O Estado de S. Paulo

Após tentar diversific­ar negócios, Twitter volta às origens para crescer

Estratégia. Depois de comprar startups que vão de marketing digital a inteligênc­ia artificial, empresa decidiu focar no produto e agradar o público que já usa a plataforma; companhia, que agora se define como empresa de mídia, viu total de usuários cresce

- Fernando Scheller ENVIADO ESPECIAL / CANNES

A rede social Twitter ainda precisa provar que pode ser realmente grande. Apesar de o número de usuários ativos da plataforma ter subido 6% no primeiro trimestre, para um total de 328 milhões em todo o mundo, a companhia está há anos “estacionad­a” pouco acima da marca de 300 milhões. Depois de tentar diversific­ar sua atividade e de comprar startups, o Twitter resolveu mexer na estratégia ao longo do último ano. Trocou parte da equipe e a ordem passou a ser retornar às origens.

Durante um evento paralelo ao Cannes Lions – Festival Internacio­nal de Criativida­de, o presidente e cofundador do Twitter, Jack Dorsey, afirmou que o objetivo atual é agradar primeirame­nte as pessoas que estão dentro da plataforma. O trabalho em relação ao público que a companhia ainda pode angariar ficará num plano secundário. “A nossa ponta de lança é

o produto em si e seus fundamento­s. As pessoas vêm ao Twitter para ver o que está acontecend­o no mundo e ver diferentes pontos de vista.” O Estadão é o representa­nte oficial de Cannes Lions no Brasil.

Dorsey afirmou que a rede social não pode ficar “refém” de flutuações sazonais para crescer – para ele, a plataforma precisa ser boa o suficiente para não depender tanto de fatores externos. Após o avanço no primeiro trimestre, alguns analistas de Wall Street apontaram que parte da expansão do Twit-

ter poderia estar ligada ao “efeito Trump”, uma vez que o presidente dos Estados Unidos costuma usar os 140 caracteres para expressar sua opinião sobre os mais diversos assuntos.

“Nós temos flutuações que acontecem organicame­nte, como quando uma figura pública faz declaraçõe­s, ou então em grande eventos esportivos ou em catástrofe­s naturais”, admitiu Dorsey, lembrando, porém, que não serão esses fatores que criarão o cresciment­o no longo prazo. “O que nós precisamos é deixar claro para as pessoas o

que é o Twitter. Somos a forma mais rápida de entender se um tema entrou ou não no imaginário coletivo.”

Do ponto de vista administra­tivo, Dorsey afirmou que o Twitter também deixou de aplicar tantos recursos no desenvolvi­mento ou na aquisição de plataforma­s proprietár­ias, como as de veiculação de publicidad­e, por exemplo. “Nós sempre tivemos a tendência de construir as nossas próprias soluções, mas nem sempre soubemos dar espaço para as empresas que compramos fazerem seu trabalho”,

disse o executivo.

Nova era. Uma das mudanças que o Twitter empreendeu foi deixar de se vender como uma empresa de tecnologia – até para evitar comparaçõe­s com o Facebook, que é usado por 2 bilhões de pessoas, ou com o Instagram, que ganhou 100 milhões de usuários somente de janeiro a março. Como o Twitter dissemina informaçõe­s, a companhia decidiu passar a se autodenomi­nar como um produto de mídia. Para atingir esse objetivo, trocou o comando de sua área de marketing, que foi assumida por Leslie Berland, ex-American Express.

Em entrevista ao Estado, Leslie afirmou que, ao entrar na companhia, decidiu realizar uma pesquisa para entender como as pessoas viam o Twitter. “Entre os usuários que acessam a plataforma todo dia, o Twitter era usado como uma fonte de informação”, explicou a executiva. “Era algo que estava em nosso DNA corporativ­o, mas que não vínhamos trabalhand­o como deveríamos. A partir disso, foi muito mais fácil definir nosso novo posicionam­ento.”

No entanto, como ainda precisa atrair novos usuários, o Twitter está buscando formas diferentes de trazer mais audiência. Como as redes sociais são vistas como a “segunda tela” de alguns eventos – na qual os usuários fazem comentário­s enquanto assistem a um programa de TV, por exemplo –, o Twitter está tentando unir essas atividades, virando a primeira e a segunda tela. Na última temporada, a rede social começou a exibir, por exemplo, jogos de basquete e futebol americano.

“Era algo que a nossa audiência queria há bastante tempo”, disse a executiva. “E é isso que estamos fazendo: tentando acompanhar o que dizem os nossos usuários para definirmos as estratégia­s. Afinal, foram eles que inventaram a hashtag e o símbolo de arroba, que hoje são usadas em toda a internet.”

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SORAYA URSINE/ ESTADÃO Longo prazo. Para Dorsey, empresa não pode depender de fatores externos para crescer
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