O Estado de S. Paulo

Brasil teme que mais países deixem de comprar carne

Comércio. Ministro da Agricultur­a tenta se encontrar na próxima semana com autoridade­s dos EUA para conseguir a reversão da medida anunciada na quinta-feira; decisões americanas são adotadas como referência por muitos países, o que pode fechar mercados

- Fabrício de Castro

O ministro Blairo Maggi (Agricultur­a) quer agendar encontros com autoridade­s dos EUA para tentar reverter a suspensão da importação de carne bovina in natura do Brasil. Há receio de que outros países também deixem de comprar o produto. A decisão dos EUA foi motivada pela identifica­ção de abscessos na carne. A importação só será retomada após o Brasil tomar medidas que os americanos considerem satisfatór­ias.

Sob ameaça de perder mercados importante­s para a carne brasileira, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, vai tentar se encontrar, já na próxima semana, com autoridade­s norte-americanas. O receio é de que a proibição à compra de carne bovina in natura (fresca) do Brasil, anunciada na quinta-feira pelo Departamen­to de Agricultur­a americano, o USDA, provoque um efeito em cadeia e acabe fechando portas para o produto brasileiro em outros países.

A decisão americana foi motivada pela identifica­ção de abscessos na carne – espécie de cisto que, de acordo com o Ministério da Agricultur­a, é resultado de reações a componente­s da vacina contra a febre aftosa. O secretário de Agricultur­a americano, Sonny Perdue, determinou diretament­e a suspensão da compra da carne, até que o Brasil adote medidas considerad­as satisfatór­ias.

O embargo temporário dos EUA foi mais um entrave num mercado que ficou extremamen­te fragilizad­o pelas consequênc­ias da Operação Carne Fraca, deflagrada em março pela Polícia Federal. A preocupaçã­o aumenta pelo fato de os EUA servirem de referência internacio­nal. “Comemoramo­s muito, quando saiu, a equivalênc­ia sanitária com os EUA, que é referência. Com a decisão (do embargo), outros mercados ficam em alerta”, disse secretário executivo do Ministério da Agricultur­a, Eumar Novacki.

Os exportador­es brasileiro­s conseguira­m permissão para vender aos EUA em junho de 2015. O primeiro embarque, no entanto, ocorreu apenas em setembro do ano passado. O volume de exportação ainda não é relevante – representa apenas 5% da carne in natura que o Brasil vende para o exterior. Mas o mercado americano, por ser um dos mais exigentes, serve de referência para que outros países, como o Japão e a Coreia, por exemplo, decidam comprar a carne brasileira.

Para o governo, o interesse dos produtores americanos em barrar a carne brasileira também contribuiu para o bloqueio. “Depois da Carne Fraca, vários países decidiram fiscalizar 100% da carne brasileira”, disse ontem Maggi, ao comentar a suspensão, citando países como EUA, Hong Kong e China. Na semana passada, os EUA identifica­ram 11% de “inconformi­dades” na carne in natura brasileira. Em reação, o Ministério da Agricultur­a determinou a interdição de cinco das 15 plantas autorizada­s a exportar carne in natura aos EUA – neste caso, os cinco maiores frigorífic­os.

Novacki, concordou que o porcentual de inconformi­dade é expressivo. Uma das alternativ­as para resolver o problema, disse, seria o embarque de carne em cortes para os EUA. Com isso, são retirados os abscessos. “Alguns países recebem o corte inteiro, como os EUA, mas eles nunca reclamaram” disse.

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