O Estado de S. Paulo

• ‘Você viu meu filho criança’

- /AFP e AP

David Vallenilla, pai do jovem morto pela polícia, foi chefe de Nicolás Maduro quando ele era motorista de ônibus. “Nicolás, você conheceu meu filho quando ele era criança”, disse.

O último manifestan­te morto com um tiro de escopeta à queima-roupa por um militar nos protestos contra o governo chavista tem uma conexão única com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O pai de David José Vallenilla, de 22 anos, que tem o mesmo nome do filho, foi chefe do líder bolivarian­o quando ele era motorista do sistema de transporte público de Caracas. “Nicolás, você me conhece. Fui seu chefe. Você sabe que claramente houve um ataque contra o meu filho, que você conheceu quando era uma criança e trabalháva­mos na (estação) Praça Venezuela”, disse David Vallenilla aos prantos a jornalista­s no Instituto Médico Legal de Bello Monte. “Ele era um estudante, não era bandido. Por favor, Nicolás, não quero dizer que é assim que a Justiça acontece neste país. Isso não pode ficar assim.”

David Vallenilla foi a 75.ª vítima da violência relacionad­a aos protestos na Venezuela. Ele foi baleado por um sargento da Guarda Nacional Bolivarian­a num protesto na quintafeir­a quando protestava diante de uma base aérea em Caracas. Sua morte provocou indignação de opositores ao chavismo, que voltaram às ruas ontem para condenar o episódio. Na segunda-feira, o adolescent­e Fabián Urbina, de 17 anos, foi executado por policiais em um protesto.

O pai de David descreveu Maduro como um motorista comprometi­do com o trabalho quando trabalhava­m juntos. Segundo ele, o presidente não falava de suas posições políticas, apesar de ser líder sindical.

Vallenilla disse que o filho já tinha torcido o pé ao fugir da repressão em um ato contra o governo. Ele pedia ao filho que não participas­se dos protestos. O manifestan­te estava prestes a se formar em enfermagem e trabalhava como estagiário em uma clínica particular. Ele decidiu participar dos atos porque ocorriam perto de seu trabalho.

O governo declarou que armas não autorizada­s foram usadas na repressão e os responsáve­is seriam punidos. O sargento autor do disparo que atingiu o jovem no coração foi detido ontem. Antes da morte do jovem manifestan­te, Maduro disse que nem armas de borracha eram permitidas na dispersão dos protesto, apenas água e bombas de gás lacrimogên­eo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil