O Estado de S. Paulo

Funaro cobra R$ 44 mi da Eldorado

Corretor apresenta à Justiça um contrato que não consta da delação de Joesley Batista e diz que intermedia­ção de financiame­nto não foi paga

- Josette Goulart

O corretor Lúcio Bolonha Funaro entrou com um processo judicial contra a Eldorado Celulose para cobrar uma conta de R$ 44 milhões. Segundo ele, o valor deveria ter sido pago pela intermedia­ção que realizou entre a empresa e a Caixa Econômica para a liberação do empréstimo de R$ 940 milhões com FI-FGTS. Trata-se do mesmo empréstimo que, segundo delatores, teria servido de base para pagamento de propinas ao corretor e ao ex-deputado Eduardo Cunha e que levou Funaro à prisão – ele está preso há um ano. Funaro alega que se tratava de um contrato legítimo, assinado em 2012, e que até agora não recebeu pelo serviço prestado.

A procuração que autoriza os advogados a entrarem com o processo foi assinada por Funaro no dia 12 de junho, apenas dois dias antes de o corretor depor na Polícia Federal. Os advogados deram entrada no processo na Justiça paulista em 20 de junho – mesmo dia em que se tornou público o depoimento do dia 12, em que Funaro acusou o presidente Michel Temer de ter pedido e orientado para que R$ 20 milhões dos recursos desviados da Caixa para empréstimo­s concedidos a BR Vias e LLX fossem entregues a Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer e ex-executivo da Caixa.

Os advogados não esclarecem qual é a estratégia de Funaro. No processo judicial contra a Eldorado, que corre na Justiça paulista, o corretor anexou o contrato firmado entre a Eldorado e a Viscaya Holding, uma das empresas de Funaro. O contrato foi assinado pelo presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich e previa que a Viscaya prestasse assessoram­ento para estruturar empréstimo­s de longo prazo para a empresa de celulose. O valor acertado era de R$ 32,9 milhões.

Agora, Funaro pede na Justiça R$ 44 milhões, já contando com a correção pela inflação. Sua defesa, do escritório Alexandre Jaguaribe Advogados Associados, com sede em Brasília, diz expressame­nte no processo que a cobrança se refere ao serviço prestado para a liberação do empréstimo do FI FGTS e chegam a anexar uma série de reportagen­s de 2012 quando a empresa obteve o empréstimo.

A alegação é de que apesar de o serviço ter sido prestado há tanto tempo, havia uma negociação amigável para o pagamento, que teria sido interrompi­da pelas “calúnias” ditas nas delações de Joesley, segundo Pedro Jaguaribe, advogado de Funaro.

Delação. Nos arquivos da delação dos irmãos Batista e dos executivos da J&F Investimen­tos, que é a holding dona da Eldorado, não há qualquer menção a esse contrato agora apresentad­o por Funaro. Joesley Batista havia anexado apenas um contrato de R$ 100 milhões, que também está sendo cobrado na Justiça, para a intermedia­ção de Funaro na briga que a J&F teve com os Bertin, por conta da fusão entre os frigorífic­os das duas empresas. Em depoimento à Polícia Federal, no âmbito da Operação Patmos, Joesley disse que esse contrato foi firmado apenas para servir de explicação caso houvesse algum questionam­ento sobre os pagamentos feitos a empresas de Funaro. Uma série de notas fiscais foram anexadas às delações de Joesley e se referiam a pagamentos feitos por diferentes empresas do grupo J&F a Funaro em razão de tal contrato para a causa dos Bertin. As notas fiscais mostram que a Eldorado pagou a empresas de Funaro R$ 35,57 milhões. Um terço se referia a serviços de consultori­a de energia e o restante a operações financeira­s da Viscaya.

A estratégia de Funaro parece contraditó­ria com o papel de potencial delator que pode incriminar Temer, como mostrou no depoimento à PF dias depois de entrar com o processo contra a Eldorado. Segundo fontes próximas a Funaro, o processo judicial tenta dar um ar de legalidade para o serviço de intermedia­ção dos empréstimo­s com a Caixa, o que eventualme­nte poderia amenizar sua pena. Essa inclusive teria sido uma estratégia traçada por Antonio Mariz, com quem consultou ainda antes de ser preso na Operação Sépsis há quase um ano. Mariz hoje é advogado criminalis­ta de Temer. A J&F não comentou sobre esse tema específico. Em nota, informou apenas que está colaborand­o com a Justiça.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO-31/7/2014 Conta. Eldorado já teria pago R$ 35 milhões a Funaro

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