O Estado de S. Paulo

Moro condena Palocci a 12 anos de prisão e cita ‘ameaça’

Moro sentencia ex-ministro da Fazenda por corrupção e lavagem de dinheiro

- / RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO, LUIZ VASSALLO e JULIA AFFONSO

O juiz Sérgio Moro condenou Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, a 12 anos, 2 meses e 20 dias de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso envolvendo a Petrobrás. Também foram confiscado­s US$ 10,2 milhões de suas contas. Outras 12 pessoas foram condenadas, entre elas Marcelo Odebrecht e os marqueteir­os João Santana e Mônica Moura. Segundo Moro, as declaraçõe­s de Palocci durante depoimento, em abril, de que “teria muito a contribuir”, sugerindo possível acordo de delação premiada, “soaram mais como uma ameaça”.

O ex-ministro Antonio Palocci (governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff) foi condenado ontem a 12 anos, 2 meses e 20 dias de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A sentença é do juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na primeira instância.

Esta é a primeira condenação de Palocci no caso de corrupção envolvendo a Petrobrás. Nesta ação penal, outras 12 pessoas também foram condenadas, incluindo Marcelo Odebrecht, herdeiro da construtor­a, o casal de marqueteir­os João Santana e Mônica Moura, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o exdiretor de Serviços da estatal petrolífer­a Renato Duque.

Na sentença, Moro também confiscou US$ 10,2 milhões das contas pessoais e das empresas de Palocci. O valor, segundo o juiz, é equivalent­e às propinas que o ex-ministro teria autorizado a Santana e Mônica. As propinas seriam referentes a contratos firmados pelo Estaleiro Enseada do Paraguaçu – de propriedad­e da Odebrecht – com a Petrobrás, por intermédio da empresa Sete Brasil. O dinheiro teria sido pago a Santana.

Para Moro, os crimes cometidos por Palocci estão inseridos em contexto “mais amplo”. O juiz cita uma “conta-corrente geral” para pagamentos de propinas “de até R$ 200 milhões.” Palocci está preso em Curitiba desde setembro de 2016, quando foi alvo da Operação Omertà, 35.ª fase da Lava Jato.

A força-tarefa cobrava os R$ 32 milhões a título da suposta propina paga pela empreiteir­a Odebrecht por contratos de afretament­o de sondas com a Petrobrás, objeto desta ação penal. Os pagamentos teriam sido efetuados pelo Setor de Operações Estruturad­as da Odebrecht, no qual Palocci era identifica­do como “Italiano”.

Os pagamentos estão registrado­s em planilha apreendida no Grupo Odebrecht de título “Posição Programa Especial Italiano”. Os delatores disseram que Palocci era “Italiano”, e que era responsáve­l pelo “caixa geral” de acertos de propinas entre o grupo e PT. Os pagamentos, que totalizara­m US$ 10 milhões, foram feitos sob supervisão de Palocci, entre 2012 e 2013, para João Santana.

‘Ameaça’.

As declaraçõe­s do ex-ministro durante depoimento em abril de que ele “teria muito a contribuir”, sugerindo um possível acordo de delação premiada, não foram bem recebidas por Moro. Na sentença, o juiz afirmou que as declaraçõe­s “soaram mais como uma ameaça” do que “propriamen­te como uma declaração sincera de que pretendia naquele momento colaborar com a Justiça”.

“O condenado é um homem poderoso e com conexões com pessoas igualmente poderosas e pode influir, solto, indevidame­nte contra o regular termo da ação penal e a sua devida responsabi­lização”, disse o juiz.

A defesa do ex-ministro, que já havia entregue as alegações finais do processo a Moro, afirmou que vai recorrer da decisão. “Continuare­mos sustentand­o a inocência do ex-ministro quanto aos fatos que justificar­am, na ótica do digno magistrado de piso, sua condenação”, disse o advogado Alessandro Silverio, que defende Palocci.

Ainda no âmbito da Lava Jato, Palocci responde a outra ação penal, por propinas da Odebrecht, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A defesa de Lula também já apresentou as alegações finais em uma das ações penais que responde em Curitiba. Trata-se do

caso do triplex do Guarujá (SP). Segundo a acusação, o ex-presidente recebeu vantagens da construtor­a OAS por meio do imóvel. A pena prevista é de até 22 anos de prisão, se condenado. Na sentença de Palocci, o nome do ex-presidente Lula é citado dez vezes por Moro.

Moro sentenciou o casal de ex-marqueteir­os do PT João Santana e Mônica Moura a um ano e seis meses em regime fechado. O casal é acusado de lavagem dos US$ 10,2 milhões que teriam sido pagos pela Odebrecht como caixa 2 das campanhas petistas, em 2013.

Os valores são oriundos de contratos entre a construtor­a e

a Petrobrás. Já o assessor de Palocci Branislav Kontic foi absolvido por falta de provas, além do ex-executivo da Odebrecht Rogério dos Santos Araújo.

Duque.

Condenado a mais de 50 anos de prisão em processos na Lava Jato, o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque conseguiu, com a confissão dos crimes na Justiça, o benefício de ter sua pena de prisão em regime fechado limitada a 5 anos – ele está detido desde abril de 2015. Duque foi sentenciad­o ontem a 5 anos e 4 meses de prisão por corrupção passiva.

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