O Estado de S. Paulo

Conselho arquiva pedido de cassação de Aécio

Presidente do colegiado do Senado, João Alberto Souza (PMDB) alega que tucano foi vítima de ‘grande armação’ de Joesley Batista

- Julia Lindner Isabela Bonfim / COLABOROU RENAN TRUFFI

O presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA), arquivou pedido de cassação do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), investigad­o por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Souza alegou falta de provas e afirmou que conversas gravadas entre o tucano e Joesley Batista, da JBS, não o convencera­m de que houve quebra de decoro. A informação foi antecipada pela Coluna do Estadão, no estadao.com.

O presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA), arquivou ontem o pedido de cassação do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) feito com base na delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS. O peemedebis­ta, aliado do ex-presidente José Sarney, alegou que não há provas de quebra de decoro e que Aécio foi vítima de uma “grande armação”.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) vai entrar com recurso contra a decisão do presidente do Conselho de Ética, antecipada pela Coluna do Estadão, no portal estadao.com. Aécio está afastado do Senado por determinaç­ão do Supremo Tribunal Federal (STF), onde ele é investigad­o em nove inquéritos, sendo dois ligados à delação de executivos da JBS.

Mesmo afastado, o tucano atuou no início do mês para que o PSDB não deixasse a base do governo Michel Temer. A estratégia visava a evitar que o PMDB, partido de Temer e dono da maior bancada no Congresso, trabalhass­e em favor da cassação de seu mandato.

Já João Alberto foi apontado como um dos principais atores no acordo supraparti­dário costurado entre os grandes partidos do Senado para “salvar Aécio”. O objetivo seria não criar mais um precedente na Casa. Até o PT, da oposição, decidiu que não iria pressionar pela cassação do adversário político.

Em nota, a defesa de Aécio afirmou que não há crime nem quebra de decoro parlamenta­r nas denúncias. “A defesa do senador reitera a absoluta correção de sua conduta e reafirma que as afirmações feitas por criminosos confessos, em busca dos benefícios de uma delação, não devem ser tratadas como prova”, disse o comunicado.

‘Bandido’. Para João Alberto, Aécio não agiu de má-fé ao pedir R$ 2 milhões a Joesley, de acordo com a delação do empresário. Segundo o tucano, o dinheiro seria um empréstimo. Sua defesa tem dito que a negociação não envolveu “propina ou dinheiro público”.

“Esse cidadão (Joesley) era tido como um homem sério, um dos principais empresário­s do País, com trânsito em todas as áreas, e que nunca se pensou que era bandido. Aécio entrou para conversar com um bandido pensando que era uma pessoa séria”, afirmou o presidente do conselho. Ele disse que as gravações de Aécio com Joesley não o convencera­m de que houve quebra de decoro.

João Alberto afirmou ainda que aguardava a posição do Supremo sobre o pedido de prisão de Aécio feito pela Procurador­ia-Geral da República para tomar a decisão. O julgamento, porém, foi adiado. O prazo para decidir sobre o recebiment­o ou não da representa­ção no conselho acabaria na segunda-feira.

No arquivamen­to, João Alberto alega falta de provas, o que, segundo ele, já é suficiente para justificar a rejeição do pedido. “Não havendo qualquer prova documental, há claro conflito entre a palavra de um empresário interessad­o a qualquer custo em se safar da prisão e a palavra de um senador que conta com presunção de veracidade.”

‘Deboche’. Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, o arquivamen­to representa um “deboche da sociedade”. “A lamentável decisão do senador João Alberto frustra as expectativ­as de que o Congresso se paute pelos valores da transparên­cia e da legalidade. O arquivamen­to também lança dúvidas e especulaçõ­es sobre eventuais acordos que possam estar sendo feitos nas sombras.”

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JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO–26/4/2016 Decisão. Peemedebis­ta João Alberto Souza alega falta de provas para cassar senador afastado

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