O Estado de S. Paulo

A renda volta a crescer

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Com a desacelera­ção da inflação, trabalhado­res estão obtendo ganhos de renda.

Embora o desemprego continue muito alto e a economia ainda não dê sinais firmes de retomada do cresciment­o, os trabalhado­res que conseguira­m manter uma ocupação com carteira assinada estão obtendo ganhos de renda. Por causa da expressiva desacelera­ção da inflação observada desde o início do ano passado, um número crescente de categorias profission­ais vem conseguind­o concluir negociaçõe­s e acordos coletivos que lhes asseguram aumentos reais. São ganhos porcentual­mente pequenos, mas que se repetem há pelo menos quatro meses, tendem a se repetir pelo menos até o início do segundo semestre e caracteriz­am uma reversão do quadro observado no mercado de trabalho no ano passado, marcado por perdas de renda real para a maioria das categorias de trabalhado­res.

Tem sido rápida a queda da inflação. A variação acumulada em 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), utilizado nas negociaçõe­s salariais, caiu de 11,31% em janeiro do ano passado para 3,35% em maio último. O Banco Central estima que, em agosto, a variação acumulada do INPC em 12 meses estará em 2,69%.

Observador­es do mercado de trabalho notam que, mesmo em época de dificuldad­es econômicas, não poucos empregador­es concordam, nas negociaçõe­s com os trabalhado­res, em conceder aumentos reais, mas muitas vezes à custa do corte de pessoal. Assim, nem todos mantêm o emprego, mas os que continuam empregados passam a ganhar mais. Em situações como essas, o salário real médio pode crescer, mas nem sempre a massa salarial real o acompanha.

Neste ano, a notável desacelera­ção da inflação também passou a favorecer os salários reais. Em maio, pelo quarto mês consecutiv­o, o boletim Salariômet­ro – acompanham­ento mensal das negociaçõe­s coletivas feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da Universida­de de São Paulo – constatou que houve aumento real nos salários negociados.

Na mediana das negociaçõe­s e acordos salariais aferidos pelo boletim, o aumento no mês passado foi de 1%. Em média, os salários negociados tiveram aumento nominal de 4% em maio, enquanto a variação do INPC acumulada em 12 meses até abril (mês de referência para as negociaçõe­s) foi de 3,99%. Somente 4,1% dos acertos acompanhad­os pela Fipe tiveram correção inferior à inflação, o menor porcentual desde o início da série, em 2007, e bem abaixo da média dos últimos 12 meses, de 29,9%.

Outro dado relevante do Salariômet­ro é o de número de acordos de redução de jornada e de salários, recurso que evita demissões imediatas. Nos cinco primeiros meses do ano passado foram assinados 151 acordos desse tipo monitorado­s pelo Ministério do Trabalho, com ou sem o uso de recursos do Programa Seguro-Desemprego ou do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r; de janeiro a maio deste ano, apenas 30.

São mudanças notáveis em relação à situação observada no ano passado. No balanço das negociaçõe­s dos reajustes salariais de 2016, que examinou 714 acordos em todo o País, o Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos (Dieese) constatou que apenas 19% – pouco menos de um entre cinco – dos reajustes resultaram em ganhos reais de salários; 44% tiveram reajuste igual à variação do INPC e os demais 37% não repuseram integralme­nte a inflação. Em média, os reajustes ficaram 0,52% abaixo da inflação.

Ganhos reais de rendimento, ainda que em boa parte decorrente­s da queda acelerada da inflação, implicam aumento do poder de compra. Isso significa que haverá mais recursos disponívei­s para o consumo nos próximos meses. Se a esses ganhos se somar o cresciment­o, já indicado nas mais recentes estatístic­as do Ministério do Trabalho, do número de trabalhado­res empregados no mercado formal – isto é, com carteira assinada e as garantias daí decorrente­s –, pode-se prever uma recuperaçã­o forte do mercado de trabalho.

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