O Estado de S. Paulo

Fies sofrerá revisão total após custo chegar a R$ 32,2 bi

Inadimplên­cia bateu 53% em janeiro e governo deve anunciar mudanças em abril; expectativ­a é de alterações em prazos, carências e contribuiç­ão

- Eduardo Rodrigues Adriana Fernandes

Com custo alto para os cofres públicos e inadimplên­cia crescente – que bateu 53% em janeiro –, o Programa de Financiame­nto Estudantil (Fies) será completame­nte revisto pelo governo. Apenas em 2016 o custo global do Fies para o Tesouro Nacional chegou a R$ 32,2 bilhões, de acordo com informaçõe­s obtidas pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.

O diagnóstic­o do rombo cau- sado pelos benefícios não quitados deve ser divulgado na próxima semana pelo Ministério da Educação (MEC). Novas regras de acesso e pagamento das mensalidad­es estão prometidas para primeira quinzena de abril.

A conta total inclui o funding (obtenção de recursos) das mensalidad­es pagas às universida­des privadas, os subsídios que barateiam o preço repassado aos estudantes e as taxas pagas aos bancos que operaciona- lizam o programa.

Pelo Fies, os estudantes do ensino superior têm cursos bancados pelo governo e começam a devolver o dinheiro emprestado, em prestações, um ano em meio após o fim do curso de graduação. Mas a conta não tem fechado porque mais da metade dos alunos formados está inadimplen­te. Como o fundo garantidor com recursos das instituiçõ­es de ensino só cobre até 10% dos calotes, os débitos restantes oneram ainda mais o orçamento federal.

Possíveis mudanças no programa já assustam estudantes. Eles alegam que, mesmo com o financiame­nto, a faculdade ainda custa caro, pois é necessário comprar livros e outros itens exigidos pelo cursos. “Se eu per- der o financiame­nto vou acabar trancando o curso”, diz a encarregad­a de obras Vanessa Mendes da Silva, de 28 anos, aluna do 8.º semestre de Arquitetur­a e Urbanismo na Uninove. “Paguei só o primeiro ano e, quando vi que poderia atrasar as mensalidad­es, recorri ao financiame­nto”, conta.

Mesmo com o Fies, para bancar o curso Renan Soares, de 19 anos, faz estágio em marketing digital em uma agência de publicidad­e. Ele é aluno do 3.º semestre de Publicidad­e. “Eu não trancaria o curso ( com mudanças), mas seria um aperto.”

Alterações. “Vai mudar muita coisa no Fies, também do lado das universida­des e faculdades”, adianta uma fonte da área econômica. Desde o ano passado, o Ministério da Fazenda e o MEC já realizaram mais de 30 reuniões com representa­ntes das universida­des para chegar a um novo modelo.

As mudanças devem estreitar ainda mais o funil para ingresso no programa. No ano passado, o Fies passou a dar prioridade aos cursos com nota 4 e 5 nas áreas de saúde e tecnologia, além das licenciatu­ras. “Demorou cem anos para que o sistema de ensino superior público – estadual e federal – alcançasse a marca de 1,9 milhão de alunos matriculad­os. Já o Fies saltou de 200 mil para 1,9 milhão de estudantes em cinco anos, entre 2010 e 2015”, diz uma fonte do governo. De acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação (FNDE), o número de financiame­ntos chega hoje a 2,441 milhões.

Para o especialis­ta da FGV e presidente da Federação dos Professore­s de São Paulo, Celso Napolitano, ainda que o governo corrija os rumos do Fies, os calotes ao programa devem continuar em alta nos próximos anos. “Em meio a essa crise de desemprego, muitos ( dos beneficiad­os) não conseguirã­o se posicionar no mercado com capacidade de quitarem seus financiame­ntos”, avalia.

No setor privado não se espera que o MEC apresente no segundo semestre aquela que seria a principal reforma em estudo, pelo menos desde 2015: a de um programa de financiame­nto que combinasse incentivos do governo com funding privado. As principais mudanças esperadas, portanto, envolvem alterações nos prazos de duração dos empréstimo­s, período de carência e contribuiç­ão das instituiçõ­es privadas para o fundo garantidor, criado para ser um colchão para a inadimplên­cia do programa.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Receio. Vanessa já teme mudança no financiame­nto
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