O Estado de S. Paulo

May se mantém no cargo com apoio de norte-irlandeses

Primeira-ministra fecha acordo com partido conservado­r protestant­e e irrita galeses, escoceses e nacionalis­tas católicos da Irlanda do Norte

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Pouco mais de duas semanas após o revés na eleição no Reino Unido, quando perdeu a vantagem necessária para comandar o Parlamento, a primeira-ministra britânica, Theresa May, assinou ontem um acordo com o Partido Unionista Democrátic­o (DUP), legenda conservado­ra protestant­e da Irlanda do Norte, garantindo estreita maioria no Legislativ­o.

O entendimen­to inclui um pacote de 1 bilhão de libras em investimen­tos na economia irlandesa e era essencial para a sobrevivên­cia do gabinete da premiê. Com os 317 assentos do Partido Conservado­r (Tories), mais os 10 do DUP, a premiê terá dois a mais que a maioria de 325 necessária para governar. Pelo acordo, os deputados do DUP apoiarão os projetos mais importante­s do governo de May, como voto de confiança e orçamento.

Ainda assim, não se trata de um acordo de coalizão, já que os conservado­res irlandeses não terão cargos no gabinete. Em troca, May foi obrigada a aceitar exigências da líder protestant­e, Arlene Foster. Ontem, na saída da última reunião entre elas, a norte-irlandesa anunciou que Londres investirá 1 bilhão de libras (US$ 4 bilhões) em infraestru­tura. “Esse dinheiro vai estimular a economia e o investimen­to em novas infraestru­turas, assim como nos setores de saúde e educação”, disse Foster.

Estão previstas novas estradas, hospitais e rede de internet

de alta velocidade, além de garantias sobre aposentado­rias e um programa de subsídio para equipament­os de aqueciment­o residencia­l. O acordo foi criticado pela oposição porque prejudicar­ia o princípio de neutralida­de de Londres em relação à disputa política entre o DUP, protestant­e e pró-Reino Unido, e o Sinn Féin, partido católico e favorável à unificação da Irlanda, que governavam a Irlanda do Norte em coalizão compulsóri­a – parte do Acordo de Paz da Sexta-feira Santa, que encerrou 30 anos de violência, em 1998. Há seis meses, o poder está vago por falta de acordo entre os dois partidos.

Para Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhist­a e principal opositor a May, o acordo entre Tories e DUP “não vai no sentido do interesse nacional”. Gerry Adams, líder do Sinn Féin, também protestou contra o entendimen­to, afirmando que a coalizão ameaça criar condições para o retorno de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte, integrante do Reino Unido, e a República da Irlanda, independen­te.

Não bastasse a questão nacional da Irlanda, o acordo provocou indignação na Escócia e no País de Gales, também membros do Reino Unido. Os investimen­tos obtidos pelo DUP foram definidos como “escandalos­os” e “inaceitáve­is” pelo premiê galês, Carwyn Jones. Para Nicola Sturgeon, premiê escocesa, May se agarra ao poder. “Todo o sentido da igualdade foi sacrificad­o”, criticou.

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NEIL HALL/REUTERS Sobrevivên­cia. May (E) cumpriment­a líderes do DUP; oposição e vizinhos criticam acordo
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