O Estado de S. Paulo

Eletrobrás vai cortar ponto de grevistas

Funcionári­os pararam por 24 horas depois de divulgação de áudio do presidente da companhia

- Fernanda Nunes / RIO

A Eletrobrás vai cortar o ponto dos funcionári­os que participar­am de uma paralisaçã­o de 24 horas na última quintafeir­a. O corte foi informado informalme­nte aos empregados e confirmado por uma fonte da empresa, que não quis se identifica­r. Sindicalis­tas enxergam na medida uma retaliação ao vazamento de áudios em que o presidente da companhia, Wilson Ferreira Júnior, chama de “vagabundos” e “safados” gerentes da estatal, como divulgado com exclusivid­ade pelo ‘Estadão/Broadcast’.

No áudio, o presidente diz que 40% das chefias da Eletrobrás “não servem para nada” e que a “sociedade não pode pagar por vagabundo, em particular, no serviço público”. A gravação percorreu as redes sociais dos funcionári­os, o que levou Ferreira Júnior a recorrer à TV Eletrobrás para se desculpar.

“Eu me desculpo com os nossos colegas, porque uma empresa como a nossa não é feita pelos adjetivos que eu qualifique­i de forma excepciona­l. Mas temos de dar os exemplos, para que aquele tipo de situação que chega aqui toda semana em nossa diretoria seja cada vez mais uma exceção e que a nossa ação e superação tragam os adjetivos que fizeram essa grande empresa, da qual me orgulho muito”, diz o executivo.

No mesmo vídeo, no entanto, ele critica as mobilizaçõ­es sindicais contrárias à reestrutur­ação interna da sua gestão. “Quando eu vejo manifestaç­ões... ‘nós vamos judicializ­ar o PAI (Programa de Aposentado­ria Incentivad­a), nós não permitimos que tenha privatizaç­ão, nós achamos que essa venda de SPEs (Sociedades de Propósito Específico) é uma bobagem’, fico preocupado”, afirma Ferreira, referindo-se às posições dos sindicatos.

Com a paralisaçã­o, os empregados buscaram demonstrar indignação à fala do executivo, gravada sem que ele soubesse durante uma reunião em que o tema era a reestrutur­ação da empresa, no início deste mês. Além disso, os sindicatos reclamam participaç­ão no processo de reestrutur­ação, que prevê o desligamen­to de 11 mil pessoas, quase a metade das 23 mil que compõem o quadro do grupo.

“Qualquer mudança na estrutura interna tem de ser negociada com os sindicatos. Essa não é uma vontade nossa. É uma determinaç­ão do acordo trabalhist­a”, diz Emanuel Torres, diretor do Sindicato dos Eletricitá­rios do Estado do Rio e Região (Sintergia) e da Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel).

Durante o vídeo gravado para os empregados, o presidente também reclama da falta de diálogo. “Para um sindicato, falta conversa. Nós precisamos conversar mais”, diz. Em seguida, afirma que os planos de incentivo à demissão têm sido cada vez piores e que a adesão deve ser avaliada por cada funcionári­o. “O próximo será pior do que esse, porque estamos em situação de fragilidad­e financeira. Não sei nem se teremos”, acrescento­u. Esse trecho foi interpreta­do pelos sindicalis­tas como pressão sobre os funcionári­os.

Agenda dura “Estamos dizendo muito não para muita gente e para muito privilégio. Temos de ser coerentes. A nossa agenda é uma agenda dura.” Paulo Pedrosa SECRETÁRIO EXECUTIVO DO MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA

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MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO - 17/1/2017 Cortes. Ferreira Júnior tem planos de reduzir pela metade o quadro de funcionári­os

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