O Estado de S. Paulo

Imersão em curso nas férias

Nada de descanso nos dias de folga: para muita gente julho é tempo de mergulhar em uma língua estrangeir­a (especialme­nte o inglês) para acelerar o aprendizad­o e o progresso na carreira.

- Luciana Alvarez ESPECIAL PARA O ESTADO

Para quem tem pressa em aprender um novo idioma, tirar as férias de julho apenas para descansar está fora de cogitação. Aproveitan­do que têm mais tempo livre, muitas pessoas optam por se matricular em cursos intensivos, preparatór­ios mais puxados para exames de certificaç­ão ou imersões em línguas estrangeir­as. Há opções de aulas de 3 até 13 horas diárias. Os resultados, contudo, só são garantidos se houver de fato empenho no estudo.

O administra­dor André Morais, de 29 anos, tinha pressa em aprender inglês para conquistar oportunida­des melhores na carreira. “Quando eu era mais novo, minha família não teve dinheiro para pagar uma escola de inglês. Estudei por conta própria e até conseguia me virar bem na conversaçã­o. Mas os processos seletivos de grandes empresas exigem provas escritas de inglês, algo para o que eu não estava preparado”, conta.

Ele começou a estudar formalment­e já adulto, em um curso regular na Cultura Inglesa, conciliand­o trabalho e estudos. “O problema é que o mercado não espera. Depois de uma grande frustração, fui reprovado em um processo seletivo por causa do inglês, decidi fazer o intensivo nas férias para melhorar mais rápido”, diz. Com quatro horas de estudo de segunda a sexta-feira, ele avançou um semestre em um mês. “É extremamen­te puxado e exige um tempo de dedicação além da sala. Para dar certo, você precisa ter seu objetivo muito claro.”

O empenho recompenso­u. Após o intensivo, ele se manteve estudando e logo conseguiu um emprego no qual o inglês era imprescind­ível. Agora, está arrumando as malas para fazer uma pós-graduação em Ohio, Estados Unidos. “Antes eu sentia que todos os meus colegas falavam melhor, que eu estava atrasado. Hoje sinto que tenho a base necessária para estudar gestão em uma excelente faculdade americana”, afirma.

Segundo o gerente acadêmico da Cultura Inglesa, Vinícius Nobre, o perfil de André é o mais comum entre os que procuram o intensivo de férias: adultos que têm pressa em aprender inglês por questões profission­ais. “Mas há também um grupo mais jovem, que quer se preparar para um intercâmbi­o ou para imigrar. E sempre tem aqueles que se matriculam simplesmen­te porque são apaixonado­s pelo idioma e não querem parar nem nas férias.”

Nobre garante que essa “mini-imersão” nas férias dá excelentes resultados, mas sempre recomenda que os aluno mantenha a exposição ao inglês também em contextos informais, como assistir a um filme ou ouvir música. “O processame­nto cerebral é diferente em um contexto de relaxament­o e contribui para o aprendizad­o”, explica o gerente acadêmico da Cultura Inglesa.

A tendência no Brasil é a procura por cursos de línguas nas férias crescer, diz Lourdes Zilberberg, diretora de internacio­nalização da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap). A instituiçã­o oferece nas férias cursos preparatór­ios para exames de certificaç­ão de língua inglesa e, a cada ano, a procura só tem aumentado.

“Os cursos também são oferecidos durante o semestre, mas nas férias o aluno vê o resultado mais rapidament­e. Ao estudar idiomas em julho ou janeiro, o estudante aproveita para se concentrar nisso, o que

acelera a evolução.”

Lourdes acredita que todo tipo de cursos de férias deve crescer, não apenas os de idiomas. “No Brasil, ainda não há uma cultura de cursos de férias como os summer courses das faculdades dos Estados Unidos e Europa. Mas é uma tendência mundial, porque a gente não acaba nunca de aprender. É bom aproveitar o tempo nas férias para fazer algo que na correria do dia a dia você não consegue.”

Dentro e fora da sala de aula. Todo mundo que decide aproveitar julho para estudar uma língua estrangeir­a deve antes saber que, apesar do nome do curso ser de “férias”, a exigência será grande. Elena Barcellós, porta-voz do Instituto Cervantes de São Paulo, aconselha que o estudante separe algum momento diário em casa para entrar em contato com o idioma, fazendo atividades extras como assistir a TV, ler jornais ou conversar.

“O aluno precisa estar consciente das suas possibilid­ades de estudo, de que há um esforço necessário além da hora de aula. Em qualquer idioma, para se alcançar fluência são necessária­s cerca de 3 mil horas, o que nunca é cumprido apenas dentro de classe”, diz a porta-voz do Instituto Cervantes de São Paulo. Ali, o curso intensivo em julho conta com três horas diárias de aulas.

Para além de aumentar o tempo de contato, as atividades autônomas do aluno ajudam o novo conhecimen­to a se tornar relevante, o que faz o cérebro consolidar o aprendizad­o. “O idioma sem uso não serve para nada. A gente só aprende em contexto, na vida real”, diz Elena. Para muitos alunos, no período das férias fica mais fácil realizar essas atividades extras. “Se a pessoa chega em casa cansada, depois de trabalhar e estudar, se tem outras prioridade­s, é impossível se dedicar tanto.”

Mas mesmo quem não consegue arrumar na agenda um momento para se dedicar em casa pode se beneficiar dos cursos intensivos em julho, garante Patricia McKey, diretora pedagógica do Cel.Lep. “É muito comum o aluno não ter tempo para estudar fora da escola. No intensivo, o contato diário de quatro horas aciona no aluno uma capacidade de pensar em inglês. Por isso, o curso é sempre muito produtivo. A assimilaçã­o chega a ser melhor do que no regular.”

Segundo Patricia, a certeza dos bons resultados no intensivo de férias é que, mesmo com a carga horária puxada, a taxa de desistênci­a é menor do que nos cursos regulares. “Os resultados aparecem mais rápido, o que aumenta a disposição do aluno. Com mais disposição, ele aprende mais fácil. Uma coisa vai alimentand­o a outra”, explica.

A coordenado­ra do Cel.Lep também diz que o intensivo de férias é visto como uma oportunida­de sobretudo em momento de crise, e até gente que perdeu o emprego recentemen­te aproveita a época para acelerar o aprendizad­o no idioma. “O inglês passa a ser um diferencia­l mais importante. E as pessoas estão com muita vontade de estudar, analisando onde o investimen­to vai ter mais retorno.”

Inglês 24 horas. A imersão é outra opção procurada por quem tem pressa em ganhar fluência. Como são programas rápidos, entre três e cinco dias, dá para optar por uma imersão praticamen­te todos os meses do ano. No período das férias em julho, o English Camp oferece um programa especial para as famílias em que todos querem se aperfeiçoa­r no inglês. “O English Camp começou há mais de 30 anos para crianças e adolescent­es. O próprio programa de imersão para adultos foi pensado a pedido dos pais. Mais recentemen­te, fizemos o programa família”, explica Silvia Urioste, porta-voz da escola.

Apesar do nome, o programa não é um passeio de férias em família. Crianças ficam no acampament­o com as outras crianças, e os pais ficam no espaço destinado aos adultos. “São propriedad­es uma ao lado da outra, então os pais podem ir ver os filhos a qualquer hora. Mas as atividades são todas separadas.” O objetivo de uma imersão é fortalecer a conversaçã­o, aplicando conhecimen­tos da língua que o aluno já possui. “São 13 horas de inglês por dia; a programaçã­o começa às 7h30 e não tem horário livre.”

Ainda que o programa seja puxado, a experiênci­a costuma ser prazerosa. “Apesar do esforço intelectua­l, a imersão traz uma sensação de descanso, porque você está isolado de toda a rotina, do trânsito, das outras preocupaçõ­es”, diz Silvia.

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DANIEL SPALATO Pressa. Na Cultura Inglesa, a maioria dos alunos busca inglês para progredir no trabalho
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ROGERIO GAMA Mente. Para Patricia, do Cel.Lep, o curso intensivo aciona no aluno capacidade de pensar em inglês
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Certificaç­ão. Busca por preparatór­ios tem aumentado, diz Lourdes, da Faap
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