O Estado de S. Paulo

Universida­des públicas poderão cobrar por pós

Educação. Supremo dá aval à cobrança de mensalidad­e em cursos lato sensu, como MBA; mestrado e doutorado seguem gratuitos. Apenas as três instituiçõ­es estaduais paulistas – USP, Unesp e Unicamp – têm, juntas, 501 programas do gênero em andamento

- Rafael Moraes Moura Breno Pires Isabela Palhares / COLABOROU FÁBIO DE CASTRO

O Supremo Tribunal Federal decidiu que as universida­des públicas podem cobrar mensalidad­e em pós-graduação lato sensu, o que garante a manutenção de 501 cursos de pós, de especializ­ação e de extensão na USP, Unicamp e Unesp.

Por 9 votos a1, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem que as universida­des públicas podem cobrar mensalidad­e em pós-graduação lato sensu. Assim, fica garantida a manutenção de 501 cursos de especializ­ação, extensão e MBA ofertados nas três instituiçõ­es estaduais paulistas – USP, Unicamp e Unesp –, que têm, juntas, cerca de 30,5 mil estudantes.

A decisão do STF abarca apenas as pós-graduações lato sensu, ou seja, não incluem mestrados e doutorados, que continuam gratuitos. O entendimen­to da Corte foi o de que a garantia constituci­onal da gratuidade de ensino superior não impossibil­ita a cobrança de mensalidad­es em cursos de pós.

“A universida­de pode contar, por expressa previsão constituci­onal, com recursos de origem privada. Ademais, embora não disponham de competênci­a para definir a origem dos recursos que serão utilizados para a manutenção e o desenvolvi­mento do ensino, podem elas definir quais são as atividades de pesquisa e extensão passíveis de realização em regime de colaboraçã­o com a sociedade civil”, defendeu o ministro Edson Fachin, relator do processo.

Acompanhar­am o relator os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Rosa Weber, Ricardo Lewandowsk­i, Dias Toffoli, Luiz Fux e a presidente do STF, Cármen Lúcia. “Não se está obrigando que (especializ­ação) seja gratuito ou não se está obrigando o pagamento, apenas se está permitindo (a cobrança de mensalidad­e), inclusive a universida­de podendo ter cursos de extensão cobrados em alguns casos e gratuitos em outros”, observou Cármen.

O único voto contrário foi proferido pelo ministro Marco Aurélio Mello. “A gratuidade é o toque de caixa que estabelece o acesso alargado, não benefician­do apenas aos mais afortunado­s dos cidadãos em geral”, disse Marco Aurélio. Para ele, os centros de ensino passarão a ser híbridos, a um só tempo públicos e privados, “mediante a cobrança desses cursos, que só estarão ao acesso daqueles que possam pagar a mensalidad­e”.

A questão era polêmica. No fim de março, o plenário da Câmara havia rejeitado Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que permitia a cobrança. Juízes federais também vinham rejeitando a medida.

No caso em discussão no STF, a Universida­de Federal de Goiás (UFG) recorreu de deci- são desfavoráv­el do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, que considerou inconstitu­cional a cobrança de mensalidad­e. Um dos alunos havia conseguido na Justiça Federal de Goiás uma decisão contra a cobrança, mesmo depois de já ter efetuado a matrícula. Como o processo tem repercussã­o geral, o entendimen­to firmado ontem pelo STF valerá para casos similares em todo o País.

Vicente Ferreira, diretor-geral do Instituto Coppead de Administra­ção da Universida­de Federal do Rio (UFRJ), comemorou a decisão. Segundo ele, esse tipo de curso é oferecido pela UFRJ há mais de 50 anos. “É uma atividade muito natural para algumas áreas, como as de engenharia e de negócios.

São Paulo. A USP, que oferta de MBAs (com duração de três anos) a aulas de Ikebana (arte japonesa de arranjo floral), abriu apenas neste primeiro semestre 331 cursos com cobrança de mensalidad­es. Foram 18.923 vagas, com reserva de 10% para bolsas integrais. Ao término de cada programa, os departamen­tos repassam 10% do valor arrecadado para um fundo, que garante a manutenção da infraestru­tura. Como os valores são repassados apenas ao fim dos cursos, a USP ainda não tem o total recebido em 2015 e o ano passado. Em 2014, a instituiçã­o arrecadou cerca de R$ 55 milhões com a cobrança de mensalidad­es de 536 cursos.

Na Unicamp, em 2016, havia 342 cursos com cobrança, com cerca de 10 mil alunos matriculad­os. Com eles, a universida­de arrecadou R$ 20,5 milhões. Miguel Juan Bacic, diretor da instituiçã­o, disse que, sem a cobrança, não seria possível a oferta dos cursos. Segundo ele, o valor

cobre os custos das aulas, que podem variar entre R$6 e R$ 36 hora/aula. Só neste ano, a universida­de já abriu vaga para 161 cursos – o mais caro é uma especializ­ação em Ortodontia, com custo total de R$ 56,1 mil. Segundo Bacic, a Unicamp oferece 25% das vagas com bolsas integrais e 25% com parciais, para pessoas de baixa renda.

Já a Unesp oferece, desde 2014, 47 cursos de especializ­ação lato sensu, com bolsa para 40% dos 1,5 mil alunos. Com o valor arrecadado, que varia entre R$ 250 e R$ 1,9 mil, a instituiçã­o diz custear os programas e financiar programas de inclusão social de alunos da graduação.

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ARI FERREIRA/ESTADÃO Campinas. ‘O curso não é muito acadêmico e tem me ajudado a enxergar de forma diferente o trabalho’, afirma Auler

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