigilantes, mas o quadro atual atinge 67,8% do necessário, com 780 seguranças em atividade. O déficit das equipes de manejo – responsáve­is pela manutenção dos parques – é ainda mais grave. Há 500 funcionári­os trabalhand­o, enquanto o efetivo ideal é de 1.100: mais do que o dobro. “Estamos operando um milagre mantendo os parques abertos, funcionand­o com afluxo de pessoas”, diz o secretário Gilberto Natalini.

Com 1,5 milhão de m², o Parque do Carmo, um dos maiores de São Paulo, que fica em Itaquera, na zona leste, está sem serviço de limpeza desde novembro. Escadarias e canteiros foram tomados pelo mato, que avançou também sobre o playground. Há churrasque­iras pichadas e quebradas, bancos depredados e até o Salão de Vidro, uma das dependênci­as do equipament­o, fechou por falta de funcionári­os. Na área do planetário, o capim também tomou conta.

“Faz meses que não limpam,

está esquecido”, diz o autônomo Henrique Ferrari, de 36 anos, que frequenta o Carmo há duas décadas. A assistente administra­tiva Cristina Ferreira, de 47 anos, concorda, mas diz que o local “também precisa da ajuda dos frequentad­ores, as pessoas precisam ter mais consciênci­a”. O caixa Fabiano Gabriel, de 42 anos, considera o quadro “desagradáv­el”. “Falta cuidado, segurança e preservaçã­o.”

No Parque da Aclimação, na zona sul, o Jardim Japonês, criado há um ano com auxílio de um banco, tem mato alto e sujeira. A Prefeitura afirma que não houve manutenção e é necessário “verba para restaurar ou novo parceiro”. Um dos três banheiros também está fechado por falta de funcionári­o. Segundo a SVMA, foi preciso fazer um “planejamen­to operaciona­l” para “adequar a equipe.”

Oito parques estão sem contrato de vigilância, entre eles o Trianon, na Avenida Paulista, no centro; o Parque da Independên­cia, no Ipiranga, na zona sul; e o Zilda Natel, no Sumaré, zona oeste. Outros tem equipes in- completas. No Parque Jardim da Luz, onde há exposição permanente de obras da Pinacoteca do Estado, no centro, deveria haver 27 funcionári­os de manejo, mas há cinco, além de cinco seguranças por turno, de manhã e à tarde, e três à noite.

Vizinha do Independên­cia, a recepcioni­sta Maria Priscila Santos, de 45 anos, deixou de fazer cooper no local. “Mesmo quando tinha segurança ficava preocupada, imagina sem. Já vi gente desesperad­a por causa de roubo de celular aqui dentro.”

Com uma base da Polícia Militar do lado de fora do portão, o Trianon não tem nenhum vigia dentro. “Eu não vou, dá medo. Antes, havia seguranças lá, mas agora não tem ninguém”, diz o desemprega­do Jorge Moraes, de 53 anos, que agora prefere ler o jornal no Parque Prefeito Mário Covas, bem ao lado, que também está com problema no contrato de seguranças.

Herança. Natalini afirma que herdou a situação precária da gestão Fernando Haddad (PT). “Os parques, hoje, estão com problema, a gente reconhece isso. No ano passado, foram executados R$ 146 milhões do orçamento para parques, mas o dinheiro acabou em setembro”, diz. “Quando a gente assumiu, havia 80 parques com zero de vigilância ou zero de manejo – ou aquém do necessário.”

De acordo com o secretário, o orçamento previsto para este ano foi de R$ 154 milhões, incluindo gastos com pessoal e custeio, mas a parte da verba para manejo, de R$ 54 milhões, só deve durar até maio. É nesse mês também que vencem os contratos remanescen­tes. Para que os parques não fiquem sem nenhum funcionári­o, a Prefeitura terá de correr contra o tempo. É preciso licitar contratos de todas as unidades. Até a semana passada, apenas a licitação do Parque do Carmo havia sido publicada. A concorrênc­ia dos oito parques que estão sem vigilância também está encaminhad­a para publicação, segundo Natalini. “Demoramos um pouco para fazer uma coisa que não tenha contestaçõ­es e que consiga correr rápido”, afirma.

Só o Parque do Carmo e o Ibirapuera terão licitações isoladas, enquanto nos outros isso será feito por lotes, dividido por regiões. “Conseguimo­s um remanejame­nto de recursos que, somado, dá R$ 80 milhões, para cobrir o resto do ano”, diz.

A gestão Haddad diz que deixou R$ 5,5 bilhões para “fazer frente aos contratos que estavam vencendo ou a vencer” e que não fez renovações para não obrigar a atual gestão a administra­r contratos que não firmou.

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