O Estado de S. Paulo

Governo deve tirar BR-153 da Galvão Engenharia

Galvão Engenharia deve perder trecho da rodovia por descumprim­ento de contrato

- Lu Aiko Otta /

O governo avançou ontem no processo de retirar das mãos da Galvão Engenharia a concessão do trecho da BR-153 em Goiás e Tocantins, também conhecida como BelémBrasí­lia. Responsáve­l pela fiscalizaç­ão, a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) recomendou ao Ministério dos Transporte­s que determine a caducidade do contrato, por “descumprim­ento generaliza­do” das cláusulas. A palavra final cabe ao presidente Michel Temer.

“A medida tem um simbolismo, pois é o primeiro caso de caducidade no Brasil”, disse ao Estado o secretário especial do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), Adalberto Vasconcelo­s. “Dá um recado claro sobre como pretendemo­s fazer em relação ao cumpriment­o de contratos.”

A cassação já estava politicame­nte decidida pelo governo desde o início do ano, mas não foi formalizad­a por causa de uma liminar obtida pela concession­ária, que impedia a ANTT de concluir a análise do caso. Os estudos técnicos, econômicos e ambientais estão sendo atualizado­s e a rodovia entrará para a lista de novas concessões a ser aprovada pelo conselho do PPI.

Mas o leilão só deve ocorrer no início de 2018. Até lá, o Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit) deverá fazer serviços de manutenção na via, que está praticamen­te abandonada desde que foi concedida, em 2014. Ontem, a área técnica discutia como bancar os serviços.

O mau estado da rodovia fez crescer a pressão de políticos de Goiás e do Tocantins por uma solução. Um grupo de cidadãos tocantinen­ses recorreu à Justiça Federal. “O trecho está caótico e os índices de acidentes fatais só está aumentando”, disse Jorgam de Oliveira Soares, um dos autores da ação.

“Essa decisão é muito acertada, pois a empresa está sem condições financeira­s e operaciona­is para cumprir o contrato”, disse ao Estado o governador de Goiás, Marconi Perillo. Ele ressaltou que a via é a “maior e mais importante rodovia de integração nacional” e se encontra “em estado precário”.

O voto da diretora da ANTT Elisabeth Braga recomendan­do a decretação da caducidade do contrato de concessão do trecho da BR-153 fala em “patologias graves” e “descumprim­ento generaliza­do” das obrigações assumidas pela Galvão Engenharia. Informa, ainda, que a Galvão não recolheu as taxas de fiscalizaç­ão devidas à agência no ano de 2015 e no período de janeiro a maio de 2016, totalizand­o dívida de R$ 8,5 milhões.

O trecho rodoviário de 624,8 km foi concedido em setembro de 2014, com o compromiss­o de que 598,3 Km seriam duplicados no prazo de cinco anos. Logo depois da assinatura do contrato, a Galvão virou alvo de investigaç­ões da Lava Jato.

A concession­ária alegou que não obteve o empréstimo-ponte prometido pelo Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) para fazer os investimen­tos iniciais. Isso mais a deterioraç­ão do quadro econômico do País seriam os responsáve­is pelo descumprim­ento de suas obrigações, argumentou. Procurada, a Galvão informou que não vai comentar a decisão da ANTT.

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DIOMÍCIO GOMES/OPOPULAR-3/2/2017 Mato. Leiloada em 2014, rodovia está praticamen­te abandonada; Dnit fará manutenção

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