O Estado de S. Paulo

AS PEGADAS DO ‘JURASSIC PARK’ DA AUSTRÁLIA

Algumas, com cerca de 1,70 metro de extensão, são as maiores já localizada­s no mundo

- Fábio de Castro

lhões a 140 milhões de anos de idade, na região da Península Dampier, local do litoral oeste do país que já havia sido apelidado pelos cientistas de “Jurassic Park da Austrália”.

Os cientistas, das Universida­des de Queensland e Cook, ambas da Austrália, tiveram de enfrentar tubarões, crocodilos, marés desfavoráv­eis e até empreendim­entos de infraestru­tura para desvendar o mais diverso conjunto de rastros de dinossauro­s. Segundo o principal autor do estudo, Steve Salisbury, a diversidad­e dos rastros na região é sem paralelo no mundo. “É extremamen­te significat­ivo, já que formam o primeiro registro de dinossauro­s não aviários na metade ocidental do continente, o que nos fornece um olhar de relance da fauna desses animais na Austrália na primeira metade do período Cretáceo”, explicou o pesquisado­r.

Em 2008, o governo do Oeste Australian­o selecionou o local como sítio prioritári­o para instalação de uma planta de processame­nto de gás natural de cerca de US$ 30 bilhões. A população tradiciona­l do local, da etnia Goolaraboo­loo, entrou em contato com Salisbury para avaliar o sítio. Com sua equipe, o cientista realizou 400 horas de pesquisa de campo, documentan­do rastros de dinossauro­s. “Precisávam­os que o mundo visse o que estava em jogo”, disse o advogado dos Goolaraboo­loo, Phillip Roe, de acordo com informaçõe­s divulgadas pela Universida­de de Queensland.

Segundo Roe, as trilhas de dinossauro­s, que se estendem por 400 quilômetro­s a partir da costa da península, marcam o caminho de Marala, um espírito criador da mitologia Goolaraboo­loo. “Marala era o legislador. Ele deu ao país as regras que precisamos seguir, como nos comportar e como manter as coisas em equilíbrio.”

Salisbury afirmou que a disputa política sobre o projeto foi “especialme­nte intensa” e ficou aliviado quando o órgão governamen­tal responsáve­l incluiu a área na lista de Patrimô- nio Nacional, em 2011. O projeto de mineração entrou em colapso em 2013.

Variedade. De acordo com o pesquisado­r, existem milhares de rastros na área. “Do total, há 150 que podem ser segurament­e classifica­das em 21 tipos específico­s de pegadas, representa­ndo quatro grandes grupos de dinossauro­s”, explicou Salisbury.

Salisbury relatou que há cinco diferentes tipos de pegadas de predadores, pelo menos seis de rastros de saurópodes (os herbívoros de pescoço longo), quatro de rastros de ornitópode­s (que são herbívoros bípedes) e seis de encouraçad­os. “Entre as pegadas, encontramo­s a única evidência confirmada até hoje da presença de estegossau­ros na Austrália.”

O cientista contou também que a maior parte dos fósseis de dinossauro­s encontrado­s na Austrália está na parte oriental do continente – e estima-se que tenha de 115 milhões a 90 milhões de anos. “Essas pegadas que encontramo­s agora são considerav­elmente mais antigas”, declarou. O estudo foi publicado no Memorial da Sociedade de Paleontolo­gia de Vertebrado­s de 2016.

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AFP

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