O Estado de S. Paulo

O dilema tucano

- Marco Antonio Teixeira CIENTISTA POLÍTICO

“Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas, nasce o novo partido.” A frase, cuja autoria é atribuída ao governador Franco Montoro, aparece na epígrafe do manifesto de criação do PSDB em 1988. Entretanto, passados quase 30 anos, os tucanos vivem o maior dilema de sua história, que coloca o partido em conflito com suas próprias raízes: permanecer ou não na base de sustentaçã­o do governo Michel Temer.

O que está em jogo? Questões que envolvem a sobrevivên­cia do governo Temer, interesses de lideranças com projetos para a sucessão presidenci­al de 2018 e o naufrágio que pode representa­r uma eventual condenação de Aécio Neves (MG) pelo STF.

Geraldo Alckmin e João Doria estão liderando a resistênci­a pró-Temer. O aumento da instabilid­ade política com um possível afastament­o de Temer poderia atingir eleitoralm­ente aliados do governo, como ocorreu em 2016 com o PT, o que poderia compromete­r o projeto presidenci­al de Alckmin. Por isso, continuar apoiando o governo com a justificat­iva de que é preciso “aprovar as reformas” aparece como explicação na busca de estabiliza­ção política.

A defesa de Doria ao governo Temer segue o mesmo caminho, mas incorpora uma tonalidade perigosa. Ao alegar que “nosso inimigo é o PT”, ele aposta que a atual polarizaçã­o serve de escudo de proteção para o governo e que a disputa PT versus PSDB poderá sobreviver a 2018, por isso vem mantendo uma retórica antipetist­a agressiva.

Por fim, a tentativa de salvar Aécio é um dos ingredient­es que mantêm os tucanos ligados ao PMDB. Certamente, o rompimento do PSDB com o governo também enfraquece­ria eventuais iniciativa­s legislativ­as voltadas para a diminuição da extensão das punições que políticos dos mais diferentes partidos denunciado­s pela Operação Lava Jato poderão sofrer.

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