O Estado de S. Paulo

PDG propõe dar R$ 25 mil a credor

Imóveis. Com dívida de R$ 6 bi, incorporad­ora apresentou há cerca de 20 dias plano de recuperaçã­o judicial que tem enfrentado resistênci­a; consumidor­es que compraram imóveis ainda em construção se organizam em associaçõe­s para negociar melhores condições

- Circe Bonatelli Luciana Dyniewicz

Com dívidas de R$ 6 bilhões e em recuperaçã­o judicial, incorporad­ora propôs teto de R$ 25 mil para a quitação de processos movidos por consumidor­es.

O plano de recuperaçã­o judicial da PDG, apresentad­o há cerca de 20 dias, preocupa consumidor­es, que já se organizam em associaçõe­s para tentar negociar condições melhores com a incorporad­ora. Em linhas gerais, a PDG propõe um teto de R$ 25 mil para a quitação de processos movidos por consumidor­es, com pagamento em até 12 meses, sem correção monetária ou juros.

O plano ainda tem propostas específica­s para os credores dos empreendim­entos nos quais foi instituído o patrimônio de afetação (espécie de conta corrente do empreendim­ento), regra legal que impede que os recursos de um empreendim­ento sejam usados para pagar dívidas de outros. Com uma dívida de R$ 6 bilhões, a PDG levou 512 condomínio­s para a recuperaçã­o, sendo que 37 têm patrimônio de afetação. Nesses casos, as propostas seguem as mesmas diretrizes: pagamento de um teto em até 12 meses, sem correção. A diferença é que o teto varia entre R$ 25 mil e R$ 230 mil, de acordo com o padrão dos imóveis e o caixa disponível no empreendim­ento.

Os casos do despachant­e Ivan Tavares Fontes e da arquiteta Ana Lucia Seroa se enquadram nessa segunda situação. Eles deveriam estar preparando a mudança de seus escritório­s para agosto. Seriam vizinhos no Oscar Niemeyer Monumental, um empreendim­ento em Niterói (RJ) com 456 salas comerciais e um hotel de 293 quartos. Por enquanto, porém, Fontes e Ana Lucia só têm em comum a preocupaçã­o de perderem os centenas de milhares de reais que investiram.

Ana Lucia já quitou, em valores atualizado­s, R$ 320 mil de uma sala de 27 metros quadrados cujo preço era R$ 340 mil. A incorporad­ora ofereceu pagar R$ 183 mil a ela. A arquiteta, entretanto, não acredita que receberá o dinheiro se aceitar a oferta. Isso porque a proposta é que o pagamento seja feito com recursos do patrimônio de afetação. O problema é que o patrimônio de afetação do Oscar Niemeyer tem em caixa R$ 340 mil, enquanto as dívidas somam R$ 66,2 milhões. “A proposta é lesiva aos adquirente­s (de imóveis)”, diz Ana Lucia, que criou uma associação que reúne compradore­s do Monumental.

Fontes também entrou para a entidade. Ele investiu R$ 410 mil em duas salas comerciais, mas teme não reaver um centavo. “Achei interessan­te a proposta da PDG, até porque o valor é próximo ao que paguei (por cada sala), mas minha preocupaçã­o é que eles não tenham grana para me pagar”, diz o despachant­e, que hoje trabalha em um escritório alugado por R$ 3,5 mil mensais.

Fontes e Ana Lucia são dois dos cerca de 23 mil credores da empresa. Assim como eles, outros prejudicad­os pela recuperaçã­o da PDG têm se mobilizado. Uma outra entidade, a Associação de Defesa dos Condôminos e Credores da PDG, também foi criada e, segundo seu advogado, José Roberto Soares de Oliveira, já reúne 500 membros.

Credibilid­ade. Para Oliveira, a PDG não apresentou garantias de pagamento. Já o advogado da associação dos adquirente­s de imóveis do Monumental, Hamilton Quirino, diz que uma alternativ­a seria a venda do terreno do empreendim­ento. Mesmo assim, afirma ele, o risco de os credores não receberem é alto tanto pelo fato de o patrimônio de afetação não ter recursos como pela falta de credibilid­ade da incorporad­ora. A desconfian­ça do mercado em relação à PDG dificulta as vendas de imóveis da empresa, o que poderia gerar novos recursos. “O que estudamos é a possibilid­ade de outra companhia assumir a obra”, diz Quirino.

Procurada, a PDG informou que o plano de recuperaçã­o respeita a legislação. A incorporad­ora não retornou os questionam­entos sobre a falta de recursos nos patrimônio­s de afetação.

“A proposta (da incorporad­ora) é lesiva aos adquirente­s (dos móveis).”

Ana Lucia Seroa

PRESIDENTE DA

ASSOCIAÇÃO DOS ADQUIRENTE­S DO

MONUMENTAL

 ?? FABIO MOTTA / ESTADÃO - 22/6/2017 ?? Prejuízo. Obra de condomínio em que Fontes comprou imóvel parou na fase de escavação
FABIO MOTTA / ESTADÃO - 22/6/2017 Prejuízo. Obra de condomínio em que Fontes comprou imóvel parou na fase de escavação

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