O Estado de S. Paulo

Terceiriza­ção mais ‘dura’ vai ser sancionada

Após pressão de empresário­s, Temer decidiu não esperar a votação de regras mais brandas

- Vera Rosa Erich Decat

O presidente Michel Temer vai sancionar o projeto de lei que regulament­a a terceiriza- ção no País. A proposta que foi aprovada pela Câmara, na última quarta-feira, é considerad­a muito dura. Temer estava disposto a esperar a aprovação de um projeto mais brando, no Senado, mas desistiu por pressão de empresário­s e deputados.

O núcleo político do governo quer que Temer sancione o projeto sem vetos. O presidente pode, porém, retirar alguns trechos do texto, com o objetivo de abrir caminho para a inclusão das chamadas “salvaguard­as” aos trabalhado­res.

O plano é que essas garantias sejam incorporad­as por meio da reforma trabalhist­a, que tramita na Comissão Especial da Câmara. Entre as propostas que podem ser incluídas está a que prevê maior responsabi­lidade de empresas contratant­es em relação aos pagamentos dos direitos dos terceiriza­dos.

O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, afirmou que o projeto aprovado pela Câmara servirá como “ponto de partida” para regulament­ar as mudanças. “A ideia é incorporar ao projeto novas propostas da reforma trabalhist­a”, disse ele, sem dar detalhes sobre as mudanças. As garantias serão encaixadas no relatório do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN).

O texto aprovado pela Câmara traz apenas três “salvaguard­as” genéricas: diz que os terceiriza­dos não poderão realizar

Greve As centrais sindicais estão convocando uma paralisaçã­o geral contra o projeto de terceiriza­ção e as reformas trabalhist­a e da Previdênci­a para o próximo dia 28 de abril. serviços diferentes daqueles para os quais foram contratado­s, que terão as mesmas condições de segurança, higiene e salubridad­e dos empregados da contratant­e e que estarão sob as regras de fiscalizaç­ão da Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT).

Interlocut­ores de Temer disseram ao Estado não haver tempo hábil para o Senado aprovar um projeto “mais light”, em 15 dias, prazo necessário para que o presidente sancione ou vete o texto da Câmara. O relator no Senado é Paulo Paim (PT-RS), que prometeu incluir mais de 50 salvaguard­as na proposta.

A ideia inicial de Temer era mesclar os dois projetos de terceiriza­ção, retirando trechos considerad­os excessivos para incluir mais proteção ao trabalhado­r. Auxiliares do presiden- te avaliam, porém, que a estratégia poderia trazer “inseguranç­a jurídica” às empresas.

O projeto a ser sancionado por Temer autoriza a terceiriza­ção até na atividade-fim. Atualmente, jurisprudê­ncia do Tribunal Superior do Trabalho proíbe adotar esse tipo de medida. Um banco, por exemplo, não pode terceiriza­r os atendentes do caixa.

A base aliada do Planalto se dividiu na votação, que foi apertada, e até deputados do PMDB e do PSDB se posicionar­am contra o governo. As traições preocupara­m Temer, que precisa de muito mais apoio para aprovar a reforma da Previdênci­a. Por ser uma PEC, a reforma precisa de no mínimo 308 votos na Câmara e 49 no Senado, em duas votações. /

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