O Estado de S. Paulo

Oposição e base aliada se unem por fundo eleitoral

Dificilmen­te outros pontos da reforma política terão consenso na Câmara e no Senado para começar a valer já nas eleições de 2018

- / THIAGO FARIA, JULIA LINDNER, ISABELA BONFIM, ANDRÉ ÍTALO ROCHA E DANIEL WETERMAN

A pouco mais de três meses do prazo para fazer mudanças para 2018, as duas Casas do Congresso parecem caminhar para o consenso em, pelo menos, um ponto: a criação de um fundo eleitoral. Na Câmara, o relator da reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP), propõe fundo com recursos públicos para o ano que vem de R$ 3,5 bilhões, e R$ 2,2 bilhões, em 2020. Já no Senado, o líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR) deve apresentar hoje uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) com fundo de R$ 3,5 bilhões. Segundo senadores da oposição consultado­s pelo Estado, embora ainda haja discordânc­ias em relação à divisão do fundo, estimado em R$ 3,5 bilhões, há consenso sobre a necessidad­e de se aprovar uma nova fórmula para financiar as candidatur­as. Pelas regras atuais, apenas doações de pessoas físicas são permitidas nas eleições. Um dos pontos que a oposição deve tentar alterar é a divisão consideran­do também as bancadas no Senado. Para a partilha do fundo, só bancadas na Câmara são levadas em conta. Os presidente­s do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), devem discutir a proposta em encontro hoje com e líderes partidário­s.

Fiesp.

Maia esteve presente em um evento sobre o tema na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ontem. O presidente da Câmara disse que as Casas vão construir calendário conjunto para reforma política, mas também afirmou que vai ser difícil ter maioria para aprovar. “Não é fácil. A gente sabe que não é simples construir maioria em um tema tão complexo”, disse. Na defesa de um fundo para campanhas, o relator da reforma na Câmara, que também esteve na Fiesp ontem, disse que seus cálculos apontam para redução de 20% nos custos das campanhas, em relação aos valores de hoje. Além disso, pessoas físicas poderiam fazer doações para candidatos que somariam entre R$ 600 milhões e R$ 1 bilhão. Com o fundo e as doações, o custo total de campanhas ficaria em torno de R$ 3 bilhões, “dentro do razoável”. Cândido disse que não vê maioria no Congresso para aprovar as grandes mudanças da reforma política. Assim, ele defendeu uma transição no sistema, em que já passe a valer em 2018 um fundo público para financiame­nto de campanha e medidas que diminuam o número de candidatos. Para ele, o financiame­nto público de campanhas hoje não é possível pelo número de candidatos que há. “Hoje é muito difícil construir maioria. Nós temos um monte de general sem tropa. Os presidente­s e líderes não têm mais os domínios e comandos de suas bancadas. São poucas as bancadas que conseguem fechar questão. Resta a negociação individual e isso é muito difícil”, disse o relator. Para que eventuais mudanças possam valer a partir da eleição de 2018, o Congresso tem de aprová-las com pelo menos um ano de antecedênc­ia, ou seja, no máximo até setembro. No evento de ontem, Maia avaliou que há possibilid­ade de a cláusula de barreira e o fim das coligações passarem ainda neste ano, pois já têm “acordo avançado” nas duas Casas. De acordo com a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC), que propõe as duas mudanças, a cláusula valeria para 2018 e o fim das coligações para 2020. Autor da PEC, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), também esteve no evento da Fiesp, e avaliou que o texto, que já tramitou

Fim de coligações em eleições proporcion­ais e a cláusula de barreira são dois passos inadiáveis. A partir daí podemos discutir outros pontos, como o voto obrigatóri­o ou facultativ­o.” Ricardo Ferraço (PSDB-ES)

SENADOR E AUTOR DA PEC DA REFORMA POLÍTICA

Hoje é muito difícil construir maioria. Nós temos um monte de general sem tropa. Os presidente­s e líderes não têm mais os domínios e comandos de suas bancadas.”

Vicente Cândido (PT-SP)

DEPUTADO E RELATOR DA PROPOSTA NA CASA

no Senado, tem condições de ser aprovado na Câmara. “Hoje temos 34 partidos registrado­s e outros nove em vias de registro. Como vamos

construir uma agenda objetiva e racional com 42 ou 43 partidos?”, questionou o senador, que disse que, com a criação da cláusula, o número de partidos com atuação parlamenta­r seria reduzido para 12.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-4/04/2017
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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-30/05/2017

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