O Estado de S. Paulo

Com câncer, Nobel da Paz chinês é solto da prisão

Ativista, que foi um dos líderes dos protestos de 1989, foi condenado em 2009 após assinar texto exigindo democracia

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As autoridade­s chinesas libertaram da prisão o prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo, de 61 anos, vítima de um câncer de fígado em fase terminal, anunciou ontem o advogado do ativista. “Ele está sob tratamento em um hospital de Shenyang (Província de Liaoning). Não tem nenhum plano especial”, disse o advogado Mo Shaoping. O câncer foi diagnostic­ado no dia 23 de maio.

Professor, intelectua­l e dissidente político do regime de Pequim, Liu cumpria desde 2009 uma pena de 11 anos de prisão por “subversão”, depois de ter sido um dos autores da chamada Carta 08, um manifesto que defendia a adoção da democracia na China. Ele ainda tinha três anos de condenação para cumprir.

O dissidente ganhou o Nobel da Paz em 2010, quando já estava detido. Por sua ausência, o prêmio foi entregue de forma simbólica no dia 10 de dezembro do mesmo ano em Oslo. O ativista foi representa­do por uma cadeira vazia durante a cerimônia.

A atribuição do prêmio Nobel provocou indignação entre as autoridade­s da China, levando o governo a congelar as relações de alto nível com a Noruega, o que afetou as exportaçõe­s de salmão norueguês aos chineses. Pequim qualificou Liu de “criminoso”.

O Comitê do Nobel manifestou ontem sua satisfação com a notícia da libertação do dissidente e disse que ele jamais deveria ter sido preso porque só exerceu sua “liberdade de expressão”.

As autoridade­s chinesas têm “uma grande responsabi­lidade” se a privação de liberdade tiver impedido que Liu recebesse a ajuda médica necessária a tempo, acrescento­u o Comitê, que lembrou manter seu convite para que o dissidente possa viajar a Oslo para receber seu prêmio.

A mulher do ativista, Liu Xia, está sob detenção domiciliar. Segundo amigos afirmaram ao New York Times, o isolamento e a depressão têm agravado seus problemas cardíacos e ela não consegue ter acesso a tratamento adequado.

Líder histórico. A condenação em 2009 não foi a primeira recebida por Liu Xiaobo durante seus esforços para cobrar democracia na China. Professor na Universida­de Normal de Pequim, ele foi uma das figuras de maior destaque nos protestos que ocorreram na capital e em outras cidades da China em 1989, culminando no massacre da Praça Tiananmen.

Após a ordem de invasão da praça recebida pelos militares, Liu ainda conseguiu negociar a retirada pacífica de parte dos manifestan­tes, evitando um número ainda maior de mortes. Após o fim dos protestos, o ativista foi condenado a 21 meses, a primeira de diversas sentenças a que foi submetido por sua militância contra o regime.

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LIU XIA/EFE ‘Subversivo’. Liu Xiaobo foi condenado a 11 anos em 2009

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