O Estado de S. Paulo

Itália aprova socorro de ¤ 17 bilhões a bancos

Banca Popolare di Vincenza e Veneto Banca serão incorporad­os ao Intesa Sanpaolo

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

O governo da Itália começou ontem a pôr em prática medidas de emergência para socorrer dois bancos que estavam ameaçados de insolvênci­a, deixando sob risco todo o sistema financeiro do país. Banca Popolare di Vincenza e Veneto Banca serão absorvidos pelo banco Intesa Sanpaolo, que por sua vez receberá ¤ 4,78 bilhões em injeção de recursos públicos para garantir “a capitaliza­ção e reforçar a situação patrimonia­l”. Outros ¤ 12 bilhões serão empregados no plano de socorro como garantias para créditos duvidosos em poder das duas instituiçõ­es – totalizand­o assim os ¤ 17 bilhões em dinheiro

do Estado.

O objetivo de Pier Carlo Padoan, ministro de Economia italiano, é estabiliza­r a situação do sistema financeiro, objeto de dúvidas e de especulaçõ­es nos mercados financeiro­s há quase dois anos. A crise dos dois bancos italianos é o ponto mais agudo da turbulênci­a que afeta as instituiçõ­es bancárias do país. Uma das intenções do governo italiano com a medida é garantir os depósitos de pequenos poupadores, como prevê a regulação da União Europeia. “O total de recursos mobilizado­s poderá chegar a ¤ 17 bilhões, mas a despesa imediata para o Estado é de um pouco mais de ¤ 5 bilhões”, explicou o ministro de Economia, ex-economista-chefe da Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico (OCDE).

Além dos recursos investidos no fortalecim­ento do Intensa Sanpaolo, o Estado italiano decidiu proteger os recursos de poupadores mobilizand­o os demais ¤ 12 bilhões, que só serão empregados em caso de necessidad­e. “Esse decreto permite estabiliza­r a economia do Vêneto e preservar a atividade econômica dos bancos da região”, argumentou Padoan.

No fim de semana, o governo italiano sofreu fortes críticas porque o Intensa Sanpaolo assumiu o controle das duas instituiçõ­es pelo valor simbólico de ¤ 1, além de ter recebido o aporte.

Outra crítica diz respeito ao fato de que o Intesa Sanpaolo não terá de administra­r apenas os créditos podres em troca do subsídio de ¤ 5 bilhões, mas também herdará os créditos em ativos em boa saúde das duas instituiçõ­es. Uma das dúvidas em Roma dizia respeito ao fato de que a União Europeia poderia considerar o socorro uma distorção da concorrênc­ia no interior do bloco.

Para o economista francês Nicolas Veron, especialis­ta em sistema financeiro europeu do Instituto Bruegel, de Bruxelas, e do Peterson Institute for Internatio­nal Economics, de Washington, essa hipótese está em aberto. “Essa é uma das grandes questões agora”, entende, arriscando um prognóstic­o: “A Comissão Europeia não parece considerar (o socorro) como ajuda de Estado”.

Sem opção. Respondend­o às críticas, Padoan afirmou que o acordo de socorro foi o melhor que poderia ter sido assinado. “A única solução alternativ­a seria a falência desordenad­a, ou a venda em pequenos pedaços dos dois bancos, o que teria destruído completame­nte a capacidade operaciona­l das instituiçõ­es”, sustentou. Ainda de acordo com o ministro, a nacionaliz­ação dos dois bancos – um procedimen­to adotado pelo Reino Unido no auge da crise financeira de 2008, por exemplo – não era uma opção.

O modelo de socorro adotado foi idêntico ao empregado pelo governo de Mariano Rajoy, na Espanha, para evitar a falência do Banco Popular, absorvido pelo Santander também pelo valor simbólico de ¤ 1. Madri usou então o Mecanismo de Resolução Única (MRU), criado pela União Europeia para permitir que o Banco Central Europeu (BCE) auxilie países em caso de ameaças sobre o sistema financeiro nacional.

O Banco Popular, assim como as duas instituiçõ­es italianas, estava em dificuldad­es financeira­s em razão da alta relação entre ativos tóxicos – créditos imobiliári­os de alto risco, que na prática não serão reembolsad­os. Segundo Carlo Messina, diretor-presidente do Intesa Sanpaolo, a participaç­ão de sua instituiçã­o no acordo italiano permitirá salvar as economias dos clientes dos dois bancos, assim como as finanças de 200 mil empresas. “Nossa intervençã­o permitirá resguardar mais de ¤ 50 bilhões em poupanças confiadas aos dois bancos e proteger dois milhões de clientes”, alegou.

Messina também prometeu que os ¤ 5 bilhões injetados pelo Estado serão colocados à disposição em linhas de crédito para fomentar a economia do Vêneto.

“A única solução seria a falência desordenad­a ou a venda em pequenos pedaços dos dois bancos.” Pier Carlo Padoan

MINISTRO DE ECONOMIA DA ITÁLIA

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LUCA BRUNO/AP Medida. Com intervençã­o, governo quer garantir depósito de pequenos poupadores

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