Bem-vindo às eleições de 2018
Para transpor-se a 2018, não olhe só para os partidos. Atente para cinco grandes anseios populares. Eles estão se despregando das agremiações que os veiculavam e buscando novos abrigos. Deles dependerá o curso das eleições e das reformas.
O primeiro desses anseios é contra a globalização financeira e industrial. Tem eco na jovem classe média. Inspira-se em fontes como Butão, Greenpeace e Occupy Wall Street. Tem seguidores na Rede, no PV, PSB e na esquerda universitária. Rejeita o consumismo e almeja tecnologias amistosas, ecológicas e qualidade de vida.
O segundo é anti-imperialista e visa a inclusão social. Defende estatizar empresas, produção em massa, subsídios sociais e comerciar com países não alinhados. Inspirase na Venezuela, Cuba e tem partidários nos PCs, PSOL, MST, movimentos sociais e sindicais.
O terceiro, avesso ao liberalismo, é estatista e nacionalista. Quer turbinar o capitalismo brasileiro e firmar-nos como potência. Espelha-se na China e Coreia do Sul. Lula e Dilma tomaram essa via com sua política de campeões nacionais, crédito amplo e intervencionismo.
Essas três vertentes agruparam-se em torno do PT, que se enraizou pelo eleitorado, vencendo seguidamente duas outras disposições populares: a conservadora e a eficientista.
A vocação conservadora é saudosa da ordem, dos usos e costumes. Entre outros, Bolsonaro e políticos evangélicos a representam, distribui-se por partidos de direita e de centro.
A aspiração eficientista almeja a competência gerencial implícita no discurso do PSDB paulista. Lula tentou tomá-la, colando em Dilma o mote da gerente competente. Hoje, Dória busca veicular este anseio.
Mas parte dos partidos vocacionados a representar estas cinco demandas vêm sendo rejeitada por corrupção, má gestão ou radicalismo. E um intenso clamor ético se juntou aos anseios. Renovações e trocas se impõem.
Daí o triplo anseio, ainda popular apesar do revés petista, vacilar sobre onde se abrigar e se deve continuar unido. E a disposição eficientista, agora em alta, evitar partidos fisiológicos e setores tidos como elitistas ou oportunistas. Também parte dos conservadores tem se afastado dos fanáticos. E a mobilização ética tem buscado viabilidade eleitoral fora dos grupos puristas.
Em 2018, todas essas aspirações encontrarão os grandes partidos já repaginados, novas siglas “não políticas”, bem como partidos de extrema direita e esquerda, e uma paisagem extra-partidária atravessada por movimentos populares, ondas evangélicas e aventureiros tentando a sorte. Daí emergem quatro resultados eleitorais.
No primeiro, o triplo anseio não se fragmenta, aloja-se num PT renovado, no PSOL, ou em outra sigla, galvaniza a resistência às reformas e ganha as eleições.
Nesse caso, se a vertente antiglobalização dominar, pode adotar propostas do movimentismo europeu (Podemos, da Espanha, Syriza, da Grécia). Se o anti-imperialismo preponderar, pode prevalecer a face chavista. Nos dois casos o ambiente se radicaliza e as reformas poderiam ser desfeitas. Ou uma versão pragmática do estatismo nacionalista é eleita agregando à campanha um discurso eficientista. E, como o governo petista de 2003, se compromete a manter uma parte das reformas (o PT o fez até a queda de Palocci).
No segundo cenário, um arco conservador, tradicionalista e moralista vence defendendo um eficientismo autoritário. Reprimiria a diversidade, hostilizaria a esquerda e tentaria impor as reformas ao invés de negociálas, o que dificultaria sua aceitação.
No terceiro, um comunicador eficientista se elege a bordo de uma nova sigla, ou de um PMDB, PSDB, Rede ou PSB renovados. Só avançaria com as reformas se não rejeitasse a triplo anseio da esquerda, mas incorporasse parte dele.
Ou ocorre a vitória de um candidato da probidade ética com mandato de passar o País a limpo. Nessa hipótese, investigações de corrupção e julgamentos se amplificam e as reformas são suspensas por alguns anos.
Como se vê, um caleidoscópio de inúmeros arranjos. Mas, pragmáticos, os ortodoxos ou oportunistas, todos terão de se haver com instituições disfuncionais, democracia em baixa e a falta de um pacto distributivo.
Bem-vindo às eleições de 2018.
Candidatos terão de se haver com instituições disfuncionais e democracia em baixa