O Estado de S. Paulo

Pacote de R$ 55 bi influi em apoio de prefeito e Alckmin a Temer

Para tucanos, sucesso de planos de desestatiz­ação da Prefeitura e do Estado depende da estabilida­de econômica

- Adriana Ferraz

Geraldo Alckmin (PSDB)

“Então, ele (investidor) não está enxergando o Brasil deste ou do ano que vem. O segundo ponto a se destacar é que São Paulo oferece segurança jurídica.” Segurança jurídica

GOVERNADOR DE SÃO PAULO

Não é só a disputa presidenci­al de 2018 ou a importânci­a dada às reformas que explica a posição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito da capital, João Doria, pela permanênci­a do PSDB na base aliada do presidente Michel Temer. Em ambos os casos, um fator extra tem sido levado em consideraç­ão: tanto o Estado como a Prefeitura têm como foco de suas gestões programas de desestatiz­ação que dependem da estabilida­de econômica e também política do País para atrair investidor­es. Juntos, governo e Prefeitura ofertam hoje uma cartela de negócios de cerca de R$ 55 bilhões.

Uma eventual segunda troca de presidente em pouco mais de um ano poderia afugentar investidor­es e reduzir as chances de fechar bons negócios a tempo de mostrar ao menos parte dos resultados antes da corrida eleitoral. Com a arrecadaçã­o em baixa, os tucanos têm colocado todas as suas fichas nas possibilid­ades de parcerias com a iniciativa privada para engordar o caixa.

Há um mês, Alckmin e Doria cumpriram uma agenda extensa em Nova York e Washington, com o intuito de apresentar seus projetos a empresário­s brasileiro­s e estrangeir­os. Doria, especialme­nte, já fez três viagens internacio­nais desde janeiro com essa mesma pauta: tentar vender os 55 ativos listados por sua gestão no plano municipal de desestatiz­ação. Na relação, estão o Estádio do Pacaembu, o Autódromo de Interlagos e o Complexo do Anhembi, além de parques, mercados e cemitérios.

A relação de Alckmin é ainda mais ousada. Inclui, por exemplo, concessões de rodovias estaduais, linhas de trem e metrô, sistemas de abastecime­nto de água e ainda habitações de interesse social. Na análise do governador, que já alcançou bons resultados neste ano ao conceder estradas – o leilão da Rodovia dos Calçados, na região de Franca, por exemplo, obteve ágio recorde de 438% e rendeu R$ 1,2 bilhão em outorga –, a instabilid­ade política pode prejudicar seus planos.

“É claro que sempre atrapalha um pouco”, disse Alckmin. O que pode minimizar os efeitos da crise no governo Temer, segundo o governador, é que o investimen­to, neste caso, é de médio e longo prazo, já que os contratos de concessão são de 20 a 30 anos.

“Então, ele não está enxergando o Brasil deste ou do ano que vem. Esse é um ponto importante. O segundo ponto a se destacar é que São Paulo oferece segurança jurídica. Nossas concessões são da década de 1990 e temos agências reguladora­s profission­alizadas. Isso nos ajuda”, afirmou Alckmin.

Cronograma.

O governador disse também que vai manter o cronograma estabeleci­do para os leilões. No próximo dia 5, por exemplo, ele participa do leilão da Linhas 5-Lilás e 17-Ouro do Metrô na Bolsa de Valores de São Paulo. O lance inicial para os dois ramais é de R$ 189 milhões, mas com previsão de alta. Ao todo, o programa estadual está avaliado hoje em US$ 14,6 bilhões, ou cerca de R$ 48 bilhões.

Para aumentar a concorrênc­ia e atrair empresas estrangeir­as, o governo estadual alterou as regras das concessões paulistas, retirando uma exigência técnica que limitava a participaç­ão a empreiteir­as. Neste ano, até abril, Alckmin ainda fechou a concessão de 570 km de rodovias no centro-oeste do Estado e de cinco aeroportos de aviação executiva.

“Temos de transforma­r as necessidad­es do Brasil na área da infraestru­tura em oportunida­des. Com boas reformas, o País vai crescer, o emprego vai ser retomado, assim como o consumo e a renda. A razão de o PSDB ter permanecid­o é essa: as reformas. O nosso compromiss­o não é com o governo”, afirmou.

Doria segue o mesmo discurso. Para o prefeito, a continuida­de das reformas e a manutenção da política econômica da gestão Temer, que, na sua análise, vem sendo bem realizada, dão o caminho de que é possível ainda a investidor­es nacionais e internacio­nais confiarem no manejo econômico do País e em uma razoável estabilida­de política para permitir que alguns investimen­tos sejam realizados.

“Pior seria se tivéssemos instabilid­ade plena, o enfraqueci­mento do governo e sua paralisaçã­o quase que por completa diante de uma saída do PSDB. Felizmente, preservou-se o bom senso e o equilíbrio, mas dentro de um aval que não é incondicio­nal”, afirmou Doria, sobre a decisão tomada pela executiva nacional da legenda no início deste mês.

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ALEXANDRE CARVALHO/A2IMG Evento. Alckmin durante encontro sobre etanol em SP

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