O Estado de S. Paulo

Vera Magalhães

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Temer desembarca de volta de suas terras imaginária­s em pior situação do que saiu.

Michel Temer parece ter imaginado que viajaria e, com isso, a crise política também deixaria o País. Nesse devaneio, o presidente chegou a imaginar que visitaria outras terras. Sua agenda dizia que ele iria à República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Na Noruega, saudou o rei da Suécia. Gafes que sugerem que, apesar da fantasia de férias, também a cabeça do presidente estava tomada pelos aparenteme­nte insolúveis problemas que encurralam seu governo.

Temer esperava contar com respaldo de parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal para um recurso que pretendia – ainda pretende, segundo seus advogados – interpor questionan­do as acusações que pesam contra ele a partir da delação de Joesley Batista.

Mas, embora se force a interpreta­ção de que pelo menos três juízes disseram ver espaço para se rever o acordo da JBS na fase da sentença, a verdade é que a maioria inequívoca do Supremo referendou as ações da dupla Rodrigo Janot e Edson Fachin, o que resulta no fato de que Temer desembarca em Brasília, de volta das suas terras imaginária­s, em pior situação do que saiu.

O recurso, se for mesmo apresentad­o, vai chover no molhado se insistir nas teses de que a delação foi inválida, de que Fachin não deveria ser relator e de que o áudio da em tudo inapropria­da conversa clandestin­a de Temer com Joesley foi editado.

Um dos reveses para o presidente viajandão foi justamente a perícia da Polícia Federal que atesta que não houve montagem na gravação. Este deverá ser um fator crucial para a denúncia de Rodrigo Janot. Como num churrasco, para ficar na analogia com o negócio que alçou Joesley à condição de rei da proteína e da propina, a acusação contra Temer poderá vir em peça inteira ou fatiada, mas será de qualquer maneira indigesta para o peemedebis­ta.

Com um recorde negativo de apenas 7% de pessoas que avaliam seu governo como ótimo e bom, de acordo com o Datafolha, o presidente dependerá, para arquivar a denúncia, de uma Câmara fisiológic­a e apavorada com o tsunami que abateu a política.

Deputados que já não primam pelo alinhament­o ideológico ou programáti­co com um governo provisório terão de escolher entre votar com o presidente que vale 7% ou prestar contas no ano que vem a um eleitorado farto de tanta lambança política.

Por mais que seja relativame­nte tranquilo obter 172 votos para engavetar o pedido de Janot, não sairá barato nem será na base do apreço dos deputados à estabilida­de.

E no day after de mais essa sobrevida, o que espera nosso homem dos 7%? Reformas que tramitam aos trancos e barrancos num Congresso à beira de um ataque de nervos. O susto na trabalhist­a não impede que ela passe no plenário, como se sabe, mas antecipa dificuldad­e imensa de aprovação da previdenci­ária, que já sairá da Câmara, quando e se sair, totalmente desfigurad­a.

Essas reformas e a ainda majoritári­a confiança do mercado e do empresaria­do na equipe econômica são o fio invisível que ainda separa um presidente de 7% da solidão absoluta que levou Dilma Rousseff ao cadafalso.

Temer já deu para repetir a antecessor­a até naquilo que ela tinha de mais engraçado: as gafes. Também segue a cartilha do PT – do qual era, é sempre bom frisar, sócio minoritári­o – ao chafurdar no lamaçal da corrupção e das tentativas de frear a Lava Jato. Se demonstrar incapacida­de de tirar o País do buraco econômico em que Dilma o meteu, terá perdido as condições mínimas de evitar que sua pinguela faça o País cumprir essa penosa e intermináv­el travessia até outubro de 2018. Estamos na dependênci­a dos tais fatos novos. E o trágico destino brasileiro é que eles insistem em acontecer, e são sempre tenebrosos.

Temer volta a Brasília em pior situação do que saiu, e com 7% de aprovação

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