O Estado de S. Paulo

Eletrobrás abandona 43 projetos

Parte das 177 sociedades com iniciativa privada tem custo financeiro superior ao retorno e continuida­de das obras não se justifica, diz presidente

- Fernanda Nunes

Em resposta ao vazamento de conversa com sindicalis­tas, durante a qual afirmou que “vagabundos” e “safados” ocupam cargos de chefia na Eletrobrás, o presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior, disse que “exagerou”, mas que tem uma agenda a enfrentar. “É preciso mudar a cultura da empresa, que não é voltada para a meritocrac­ia”, afirmou. Ele admitiu ainda o abandono de 43 projetos, alguns com custo financeiro quatro vezes superior ao retorno que a empresa teria se optasse por concluir a obra.

Esses 43 projetos são Sociedades de Propósito Específico (SPE), um modelo de negócio que proliferou nos últimos anos, no qual empresas estatais se associam à iniciativa privada. Como não são projetos 100% estatais, não têm suas contas vasculhada­s pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como os demais. Mas são investigad­os pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato, que avalia possível interferên­cia do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em negócios fechados por Furnas.

Segundo Ferreira, não há entre as SPEs contratada­s nos últimos anos “nenhuma cuja taxa de retorno seja superior a 5%” ao ano, enquanto, pelo mesmo projeto, a Eletrobrás paga juros de financiame­nto de 20% ao ano. Os números foram divulgados pelo presidente da Eletrobrás na televisão interna da empresa, no vídeo em que se desculpa por ter chamado funcionári­os de vagabundos, ao mesmo tempo que tenta engajar os empregados a aderir à reestrutur­ação proposta por ele.

Ao todo, a Eletrobrás participa de 177 SPEs, das quais 43 foram abandonada­s, 24 estão em construção e 110, em operação. Nesse grupo, estão grandes projetos, como a hidrelétri­ca de Belo Monte, no Pará, que tem conclusão prevista para dezembro de 2019.

Já a construção da usina nuclear Angra 3, um projeto 100% estatal, também alvo da Lava Jato, deve ser retomada em 2019 e concluída em 2023. Nesse caso, a Eletrobrás considerou que vale investir mais R$ 2 bilhões para concluir 37% da obra do que perder os R$ 8 bilhões já investidos. Para isso, deve contar com a parceria minoritári­a da iniciativa privada, que poderá ser de chineses, russos, franceses ou coreanos. Todos demonstrar­am

“De fato, exagerei. As pessoas não são vagabundas. Me arrependo disso e me desculpei em seguida.”

interesse no negócio, apesar das denúncias de corrupção na obra.

Segundo Ferreira, no passado, “a holding (controlado­ra) não foi efetiva” o suficiente para evitar a interferên­cia política nas controlada­s da Eletrobrás. O presidente admitiu que o Ministério de Minas e Energia continua indicando chefias para o grupo, mas afirma que qualquer um que assumir cargo de chefia na empresa é obrigado a se adequar às exigências internas de qualificaç­ão técnica e ética para o cargo.

Assim, como acontece na Petrobrás, o enxugament­o de pessoal e custos da atual gestão é pautado pela meta de redução do compromiss­o do caixa com o pagamento de dívidas. Em 2016, a empresa lucrou R$ 3,4 bilhões, o primeiro resultado anual positivo desde 2011.

“O fascínio que eu tenho aqui é implantar esse programa (de reestrutur­ação).” Wilson Ferreira Júnior PRESIDENTE DA ELETROBRÁS

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Sociedade. Segundo Ferreira, últimas SPEs contratada­s têm taxa de retorno menor que 5%

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