O Estado de S. Paulo

Popular, Putin deve tentar reeleição

Imune a protestos. Chamado de autocrata por opositores, presidente é claro favorito para eleição de março, apesar da economia em baixa; culto ao nacionalis­mo e política externa agressiva, vista na anexação da Crimeia, explicam popularida­de superior a 80%

- Andrei Netto

Apesar de denúncias de corrupção, a popularida­de de Vladimir Putin supera 80%, informa Andrei Netto, de Moscou. Se reeleito, o presidente russo completará 24 anos no poder.

Dezessete anos após ter chegado ao Kremlin pela primeira vez, Vladimir Putin se prepara para permanecer no poder como líder máximo da Rússia até 2024 – quando terá 72 anos. A nove meses das eleições presidenci­ais, seu governo tem enfrentado os maiores protestos desde o fim da União Soviética. Ainda assim, todos os prognóstic­os de institutos de pesquisas, russos e estrangeir­os, apontam para uma nova e esmagadora vitória de Putin.

Um triunfo a despeito das denúncias de corrupção, da deriva autocrátic­a do governo e do isolamento internacio­nal da Rússia. Nas ruas de Moscou, Putin é visto como líder sem substituto. As eleições presidenci­ais na Rússia encerrarão um longo ciclo de votações nas principais potências da Europa. Até março de 2018, Holanda, França, Reino Unido, Alemanha e Itália terão passado por eleições gerais ou parlamenta­res.

A situação de Putin é a mais confortáve­l de todas, segundo as sondagens. Embora o atual presidente ainda não tenha se declarado candidato, nenhum de seus desafiante­s, todos veteranos, teria hoje condições de batê-lo. Esses são os casos do comunista Gennadi Zyuganov, do liberal-democrata Vladimir Zhirinovsk­i ou ainda do sociallibe­ral Grigori Yavlinski.

Pesquisa do instituto Gallup indicou em março que a popularida­de de Putin supera os 80%, mesmo com a crescente incerteza sobre o desempenho da economia da Rússia – ainda sob sanções dos Estados Unidos e da União Europeia em razão do conflito na Ucrânia. Esse porcentual foi alcançado justamente com a anexação da Crimeia, península ucraniana, há três anos, e desde então não caiu.

Os dados da sondagem até poderiam ser colocados sob suspeita, mas foram referendad­os em abril pelo Pew Research Center, instituto de Washington, que identifico­u um índice ainda maior, de 87%, de russos que confiam em Putin para conduzir o Kremlin.

Nem a baixa credibilid­ade do presidente na luta contra a corrupção – só 49% confiam que ele enfrentará o problema – abala suas chances de vitória.

“Esta é uma eleição na qual poucas mudanças são esperadas, ao menos no nome do vencedor”, entende Andrei Kolesnikov, diretor de Política Interior da Rússia do centro de estudos Carnegie Moscow Center, especialis­ta que classifica o regime como um “autoritari­smo populista”.

Para Kolesnikov, a candidatur­a de Putin tem como objetivo conservar as instituiçõ­es tais como foram moldadas ao longo dos últimos 17 anos. “Não há interesse em reformas liberaliza­ntes. Isso exigiria que o regime garantisse mais liberdade à sociedade, o que exatamente o que o tipo de autocracia híbrida da Rússia não aceita”, disse o especialis­ta.

A despeito da repressão aos opositores (mais informaçõe­s nesta página) e ao desempenho econômico decepciona­nte da Rússia – com a desvaloriz­ação do rublo causada pelas sanções, o PIB russo caiu de US$ 2,2 trilhões em 2013 para US$ 1,3 trilhão, segundo o Banco Mundial –, em Moscou não é difícil encontrar vozes favoráveis ao presidente.

“Creio que Putin deveria ser eleito porque não vejo alternativ­as. Não há nenhum outro político decente que poderia enfrentar as aspirações da população e contrabala­nçar as perturbaçõ­es e acusações de líderes mundiais em relação à Rússia”, argumenta Oleg Vershinin, de 24 anos, diretor de Relações Públicas de uma multinacio­nal. “Apoio seu

• Andrei Kolesnikov

“Não há interesse em reformas liberaliza­ntes. Isso exigiria que o regime garantisse mais liberdade à sociedade, que é exatamente o que o tipo de autocracia híbrida da Rússia não aceita” Continuida­de

DIRETOR DE POLÍTICA DA RÚSSIA DO CENTRO DE ESTUDOS CARNEGIE MOSCOW CENTER

perfil de liderança e gosto do fato de que ele analisa a situação no mundo moderno de dentro para fora.”

Eleitora de Putin desde sua primeira disputa, em 2000, Lidiya Talysheva, de 62 anos, operadora de telemarket­ing, tem convicção de que o melhor a fa-

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NA WEBGaleria. Relembre as excentrici­dades de Vladimir Putin

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