O Estado de S. Paulo

Russos ainda estão indiferent­es com a Copa Rússia leva virada do México em Kazan e está eliminada

Torneio sofre com Rússia sem craques, Alemanha desfigurad­a e Cristiano Ronaldo emburrado

- Robson Morelli ENVIADO ESPECIAL / MOSCOU

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A Fifa aposta na presença das grandes seleções na Copa de 2018 para aumentar o interesse dos russos pelo futebol. A Copa das Confederaç­ões tem mais uma semana para cumprir seu papel e despertar no povo local um pouco mais de paixão pelo esporte que tomará o país em um ano. Mais do que isso, o evento-teste deveria esquentar esse desejo pelos próximos 12 meses, até 14 de junho de 2018, quando a seleção russa estreará em Moscou na competição que será realizada em 11 cidades.

As limitações técnicas do time anfitrião, de nenhum craque e futebol modesto, e seu reduzido carisma não serão suficiente­s para sustentar o interesse do torcedor como gostaria a entidade presidida por Gianni Infantino. E isso é um problema, apesar das tentativas da Fifa de espalhar boas-novas do torneio disputado em quatro cidades russas e que tem na presença (emburrada) de Cristiano Ronaldo sua maior vitrine.

Os estádios que estão sendo usados foram aprovados, com ressalvas, mas nem de longe têm o calor de uma torcida de verdade, que empolga e contagia, diferentem­ente do que ocorreu, por exemplo, no mesmo torneio em 2013, no Brasil.

Os russos que compraram seus ingressos para ver sua seleção torcem como crianças, aplaudem qualquer jogada e vibram como os japoneses nas tentativas de gol. Passam a impressão de que sabem até onde pode ir a seleção. E não é longe. Ocorre que a Fifa não gostaria de ter o anfitrião eliminado na primeira fase. Infantino sabe o que isso representa para sua primeira missão como presidente.

Por isso, trabalha sem descanso para atrair a todos. O fair play será sua bandeira, seguido da necessidad­e de ter estádios lotados, do uso do Árbitro Assistente de Vídeo (VAR, na sigla em inglês) de forma oficial numa competição desta grandeza e da presença de grandes jogadores.

A Copa das Confederaç­ões, em sua primeira etapa, falhou na tentativa de conquistar o russo. O interesse pelos jogos tem acabado com o apito final – para aqueles que vão ao estádio. Para o russo comum, que continua a pegar o metrô todos os dias, o futebol não mudou em nada sua rotina. Passa longe de sua atenção. Tamanha indiferenç­a preocupa a Fifa, que entrou em contagem regressiva para mudar esse cenário no país-sede.

Confederaç­ões não empolga

Nem mesmo nos dias de jogos da seleção os russos de Moscou se mostram empolgados. Basta andar pelas ruas principais do centro ou estações de metrô para

PÚBLICO mil torcedores por jogo é a média até agora na Rússia. Em 2013, a Copa das Confederaç­ões no Brasil atraiu público de 49,4 mil pessoas por partida

verificar a falta de interesse. Apenas a estação Spartak, de acesso ao estádio, está enfeitada. É também uma das mais vazias. Por temer atos de terrorismo em local de aglomeraçã­o de pessoas, a estação é fechada horas antes e depois das partidas. Um detector de metal é figura carimbada nas estações, de modo a ‘obrigar’ os que estão de mochilas a passar por revista. Nem todos param. Se na “Moscou subterrâne­a” o futebol não desce, na Moscou das ruas ensolarada­s de junho pouco se vê da disputa. Não há clima de Copa na principal cidade do país.

Time modesto

Os russos gostam de futebol. Mas acima de tudo, de competir para vencer, condição que a seleção anfitriã não dá ao seu torcedor. E dificilmen­te dará em 2018. Isso reduz o interesse pelo torneio. A Rússia é 63.ª no ranking da Fifa. Tem apenas jogadores que atuam no país. O mais conhecido é o goleiro Igor Akinfeev, do CSKA. Quem mais chama a atenção é o técnico Stanislav Cherchesov, com suas broncas, caras e gestos.

Fair play

A Fifa vai cobrar dos organizado­res manifestaç­ão racista nos estádios. E isso pode ser outro problema. Haverá punições. Infantino não abre mão disso. Quer que sua Copa seja limpa, receptiva e sem polêmicas. Gritos homofóbico­s serão retaliados. Os árbitros poderão paralisar um jogo se avisados ou presenciar­em manifestaç­ões discrimina­tórias. Haverá observador­es nos estádios. Os hooligans russos não deram as caras. Mas são esperados. E isso também pode esvaziar a disputa.

Mais público

A Copa das Confederaç­ões no

A anfitriã Rússia está fora da Copa das Confederaç­ões. Perdeu de virada do México por 2 a 1 ontem, em Kazan, e foi eliminada no Grupo A. Com sete pontos, os mexicanos se classifica­ram em segundo na chave. Portugal ficou em primeiro pelo saldo de gols (5a2), após goleara Nova Zelândia em São Petersburg­o por 4 a 0 – Cristiano Ronaldo fez um gol.

Hoje, no Grupo B, Chile e Alemanha jogam por empates com Austrália e Camarões, respectiva­mente, para se classifica­rem.

Brasil, além da seleção em boa fase, tinha ainda outros times que despertava­m o interesse do torcedor, como Espanha e Itália. A média de público beirou os 50 mil torcedores. Na Rússia, Portugal é a melhor equipe, nem tanto pelo elenco, mas pela presença de Cristiano Ronaldo. Ocorre que o astro chegou à Rússia emburrado, envolvido com denúncias do Fisco espanhol. Isso o fez ainda mais retraído. Quem perdeu foi a competição, a Fifa e o russo. As outras seleções não mostraram força para arrastar multidões. A Alemanha poderia fazer isso, mas o campeão do mundo não mudou seu planejamen­to após a conquista no Brasil e levou o time alternativ­o para as Confederaç­ões. A média de público é de 38.573 torcedores.

Árbitro assistente de vídeo

O árbitro assistente de vídeo promete ser um atrativo na Copa. Está sendo testado nas Confederaç­ões com relativo sucesso e inclusive já mudou resultados de partidas. Com ele, a Fifa vai reforçar o jogo sem erros, sem injustiças, mesmo que para isso tenha de abalar a confiança do árbitro principal. Há descontent­amento por decisões corrigidas pela imagem. O tempo para a checagem do lance baixou para a casa dos segundos, 42. Há checagens que podem demorar mais. E a necessidad­e do replay nos telões.

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MLADEN ANTONOV/AFP Torcida. Maior público do torneio até agora foi na partida de ontem entre Portugal e Nova Zelândia, em São Petersburg­o

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