O Estado de S. Paulo

‘Corrupção é violação de direitos humanos’, diz secretária de Temer

Flávia ficará em órgão da OEA por 4 anos e diz que vai lutar contra desvios; segundo ela, governo tem ‘loteamento’

- William Castanho

Secretária de Direitos Humanos do governo Michel Temer e professora da Pontifícia Universida­de Católica de São Paulo (PUC-SP), Flávia Piovesan, de 48 anos, foi eleita na semana passada membro da Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos (CIDH), da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), para um mandato de quatro anos (2018-2021). Ela disse que, no órgão, que congrega 34 países, vai atuar no combate à corrupção. “A corrupção é uma grave violação de direitos humanos.”

A candidatur­a de Flávia foi incentivad­a e celebrada por Temer para mostrar força no cenário internacio­nal. “Agradeço a nossos parceiros da região a confiança depositada na candidata brasileira e no Brasil”, escreveu Temer, no Twitter, na quinta-feira passada, enquanto viajava pela Europa. A seguir os principais trechos da entrevista de Flávia ao Estado:

Houve resistênci­a à sua candidatur­a em ONGs dos direitos das mulheres, nos movimentos sociais e na sociedade civil. Como a senhora recebeu isso?

Fiquei muito tranquila. Respeito a decisão do Cladem (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher), do qual eu participei, e tive a honra de participar. Me doeu. Fazem parte da democracia a divergênci­a, o pluralismo e a liberdade de expressão. Sofri críticas mesmo. Sou um perfil técnico em um governo de coalizão, em que há o loteamento dos cargos com viés mais político. Sou um perfil técnico. Se os requisitos da convenção são expertise, tenho 20 anos na área, com quatro experiênci­as diferentes: como acadêmica, peticionár­ia, participan­te da ONU e da OEA, e do Estado.

Como a senhora avalia o sistema político brasileiro e o que a senhora vai fazer na CIDH em relação à corrupção?

A corrupção é uma grave violação de direitos humanos, viola, impacta políticas sociais, é um desvio. Tenho defendido que o Brasil vive uma crise econômica e política, mas não institucio­nal, nossas instituiçõ­es funcionam. O nosso Judiciário é independen­te. A nossa polícia investiga. O Legislativ­o, com a sua heterogene­idade, adota as medidas, com consensos, dissensos, arranjos e tudo o mais. O Executivo executa políticas públicas. Creio que no Brasil temos uma maturação institucio­nal que, por vezes, não vemos nas outras geografias da região. Há a Convenção Interameri­cana de Combate à Corrupção. Temos de prevenir, investigar, processar e punir e (exigir) que haja a devolução aos cofres públicos.

Esse trabalho na CIDH vai ser independen­te?

Vai, eu dou a minha palavra aqui de que será. Não poderei lidar com os casos do Brasil. Lidarei com outros casos. Tenho uma história a honrar. Sou uma crente no sistema que salvou vidas, que fortalece a democracia, os direitos humanos e o Estado de direito.

O presidente é investigad­o. A senhora acha que o presidente deve responder a uma eventual acusação formal?

Defendo que, no Estado de direito, pela ética republican­a, ninguém está acima da legalidade. E você mede o Estado de direito se esta legalidade se aplica ao mais vulnerável e ao príncipe. E eu creio que o Brasil está caminhando para o fortalecim­ento do Estado de direito quando todos estão submetidos à legalidade. Independen­temente do cargo, a legalidade a todos alcança, e nós temos de confiar nas nossas instituiçõ­es.

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL -24/1/2016 Direitos humanos. Secretária de Temer foi eleita para órgão da OEA

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