Eletrobrás vai cortar ponto de grevistas
Funcionários pararam por 24 horas depois de divulgação de áudio do presidente da companhia
A Eletrobrás vai cortar o ponto dos funcionários que participaram de uma paralisação de 24 horas na última quintafeira. O corte foi informado informalmente aos empregados e confirmado por uma fonte da empresa, que não quis se identificar. Sindicalistas enxergam na medida uma retaliação ao vazamento de áudios em que o presidente da companhia, Wilson Ferreira Júnior, chama de “vagabundos” e “safados” gerentes da estatal, como divulgado com exclusividade pelo ‘Estadão/Broadcast’.
No áudio, o presidente diz que 40% das chefias da Eletrobrás “não servem para nada” e que a “sociedade não pode pagar por vagabundo, em particular, no serviço público”. A gravação percorreu as redes sociais dos funcionários, o que levou Ferreira Júnior a recorrer à TV Eletrobrás para se desculpar.
“Eu me desculpo com os nossos colegas, porque uma empresa como a nossa não é feita pelos adjetivos que eu qualifiquei de forma excepcional. Mas temos de dar os exemplos, para que aquele tipo de situação que chega aqui toda semana em nossa diretoria seja cada vez mais uma exceção e que a nossa ação e superação tragam os adjetivos que fizeram essa grande empresa, da qual me orgulho muito”, diz o executivo.
No mesmo vídeo, no entanto, ele critica as mobilizações sindicais contrárias à reestruturação interna da sua gestão. “Quando eu vejo manifestações... ‘nós vamos judicializar o PAI (Programa de Aposentadoria Incentivada), nós não permitimos que tenha privatização, nós achamos que essa venda de SPEs (Sociedades de Propósito Específico) é uma bobagem’, fico preocupado”, afirma Ferreira, referindo-se às posições dos sindicatos.
Com a paralisação, os empregados buscaram demonstrar indignação à fala do executivo, gravada sem que ele soubesse durante uma reunião em que o tema era a reestruturação da empresa, no início deste mês. Além disso, os sindicatos reclamam participação no processo de reestruturação, que prevê o desligamento de 11 mil pessoas, quase a metade das 23 mil que compõem o quadro do grupo.
“Qualquer mudança na estrutura interna tem de ser negociada com os sindicatos. Essa não é uma vontade nossa. É uma determinação do acordo trabalhista”, diz Emanuel Torres, diretor do Sindicato dos Eletricitários do Estado do Rio e Região (Sintergia) e da Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel).
Durante o vídeo gravado para os empregados, o presidente também reclama da falta de diálogo. “Para um sindicato, falta conversa. Nós precisamos conversar mais”, diz. Em seguida, afirma que os planos de incentivo à demissão têm sido cada vez piores e que a adesão deve ser avaliada por cada funcionário. “O próximo será pior do que esse, porque estamos em situação de fragilidade financeira. Não sei nem se teremos”, acrescentou. Esse trecho foi interpretado pelos sindicalistas como pressão sobre os funcionários.
Agenda dura “Estamos dizendo muito não para muita gente e para muito privilégio. Temos de ser coerentes. A nossa agenda é uma agenda dura.” Paulo Pedrosa SECRETÁRIO EXECUTIVO DO MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA