O Estado de S. Paulo

The Police à brasileira

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Orfeu e Eurídice, mortos, mas ainda juntos. A história de um amor que sobreviveu até à própria finitude humana deixou a Grécia e foi reviver em pleno carnaval carioca, entre morros, favelas e tamborins pela lente de Marcel Camus (o irmão do escritor Albert), em 1959. Orfeu Negro ganhou a Palma de Ouro, o prêmio mais importante do festival de cinema de Cannes. Levou também o Oscar de melhor filme estrangeir­o – embora filmado no Brasil e com a participaç­ão de atores locais, a estatueta foi para a França. Então com 15 anos, Andy Summers não imaginava que se tornaria guitarrist­a. Não passava pela sua cabeça integrar o trio The Police e, com seu estilo que fundia bossa, reggae, new wave, influencia­ria uma geração de instrument­istas que nasceriam a seguir.

Afinal, Summers, hoje com 74 anos, tinha 15 na época. E, aos 15, sabemos bem pouco da vida. Ele tinha essa certeza, entre algumas outras possíveis na idade. Ao deixar uma sala de cinema, após assistir a Orfeu Negro, sabia que queria conhecer o Rio de Janeiro, cenário de fundo do filme de Camus que tanto o impression­ou. “Acho que foi assim que começou a minha história de amor com o Rio”, ele conta, ao telefone, da casa onde mora, em Los Angeles.

Inglês da fria Lancashire, Estado que fica no noroeste da Inglaterra, Summers deixou a ilha britânica e se mudou em busca dos ares mais quentes da Califórnia. Mesmo calor que ele busca em suas visitas ao Rio de Janeiro. O número exato de vezes em que esteve na cidade, ele mesmo não sabe. Calcula ter vindo de 35 a 40 vezes. E lá está, mais uma vez. Desta vez, ele circulará ainda por São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio e Teresópoli­s com a turnê Call the Police, um manifesto em homenagem à banda que Summers integrou de 1977 a 1986 – e reencontro­u outras vezes em tours de reunião e despedida.

A apresentaç­ão em São Paulo é a primeira delas. O show será realizado no Tom Brasil, localizado na zona sul da cidade, a partir das 22h desta sexta-feira, 31. Para acompanhál­o no palco, Summers terá o Barão Vermelho Rodrigo Santos no baixo e voz, o posto de Sting, e João Barone, do Paralamas do Sucesso, que fará as vezes de Stewart Copeland no co- mando das baquetas.

São, ambos, Santos e Barone, fãs de The Police. E, invariavel­mente, as duas bandas deles, Barão e Paralamas, beberam da fonte de Sting, Summer e Copeland, às vezes de maneira discreta, noutras, escancaran­do a influência do reggae rock sem qualquer restrição. As duas bandas brasileira­s são fruto do BRock, movimento do rock brasileiro que estourou a bolha dos inferninho­s e chegou às rádios de todo o País depois do Rock in Rio de 1985. São de uma geração criada diretament­e na sequência do estouro do The Police, que, em 1983, já tinha ganho s e i s g r a mof o n e s d o Grammy e não saíam das rádios com Every Breath You Take, Don’t Stand So Close to Me, entre outras tocadas à exaustão. Summers conhece Santos por intermédio do empresário que agencia os dois, brasileiro e inglês.

“Não deixa de ser lisonjeiro saber que a banda influencio­u outras bandas. Que a influência atravessou o ( oceano) Atlântico. Eles ( Santos e Barone) são ótimos músicos e pessoas incríveis”, elogiou o guitarrist­a. No domingo, 26, Summers chegou ao Rio de Janeiro. Na segunda, 27, ele se reuniu com o restante do trio para dar início aos ensaios em um estúdio no Jardim Botânico. Barone e Santos já vinham ensaiando antes da chegada do ex-The Police. Summers, bom, não precisa praticar tanto assim o repertório que ele mesmo ajudou a criar. Os três, juntos, terão somente três tardes de ensaio até a estreia da turnê, que passa também por Ciudad del Este, no Paraguai.

Na corrida contra o tempo, para evitar perder preciosos minutos no estúdio, Summers preferiu que a foto que estampa esta página do fosse feita já no espaço para ensaio e um pedido para que nada atrasasse. “Será apertado”, avalia Summers. “Vou revisar algumas das músicas no fim de semana. Vai que surjam uma ou outra que não estou esperando?”, brinca.

O guitarrist­a garante, contudo, que não haverá espaço para canções desconheci­as ou mais sombrias da obra criada por ele, Sting e Stewart Copeland. “Um show como esse, é preciso tocar os hits”, ele diz. “Para mim, é um show estra-

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MAURO PIMENTEL/ESTADÃO No Rio. Santos, Barone e Summers: muitos hits no tributo do trio ao The Police

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