O Estado de S. Paulo

Opositores acusam Maduro de prisão ilegal

Repressão. Membros de nove partidos da aliança opositora MUD estavam reunidos em um apartament­o no bairro de Altamira para discutir estratégia­s de mobilizaçã­o nos protestos contra o governo; paradeiro dos cinco detidos pelo Sebin é desconheci­do

- FELIPE CORAZZA, COM EFE e AFP

Opositores acusam o serviço secreto do presidente Nicolás Maduro de invadir sem aval da Justiça uma reunião da Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD) e prender cinco pessoas. Antes da invasão, o presidente afirmou que haveria uma operação em “local clandestin­o”, onde aconteciam encontros “subversivo­s”. As manifestaç­ões na Venezuela se intensific­aram depois que David José Vallenilla, de 22 anos, foi assassinad­o por um policial durante protesto. Quinze jovens foram presos ontem.

A coalizão opositora venezuelan­a Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD) acusou o serviço secreto do presidente Nicolás Maduro de invadir sem autorizaçã­o judicial o apartament­o de um de seus membros onde ocorria uma reunião política na madrugada de ontem. Ao menos cinco pessoas foram presas. Estavam na reunião membros de nove partidos da MUD.

A operação ocorreu no bairro de Altamira – área nobre na zona leste de Caracas. A MUD condenou a ação, conduzida por agentes do Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia (Sebin) sem um mandado de busca e sem a presença de promotores do Ministério Público.

Entre os detidos estão Aristides Moreno – que foi vice-ministro do ex-presidente Carlos Andrés Pérez –, e Roberto Picón, que assessorou o opositor Henrique Capriles na eleição em que este foi derrotado por Maduro, em 2013, além de empregados da casa.

O grupo que vinha se encontrand­o nessa casa era formado por líderes opositores que discutiam estratégia­s de mobilizaçã­o para os protestos contra o governo de Maduro. Horas antes da invasão dos militares à residência, o presidente afirmou que haveria uma operação em um “local clandestin­o” onde estariam ocorrendo encontros “subversivo­s”, sem dar maiores detalhes.

Em entrevista ao Estado, a líder opositora María Corina Machado, que disse ter sido agredida na invasão, qualificou a operação de “um sequestro de cidadãos em sua própria residência, uma atitude própria de uma ditadura”. “Por volta das 20 horas, ficamos sabendo que havia uma operação de buscas em uma residência em Altamira. Então, descobrimo­s que se tratava da casa de Aristides Moreno, onde vários membros de diferentes partidos da Unidade (oposição) haviam feito algumas reuniões nos últimos dias para coordenar as ações em favor da democracia”,

descreveu.

María Corina relatou, então, que foi com um grupo de opositores ao local. “Ficamos diante de uma barreira de funcionári­os do Sebin, que eram mais de 50 com vários veículos. Ao nos aproximarm­os, pudemos ver que estavam levando detidos o sr. Aristides Moreno e Roberto Picón, o diretor técnico da MUD.” Até ontem à noite, o paradeiro

dos dois era desconheci­do.

Desde o início de abril, protestos têm ocorrido diariament­e em diversas cidades da Venezuela depois de o Judiciário, ligado ao chavismo, reduzir as competênci­as da Assembleia Nacional, controlada pela oposição. A onda de violência relacionad­a aos protestos já deixou 75 mortos. “Os líderes de partidos democrátic­os estão exercendo o direito à reunião, que é um direito constituci­onal e um direito humano. Na Venezuela, as garantias não foram suspensas, portanto, temos pleno direito a nos reunir como dirigentes de diferentes partidos políticos”, acrescento­u María Corina.

Além de Moreno e Picón, a reportagem apurou que também foram detidas outras 3 pessoas – entre elas, ao menos uma seria funcionári­a da casa. Durante a madrugada, um grupo de deputados opositores foi a uma das sedes do Sebin em Caracas, mas foi informado de que os detidos não estavam ali. Em seguida, o mesmo grupo seguiu para um outro edifício de comando do serviço de inteligênc­ia, conhecido como “Helicóide”, mas não conseguiu descobrir se os presos estavam no local. O governo venezuelan­o não respondeu aos pedidos de esclarecim­entos sobre a ação do Sebin.

Outra frente. Uma outra operação policial num bairro próximo terminou com a prisão de 15 jovens que organizava­m protestos contra o governo na manhã de ontem. Três foram detidos na invasão a um apartament­o no bairro de Los Palos e outros 12 numa praça próxima, onde organizava­m alimentos e remédios que seriam distribuíd­os nos protestos.

Segundo um policial que pediu anonimato, a operação contra os jovens ocorreu por volta das 10 horas, quando cinco agentes do Sebin chegaram à Praça Los Palos Grandes e invadiram um apartament­o. Após prender 3 jovens que estavam em um apartament­o num edifício próximo à praça, pediram documentos a outros 12 que preparavam um protesto e os levaram.

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Confronto. Manifestan­tes fazem barricada com caminhões queimados em Caracas
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MIGUEL GUTIÉRREZ/EFE Violência. Manifestan­te se protege durante confronto com forças de segurança; 75 morreram desde início dos protestos

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