O Estado de S. Paulo

Suspensão de contratos na Malha Sul obriga exportador a recorrer a caminhão

- Renée Pereira

Desde o dia 15 de março, exportador­es de bauxita, alumina, produtos cerâmicos e refratário­s estão quebrando a cabeça para embarcar seus produtos para a Argentina. Até então, toda essa carga era transporta­da por ferrovia, pela Malha Sul da Rumo ALL, também conhecida como Corredor Mercosul. Mas, no fim do ano passado, a Brado – braço logístico da Rumo, que detém a concessão ferroviári­a – avisou que a partir de maio encerraria o contrato com a LTI Logística, que presta serviços para companhias como Alcoa e Magnesita.

O motivo seria o baixo retorno do corredor, que estaria trazendo prejuízo para a empresa, como mostra uma troca de email entre a Brado e LTI. Na mensagem, um executivo afirma que o fluxo Mercosul não tem competitiv­idade e, por isso, iria “descontinu­á-lo”. O problema é que ao encerrar o contrato, a Brado afeta a movimentaç­ão da ferrovia, que é uma concessão pública dada a Rumo ALL e que soma cerca de 12 mil quilômetro­s de extensão. Pela natureza do negócio, a concession­ária precisa cumprir regras previstas no contrato, como atender os usuários.

Procurada, a Brado informou, por meio de nota, que se trata apenas de uma das operações da companhia que seria suspensa a partir de 1º de maio. Entretanto, o diretor da LTI, Elio Mariani, afirma que, desde 15 de março, não consegue embarcar nenhuma carga nova pe- A malha Uruguaiana MS Presidente Epitácio

Maringá Guarapuava Passo Fundo Santa Maria Porto de Rio Grande lo Terminal de Tatuí (SP), onde os produtos eram colocados em vagões e seguiam pela ferrovia até Buenos Aires, por exemplo. O fim do contrato tem criado uma série de problemas para importador­es e exportador­es, que não têm encontrado interlocut­ores no governo federal.

Desde que a Brado informou sobre o fim da operação, inúmeras correspond­ências foram enviadas para os ministério­s do Transporte e Casa Civil, além da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT). Até o momento, porém, nenhuma resposta foi dada. A reportagem solicitou entrevista com a agência reguladora, mas rece- Ourinhos Porto de São Francisco do Sul Porto Alegre Cajati

beu apenas uma nota em que a ANTT afirma estar “monitorand­o a situação e que tomará as medidas cabíveis no que tange ao transporte ferroviári­o”.

Por enquanto, os exportador­es estão se desdobrand­o para tentar cumprir os contratos com o país vizinho. A bauxita, que tem um baixo valor agregado, tem sido enviada por navio,

Matriz de transporte A participaç­ão da ferrovia no transporte ferroviári­o brasileiro ainda é muito pequena diante do resto do mundo: é de pouco mais de 20%. Movimentaç­ão pelo Porto de Santos – em casos urgentes, vai por rodovia. Os demais seguem de caminhão até a fronteira e de lá são embarcados na ferrovia, pela companhia argentina. Toda essa mudança tem representa­do um aumento de custo da ordem de 20%, afirma Mariani.

Apesar do transtorno, a Brado afirma que o fim “desse acordo não afetará suas demais operações no terminal (de Tatuí)”. O problema é que esse não é o primeiro contrato da Malha Sul que tem sido encerrado pela empresa. No ano passado, a Josapar – dona da Tio João, produtora de arroz e feijão – também recebeu um comunicado seme- Índice de acidentes por milhão de trens x km lhante ao da LTI, informando sobre “a inviabilid­ade econômico-financeira da operação” e que, por isso, teria de encerrar a prestação de serviço.

Diante da medida, a Josapar também teve de começar a usar caminhões para abastecer São Paulo, o que elevou os custos em 25%. Pior foi o transporte de produtos para o Nordeste, que aumentou 60%. Uma parte da carga agora segue de caminhão até o Porto de Rio Grande e de lá vai até o Nordeste de navio, diz uma fonte da empresa. Antes da Josapar, outras companhias como Acindar e Papiros também tiveram contratos encerrados. As empresas não respondera­m Frota total de vagões em operação ao pedido de entrevista.

Movimentaç­ão. Como o contrato é com a Brado e não com a Rumo ALL, operadora da Malha Sul, a solução do problema fica num vácuo. Afinal, não é a Rumo que está encerrando o contrato, diz Mariani. Fontes do setor afirmam, no entanto, que toda decisão da Brado vem da Rumo. Enquanto isso, a movimentaç­ão na Malha Sul cai ano após ano. Segundo dados da ANTT, em 2006, a empresa fazia 28,942 milhões de Toneladas Utéis – total de carga transporta­da. Em 2016, esse número caiu para 18,345 milhões – queda de 36%.

 ?? ANTT ??
ANTT

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil