O Estado de S. Paulo

FGTS pode cobrir seguro pago a desemprega­dos

Resultado de 12 meses, até maio, foge do padrão usual após ajustes anteriores

- Lu Aiko Otta Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

A história das finanças federais nos últimos 20 anos mostra que a arrecadaçã­o tributária cresceu forte nos períodos imediatame­nte posteriore­s à adoção de programas de ajuste fiscal. Foi assim em 1999, 2003 e 2011, segundo levantamen­to elaborado por Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon Brasil. Atualmente, porém, há queda.

No período de 12 meses encerrado em maio, a arrecadaçã­o federal estava 8% menor, em termos reais, do que o observado em igual período de 2014. E perto de 30 pontos porcentuai­s abaixo do registrado após os ajustes de 1999 e de 2003, respectiva­mente nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O atual desempenho é pior também do que o visto após o ajuste fiscal de 2011, do governo de Dilma Rousseff. Naquela ocasião, mesmo com as políticas de desoneraçã­o tributária para vários setores, as receitas cresceram perto de 10% em termos reais nos dois anos e meio após o ajuste.

A atividade econômica fraca e com sinais contraditó­rios explica esse desempenho das receitas. “Está difícil”, comentou o economista. Ele acredita que, após a queda real de 0,35% nos 12 meses até maio, é possível que haja alguma recuperaçã­o nos próximos meses.

No entanto, superar a arrecadaçã­o de 2016 será difícil, pois no ano passado houve o ingresso de R$ 47 bilhões do programa de repatriaçã­o. Por isso, ele considera difícil terminar o ano com um cresciment­o real nas receitas. “Nesse quadro, nada com impacto fiscal fica viável”, disse ele, ao ser questionad­o se seria possível ao governo adotar medidas com impacto negativo na arrecadaçã­o.

Algumas estavam prometidas para meados deste ano. É o caso, por exemplo, da permissão para que empresas usem créditos tributário­s que têm contra a Receita Federal para quitar dívidas com a Previdênci­a. Ou do início da reforma do PIS-Cofins, o tributo mais complexo do sistema federal. Está em estudos uma medida provisória (MP) para começar essa mudança pelo PIS, de forma gradual. Ambas são reivindica­ções antigas do empresaria­do, cuja adoção tem sido adiada por causa de seu efeito nas receitas.

A situação é difícil apesar de o atual aperto nos gastos ser, de longe, o mais duro em comparação com os programas de ajuste de 1999, 2003 e 2011, segundo o economista. Em termos reais, a despesa em abril estava abaixo do que a registrada 29 meses antes. Nos demais programas de ajuste, o que se viu foi o cresciment­o das despesas em igual período de comparação.

Para o economista, um ingredient­e essencial para a retomada cíclica do cresciment­o econômico está visível: o corte nas taxas de juros, diante da queda da inflação. “A âncora da credibilid­ade dada pela equipe econômica, o teto e a agenda de reformas são chave”, acrescento­u. “Também precisarem­os aumentar impostos ou eliminar desoneraçõ­es e renúncias, o que é o mesmo.”

Mudanças. O chefe do centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias, disse ao Estadão/Broadcast que houve uma mudança estrutural na arrecadaçã­o tributária brasileira com a crise e que ainda é cedo para afirmar qual será o perfil das receitas no pós-recessão.

“A gente não tem condição de mapear isso ainda. Tem alguns setores produtivos que fecharam as portas. Só será possível mapear (o novo perfil da arrecadaçã­o) quando sairmos da crise. Nós não sabemos como se dará a retomada, nem em qual velocidade, nem qual setor vai puxar”, afirmou.

Com o início da recuperaçã­o econômica no primeiro trimestre, Malaquias espera que até o final do ano haja um impacto positivo na arrecadaçã­o de tributos. Diante do bom desempenho do agronegóci­o no início do ano, a expectativ­a é que haja um aumento no pagamento de tributos de atividades ligadas ao setor, como transporte, armazename­nto e beneficiam­ento. A queda da inflação também deixará mais espaço para o consumo, o que deve se refletir positivame­nte no pagamento de impostos.

“Não temos condições de

mapear (o perfil das receitas

no pós-recessão) ainda. Tem alguns setores produtivos que fecharam as portas. Só será possível mapear quando sairmos da crise.” Claudemir Malaquias

CHEFE DO CENTRO DE ESTUDOS

TRIBUTÁRIO­S E ADUANEIROS DA

RECEITA FEDERAL

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JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL - 24/2/2015 Otimismo. Malaquias espera um impacto positivo na arrecadaçã­o até o fim do ano

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