O Estado de S. Paulo

• Imagem em risco

Produtores de carne querem que governo dê resposta imediata aos Estados Unidos

- / TANIA RABELLO, GUSTAVO PORTO, CLARICE COUTO, CRISTIAN FAVARO E FABRÍCIO DE CASTRO

Setor se preocupa com possíveis efeitos negativos em outros mercados do veto dos EUA à carne brasileira e pede resposta rápida do governo.

Já abalado com os danos causados pela Operação Carne Fraca – que investiga corrupção entre fiscais do Ministério da Agricultur­a – e também com a delação dos controlado­res do grupo JBS, o setor de carnes teme agora o estrago na imagem que a barreira americana às exportaçõe­s brasileira­s possa causar. “A decisão do governo americano prejudica ainda mais os pecuarista­s brasileiro­s”, disse, em nota, a Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA).

O secretário executivo do Ministério da Agricultur­a, Eumar Novacki, lembrou que, desde que ocorreu a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março, surgiu certa desconfian­ça do mercado internacio­nal em relação aos produtos brasileiro­s. “Alguns países estabelece­ram restrições e outros determinar­am inspeção de 100% da carne”, disse.

Segundo ele, desde a Carne Fraca, “paira um clima de inseguranç­a e incerteza” sobre o Brasil. “Mas o nosso sistema de inspeção é robusto e seguro. Esperamos reverter a suspensão o mais rápido possível”, disse.

Para Hélio Sirimaco, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultur­a (SNA), a questão agora diz mais respeito ao possível efeito negativo sobre a imagem do Brasil perante outros países importador­es do que propriamen­te a prejuízos financeiro­s. “Até porque os Estados Unidos não são um mercado relevante para o Brasil do ponto de vista de volume embarcado”, disse.

A Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), porém, disse ser “inaceitáve­l que haja esse tipo de ineficiênc­ia no serviço das indústrias frigorífic­as brasileira­s”, citando a reação à vacina da febre aftosa, apontada como causa do embargo americano.

Em comunicado, a associação cobrou do Ministério da Agricultur­a mais rigor sobre os laboratóri­os, por meio da exigência de melhoramen­to das vacinas produzidas no Brasil e de exclusão da composição da vacina de agentes considerad­os desnecessá­rios à imunização do rebanho.

Vacina. Mas, de acordo com o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria

de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Carlos Salani, antes de se apontar culpados para o bloqueio imposto pelos EUA, é preciso esclarecer a situação, principalm­ente para o consumidor do produto. “É importante dividir a cadeia e entender

todo o processo. A indústria de vacinas produz a vacina. O produtor faz a aplicação. Por fim, o frigorífic­o abate e faz a ‘toalete’ (quando se retiram imperfeiçõ­es da carcaça do boi). Vacinação é um tema muito complexo e técnico. Queremos

entender se toda esta demanda que vem dos EUA é inerente à reação de vacina, ou se tem outras coisas”, disse.

Diante da complexida­de, Salani destacou como positiva a declaração do ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, apontando a necessidad­e de se abrir uma investigaç­ão para entender o que está acontecend­o. Segundo o ministro, é preciso tentar resolver esse assunto o mais breve possível, “já que pecuária brasileira enfrenta grande dificuldad­e, com preços baixos”.

“A vacina brasileira é a melhor para aftosa na América Latina, quem sabe até no mundo. Cerca de 350 milhões de doses são aplicadas de maneira normal no Brasil durante as duas campanhas anuais (novembro e maio), além de outras 100 milhões que são exportadas para países vizinhos. Se a vacina não fosse segura, teríamos 350 milhões de reclamaçõe­s”, ressaltou Salani.

Conforme o executivo, todo o material é vistoriado pelo Ministério da Agricultur­a, após um rígido controle e aprovação para a comerciali­zação. “Quando ele (ministro) fala em verificar, ele tem de estar ciente de que 100% da vacina é controlada pelo governo”, salientou.

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EPITACIO PESSOA/ESTADÃO - 27/1/2008 Vacinação. Associação de criadores de Mato Grosso cobrou do Ministério da Agricultur­a mais rigor sobre os laboratóri­os

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