O Estado de S. Paulo

QUATRO PERGUNTAS PARA...

Daniel Forte, coordenado­r do curso de pós-graduação em Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês

- / C.T.

1.

O que é o cuidado paliativo? Muitas vezes as pessoas ficam com ideia de que cuidado paliativo é para quem está morrendo. Essa definição é literalmen­te do século passado. Cuidado paliativo é competênci­a para cuidar de sofrimento. E, quando amplia o olhar, fica mais ainda necessário pensar em criança. Ela é muito vulnerável e o sofrimento é grande. É muito mais difícil para ela lidar com profission­ais que sejam exclusivam­ente técnicos e surdos ao sofrimento.

2.

O que o médico paliativis­ta precisa saber? Cuidado paliativo é boa práti- ca. Cuidar direito da dor, dos sintomas físicos da dor. Mas também dos sintomas psíquicos e emocionais – medo, esperança, ansiedade e depressão. E dos temas sociais do sofrimento, que é o apoio à família, amparo aos pais. É preciso ainda estar atento ao sofrimento espiritual. Proteger o que é sagrado para as pessoas e facilitar com que elas se conectem durante o período da doença.

3.

Como contar para uma criança que ela está morrendo? Fingir que o problema não existe é aliviar a angústia do cuidador e aumentar a angústia do paciente. Crianças têm uma sabedoria que desmonta a racionalid­ade dos adultos. Elas percebem antes, perguntam de forma direta. Quando acontece é um aprendizad­o de vida muito grande para todos os envolvidos – para o médico, para o paciente e para a família. 4.

O que um médico nunca deve dizer? “Não tenho mais nada para fazer”. É uma frase histórica, que até o século 20 norteou a ética médica. A bem da verdade, talvez não tenha tratamento para a doença, mas tem o que fazer pela pessoa. É obrigação médica cuidar do conforto do seu paciente.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil