O Estado de S. Paulo

Novo presidente da Vale tem perfil discreto e direto

Executivo participou da compra da rede Ipiranga, no Grupo Ultra, e finalizou a profission­alização da gestão da Klabin

- Fernando Scheller

Descrito como um executivo discreto e de posicionam­ento bastante direto em negociaçõe­s, Fabio Schvartsma­n chega à presidênci­a da mineradora Vale após ter permanecid­o seis anos à frente da fabricante de papel e celulose Klabin. Com 40 anos de carreira, Schvartsma­n, 63 anos, teve passagens por outros ícones nacionais, como Duratex e Grupo Ultra. “Ele não é ‘político’ na relação pessoal, é mais duro e objetivo”, descreveu uma fonte que já negociou diretament­e com o novo presidente da Vale.

Depois de trabalhar na Duratex no início de sua carreira, a ascensão do engenheiro formado pela Poli-USP no mundo dos negócios se deu durante a passagem de 22 anos pelo Grupo Ultra, hoje dono de negócios como a distribuid­ora de gás Ultragás, a rede de postos Ipiranga, a química Oxiteno e a rede de farmácias Extrafarma. Atualmente, o Ultra fatura cerca de R$ 76 bilhões ao ano.

No Ultra, Schvartsma­n parti- cipou de negociaçõe­s importante­s, que ajudaram a dar ao grupo o porte que ele tem hoje, lembraram fontes de mercado ao Estado. Entre elas figurou a compra da rede de postos de combustíve­is Ipiranga, em março de 2007, em parceria com a Petrobrás e a Braskem.

Anos antes, dentro do Ultra, foi um dos defensores da compra da petroquími­ca Copene, mas o negócio acabou ficando nas mãos da Odebrecht, dando origem à Braskem, companhia considerad­a o braço mais saudável do conglomera­do.

Apesar de ter participad­o de negociaçõe­s importante­s e de ter sido diretor financeiro e de relações com investidor­es, a saída de Schvartsma­n do Ultra se deu em meio à disputa pelo comando do negócio, no fim de 2007. Depois de mais de duas décadas, ele esperava ser elevado à presidênci­a da Ultrapar,

Tamanho do desafio contam pessoas que trabalhara­m de forma próxima ao executivo na época.

Schvartsma­n era cotado para assumir a presidênci­a da Ultrapar, substituin­do Paulo Cunha. O escolhido acabou sendo Pedro Wongtschow­ski, que ficou no cargo até 2012, quando foi nomeado o atual CEO, Thilo Mannhardt.

Após deixar o Ultra, Schvartsma­n assumiu em 2008 o comando do grupo San Antonio, onde ficou até 2010. O San Antonio foi um dos maiores fracassos da história da gestora GP Investment­s. Em 2014, a GP registrou a perda total do investimen­to no negócio de serviços para o setor de óleo e gás – apenas a compra de 17,7% da operação custou US$ 135 milhões, em 2008.

O novo presidente da Vale deixou a San Antonio para assumir o comando da Klabin em fevereiro de 2011. Ele foi o primeiro executivo que não pertencia às famílias controlado­ras a comandar o grupo, e chegou para finalizar o processo de profission­alização da companhia de papel e celulose.

Na Klabin, também teve o desafio de colocar em pé o projeto Puma, o maior investimen­to já realizado pela empresa. Inaugurado em junho de 2016, em Ortigueira (PR), teve orçamento de R$ 8,5 bilhões e se diferen- cia por ter produção híbrida, que permite a produção da celulose do tipo “fluff”, usada em fraldas, por exemplo.

A soma das experiênci­as de Schvartsma­n “vai fazer muito bem” à Vale, afirma Pércio de Souza, sócio da butique de investimen­tos Estáter: “O Fábio é um dos raros executivos que alia as capacidade­s de identifica­r problemas, implementa­r soluções e liderar times”.

Desafios. Uma das tarefas previstas do novo presidente da Vale será a reorganiza­ção societária. A empresa quer acabar com a Valepar para transforma­r a mineradora numa companhia sem controlado­r até 2020, o que acarretará mudanças no conselho de administra­ção e na estrutura de suas ações em Bolsa. Schvartsma­n enfrentou desafio semelhante na Klabin, incluindo a transforma­ção de parte das ações em “units”.

Uma outra fonte lembrou que existem semelhança­s entre os negócios de celulose e de mineração. Assim como o minério, a celulose é um produto cotado no mercado internacio­nal e voltado para a exportação.

Outro ponto comum às duas atividades é o risco ambiental. No setor de papel e celulose, há o impacto das florestas e da produção. Na Vale, a questão ambiental é terreno bastante sensível, por causa do rompimento da barragem da Samarco – joint venture da brasileira com a BHP Billiton –, que rendeu bilhões de reais em multas à subsidiári­a e resultou na morte de 19 pessoas no fim de 2015.

Apesar de ver paralelos entre Klabin e Vale, a fonte lembrou que o desafio na mineradora é “infinitame­nte maior” não apenas pelo porte da companhia, mas também pela presença de fundos de pensão no negócio.

A Klabin afirmou ontem, em nota, que a decisão sobre a substituiç­ão de Schvartsma­n ainda não está tomada. O executivo não respondeu ao contato feito pela reportagem.

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ALEX SILVA/ESTADÃO-11/6/2013 Novo cargo. Fabio Schvartsma­n, de 63 anos, substituir­á Murilo Ferreira à frente da Vale

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