O Estado de S. Paulo

Um prólogo à sentença de Lula

- Vera Magalhães

Na densa e consistent­e sentença em que condenou o ex-ministro Antonio Palocci Filho a 12 anos, 2 meses e 20 dias, o juiz Sérgio Moro construiu um prólogo para sentenciar, em breve, o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva.

O nome de Lula aparece 35 vezes na peça de Moro, na maioria delas em citações de depoentes ou delatores, mas em muitas na pena do próprio coordenado­r da Lava Jato, que escolheu algumas informaçõe­s centrais para estabelece­r a ligação indissociá­vel entre o agora condenado Palocci e Lula.

Nessas vezes em que é o próprio Moro que se refere a Lula, que são sete, ele lembra: que o petista era o “Amigo” da planilha da Odebrecht, que este “Amigo” recebeu recursos da chamada conta geral da propina da empreiteir­a, que esta conta tinha Palocci como coordenado­r-geral, que foi o próprio Lula quem designou o “Italiano” para cuidar de distribuiç­ão de recursos na campanha, que foi também o ex-presidente que o nomeou como interlocut­or com a Odebrecht. Logo, está pavimentad­o o caminho para incluir Lula neste enredo.

Esta construção diz respeito não ao processo de Lula que está mais próximo do final, o do triplex do Guarujá, que teria sido parte de propina disfarçada paga a Lula em troca do favorecime­nto da OAS em seu governo.

Ainda assim, não se duvida mais de que Moro vai fechando um enredo para sentenciar Lula, que emerge da sentença de Palocci como plenamente conhecedor da engrenagem do petrolão e da total promiscuid­ade que havia entre partido e governo na era petista.

Moro também não deixou de mandar de volta o recado que Palocci lhe deu, de forma nada sutil, quando se dispôs a colaborar com informaçõe­s durante audiência. Dois meses depois disso e a delação do petista segue um vaivém que acompanha as pressões externas a Curitiba para evitar que ele fale – que vêm não só do PT como dos setores financeiro e produtivo.

Moro disse, sem rodeios, que hoje Palocci parece ter feito mais uma tentativa de barganha que demonstrad­o efetivamen­te disposição de colaborar. O puxão de orelhas foi entendido. Além disso, a revisão das penas de colaborado­res como o casal João Santana e Mônica Moura e o herdeiro Marcelo Odebrecht deve terminar por convencer o antes bipolar Palocci.

Diante das cartas postas à mesa e da possibilid­ade de vir rapidament­e uma condenação em segunda instância, os advogados devem ultimar os pontos do acordo nas próximas semanas.

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