O Estado de S. Paulo

Procurador cita ‘esquema espúrio’ entre presidente e ‘seus comparsas’

Para Janot, Temer obteve ‘vantagem indevida’ de R$ 500 mil; defesa diz que denúncia não tem base ‘em fatos concretos’

- Fabio Serapião Breno Pires / BRASÍLIA

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou em denúncia apresentad­a ao Supremo Tribunal Federal que o presidente Michel Temer, “valendo-se de sua condição de chefe do Poder Executivo e liderança política nacional”, recebeu por intermédio de seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, “vantagem indevida de R$ 500 mil ofertada por Joesley Batista”.

Além dos R$ 500 mil entregues em mala de dinheiro, Janot afirma que Loures e Temer “ainda aceitaram a promessa de vantagem indevida no montante de R$ 38 milhões”.

Ainda segundo o procurador­geral da República, existe “um esquema espúrio que envolve Michel Temer e seus comparsas há alguns anos” e “nesta ocasião específica (entrega dos R$ 500 mil), Rodrigo Loures figurou como representa­nte de Temer, substituin­do outros que serviam como intermediá­rios para recebiment­os de propina pretéritos.”

Para justificar a necessidad­e da denúncia contra Temer, Janot se baseia nas informaçõe­s angariadas na delação dos executivos do grupo J&F e nas investigaç­ões conduzidas no âmbito da operação Patmos. Na denúncia, Janot aborda o encontro realizado no Palácio do Jaburu no qual Joesley gravou sua conversa com Temer. De acordo com a denúncia, o encontro serviu para tratar de “temas não republican­os”.

“As circunstân­cias deste encontro – em horário noturno e sem qualquer registro na agenda oficial do presidente da República – revelam o propósito de não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados”, afirma.

Após a gravação se tornar pública, Temer afirmou receber vários empresário­s durante a noite, mas, segundo Janot, não há relato desses encontros nas agendas oficiais. De acordo com a acusação, as conversas gravadas mostram que a ideia dos denunciado­s era manter encontros secretos sem registros oficiais. “A

conversa no Palácio do Jaburu foi apenas o ponto de partida para as solicitaçõ­es e recebiment­os de vantagens indevidas.”

Janot detalha os encontros posteriore­s entre Rocha Loures e Joesley e cita as reuniões realizadas entre o ex-assessor de Temer e o diretor de Relações Institucio­nais da JBS, Ricardo Saud.

Segundo a denúncia, as conversas e a investigaç­ão instaurada mostram que Rocha Loures atuou para que o Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) concedesse uma decisão favorável à Empresa Produtora de Energia de Cuiabá, do Grupo J&F. Nesse caso, Janot cita a ligação do ex-deputado para o presidente do Cade Gilvândro Araújo durante um encontro com Joesley, em 13 de março.

No entendimen­to de Janot, foi nesse encontro que ficou definida a propina de 5% sobre valor do lucro estimado com a operação e que resultou na entrega da mala de R$ 500 mil com a qual Rocha Loures foi flagrado correndo em operação controlada da PF.

Defesa. Questionad­o sobre a denúncia, o advogado Antônio Cláudio Mariz, que representa o presidente, afirmou que vai se manifestar “mais profundame­nte” quando tiver acesso à denúncia. “Mas posso desde logo afirmar a minha absoluta certeza de que a denúncia não está calcada em fatos concretos e comprovado­s, uma vez que o presidente da República não cometeu nenhuma conduta que pudesse ser enquadrada no tipo penal da corrupção passiva.”

O Palácio do Planalto informou que não iria se manifestar.

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