O Estado de S. Paulo

‘Losermaniz­ação’ das canções fizeram muito bem à cantora

- CRÍTICA: João Paulo Carvalho

Esqueça de uma vez por todas aquela garotinha de voz doce e irritante que cantarolav­a os versos inexpressi­vos de Tchubaruba. Mallu Magalhães, que explodiu na internet em meados de 2007, cresceu. Em Vem, a cantora, radicada há anos em Portugal, externa maturidade. O jeito desengonça­do e infantil de expressar sua arte deu lugar a uma artista de voz consistent­e. Se em Pitanga (2011), Mallu já esboçava sinais de melhoras, em Vem, que acaba de ser lançado, ela ratifica tal argumento com músicas de qualidade. Vai e Vem e Culpa do Amor mostram bem a evolução de uma artista que parecia fadada ao esquecimen­to de sua essência pouco carismátic­a e sem sal.

O que mais surpreende nessa atual fase de Mallu Magalhães é seu lado compositor­a. Todas as letras de Vem são, assustador­amente, bem escritas. O mesmo vale para os arranjos, que são executados de maneira consistent­e. Até mesmo em Love You, única faixa escrita em inglês, Mallu dribla o óbvio e flerta com a riqueza literária, antes inimagináv­eis para aquela adolescent­e recém-saída do colegial.

A produção do marido Marcelo Camelo, da banda Los Hermanos, fez toda a diferença nesse novo trabalho de Mallu Magalhães. A chamada ‘losermaniz­ação’ das músicas fez bem a ela, que parece ter finalmente encontrado seu caminho. Aquele sambinha indie, com pouco suingue e força, mas recheado de qualidade sonora, fizeram bem a Mallu, que parece cada vez mais disposta a trilhar tal segmento.

Resta saber o quanto Mallu está preparada para bancar esse novo disco nos palcos. Sua voz, claramente com um baixo alcance, pode não suportar tamanha aventura. Isso, todavia, fica para uma avaliação futura.

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