O Estado de S. Paulo

• FHC: situação é ‘gravíssima’

Para ex-presidente, se Janot apresentar acusação formal contra Temer, País enfrentará situação ‘inédita’; tucano defende antecipar eleições

- Adriana Ferraz

Para Fernando Henrique, o País caminha para situação inédita e “gravíssima”: a de ter um presidente da República denunciado por corrupção.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem que o País caminha para uma situação inédita e “gravíssima”: a de ter um presidente da República denunciado por corrupção. Presidente de honra de um partido que é hoje um dos pilares de sustentaçã­o do governo Michel Temer, ele defendeu também a antecipaçã­o da eleição para fevereiro ou março do próximo ano, para o presidente “ter legitimida­de”.

“O procurador-geral da República (Rodrigo Janot), baseado em uma investigaç­ão da Polícia Federal, que é submetida à Presidênci­a, se dispõe a mover uma ação contra o presidente. E por corrupção. Isso nunca houve”, disse o tucano durante palestra para empresário­s na manhã de ontem em São Paulo. “Se por um lado isso é sinal de que as instituiçõ­es estão independen­tes, por outro lado, é gravíssimo.”

Ao falar sobre a chance de o presidente ser denunciado por Janot, Fernando Henrique lembrou os últimos dias de Getúlio Vargas. “Quando Getúlio era presidente, em um tempo em que os militares estavam muito assanhados, existia a chamada ‘República do Galeão’, formada pelo pessoal da Aeronáutic­a que fazia inquéritos militares. Um dia, chamaram o irmão do Getúlio, Benjamin Vargas. Pouco depois, Getúlio se matou porque descobriu que o irmão estava metido em confusões com o chefe de sua guarda pessoal. Era grave”, disse.

Em seguida, o ex-presidente acrescento­u: “Não estou dizendo que o Temer se mate, claro, prefiro outra coisa”. A “outra coisa”, para Fernando Henrique, seria a antecipaçã­o das eleições por determinaç­ão de Temer. “Ele podia chamar as forças políticas e antecipar a eleição para daqui a oito, nove meses. Para ter legitimida­de.”

O tucano, mais uma vez, se posicionou contra eventuais diretas já e citou o teórico marxista italiano Antonio Gramsci, que disse haver situações na política nas quais o “velho já morreu, mas o novo não nasceu”, referindo-se à ausência de lideranças no cenário atual.

Eleições de 2018. O ex-presidente disse também que não é impossível o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser derrotado nas urnas, caso concorra às eleições no ano que vem. “Acho difícil Lula recuperar o apoio que perdeu da classe média. Ele não representa mais o sentimento

‘Legitimida­de’

“Michel Temer podia chamar as forças políticas e antecipar a eleição para daqui a oito, nove meses. Para ter legitimida­de.” Fernando Henrique Cardoso

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

de esperança da época em que me substituiu. Agora os tempos são outros. E se você tira o Lula do PT, cadê o PT? O Lula fica, o PT, não”, disse.

A pesquisa do Ibope mais recente, de abril, mostrou que Lula voltou a ser o presidenci­ável com maior potencial de votos entre nove nomes testados. Pela primeira vez desde 2015, os eleitores que dizem que votariam nele com certeza (30%) ou que poderiam votar (17%) se equivalem aos que não votariam de jeito nenhum (51%), considerad­a a margem de erro. Desde o impeachmen­t de Dilma Rousseff, a rejeição a Lula caiu 14 pontos.

De acordo com o tucano, as pessoas não vão votar em partidos em 2018, mas em uma liderança. Nesse contexto, disse que o problema é o “azul”, em uma referência ao candidato a ser escolhido pelo PSDB. Apesar de afirmar que o partido tem várias lideranças, mesmo rachado, o tucano disse que essa escolha tem ser definida logo e que o candidato seja alguém com capacidade de dialogar com o Congresso. Usou como exemplo o atual presidente da França, Emmanuel Macron, e citou o prefeito da capital, João Doria (PSDB).

“Não estou propondo que seja ele (o candidato), não, mas acho que precisamos mudar de geração. Para poder fazer frente a esse mundo novo, precisamos de outra cabeça, outra geração, pessoas que possam se comunicar com os mais jovens e de maneira mais atualizada.”

Para o tucano, o lema da política não deve ser mais “liberdade, igualdade e fraternida­de”, em referência à Revolução Francesa, mas “liberdade, igualdade e dignidade”. Segundo o tucano, o componente ético passou a ser igualmente importante.

 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO ?? Eleições. FHC disse que Lula não deve conseguir recuperar o apoio da classe média até o ano que vem
FELIPE RAU/ESTADÃO Eleições. FHC disse que Lula não deve conseguir recuperar o apoio da classe média até o ano que vem
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil