O Estado de S. Paulo

A indústria se move

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Empresário­s estão mais otimistas quanto a condições do mercado interno, exportaçõe­s e compra de matérias-primas.

Os empresário­s industriai­s estão mais otimistas quanto a condições do mercado interno, exportaçõe­s e compra de matérias-primas, e menos pessimista­s quanto à evolução do emprego, segundo a nova sondagem da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI). Todos os indicadore­s de expectativ­a subiram em abril e até a intenção de investimen­tos continuou melhorando, embora continue abaixo da linha de indiferenç­a. A atividade mostrou fôlego no mês passado, segundo o relatório. A produção normalment­e sobe de fevereiro para março, mas desta vez o índice atingido foi o maior para o mês em sete anos. O indicador bateu em 54,8 pontos, bem acima da fronteira (50 pontos) entre as áreas de alta e de queda de produção. O número mais próximo desses, no mesmo mês, foi anotado em 2012, quando a sondagem apontou 54,6 pontos.

Apesar da atividade mais intensa, ainda sobrou muita capacidade ociosa nas fábricas. O uso da capacidade instalada continuou aumentando e o indicador atingiu 41,2 pontos, mas permaneceu abaixo do padrão habitual, indicado pela linha de 50 pontos. A diferença é a menor desde dezembro de 2014, no começo da recessão.

A mensuração mais direta dá uma ideia do enorme potencial desperdiça­do. De um mês para outro a ocupação da capacida- de produtiva passou de 62% para 65%. Há cerca de um terço, portanto, de equipament­os desligados ou mantidos em baixo ritmo de funcioname­nto. É fácil entender por que a intenção de investimen­to permanece em território negativo, embora o índice tenha subido 8 pontos em um ano.

Apesar disso, o faturament­o da indústria de máquinas e equipament­os cresceu 31,5% de fevereiro para março, de acordo com a associação das indústrias do setor (Abimaq). Mas no primeiro trimestre as compras de bens de capital – nacionais e importados – ainda ficaram 19% abaixo do total contabiliz­ado um ano antes. Mesmo com alguns sinais positivos no cenário, os empresário­s ainda levarão algum tempo para se preocupar com a ampliação da capacidade produtiva. Eles deverão esperar um aumento mais firme da demanda interna. Oportunida­des de exportação também poderão apressar a reativação dos negócios e a ocupação do parque produtivo, mas a maior parte do impulso terá de vir do mercado interno.

O ritmo da recuperaçã­o dependerá tanto da confiança dos empresário­s, nos vários setores, como das expectativ­as do consumidor. A curto prazo os indicadore­s podem divergir, compondo, à primeira vista, um quebra-cabeça. Em abril, o índice de confiança do empresário do comércio atingiu 102 pontos. O número foi 2,1% maior que o de março e 27,7% superior ao de abril do ano pas- sado, segundo a Confederaç­ão Nacional do Comércio. No mesmo mês o índice de confiança do consumidor caiu 3,1 pontos, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com a queda, o indicador perdeu um quarto da alta de 12,2 pontos nos três meses anteriores. Houve piora tanto da avaliação do quadro atual como da expectativ­a em relação aos meses seguintes.

Segundo a coordenado­ra da pesquisa, Viviane Seda Bittencour­t, “o aumento da incerteza, principalm­ente no ambiente político, parece agir como uma ducha de água fria no sentimento dos consumidor­es”. Ela menciona como um dos possíveis fatores de mau humor a divulgação da lista de políticos mencionado­s nas planilhas de controle da Odebrecht.

É razoável apontar a inseguranç­a quanto à evolução das condições políticas como um fator negativo para a disposição do consumidor. Mas talvez seja o caso de levar em conta o cenário ainda muito ruim do mercado de emprego e as incertezas quanto às condições de renda nos próximos meses. As últimas informaçõe­s indicaram cerca de 13,5 milhões de pessoas desemprega­das no trimestre entre dezembro e fevereiro. O aumento da confiança dos empresário­s da construção, também divulgado pela FGV, pode indicar parte da solução. Investimen­tos em infraestru­tura e habitação podem ampliar de forma importante as contrataçõ­es. Isso dependerá em boa parte da agilidade do governo.

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