Temer faz ataques a Janot e afirma que denúncia é ‘ficção’
Presidente diz que ex-procurador Marcelo Miller, que ‘ganhou milhões’ ao aderir à equipe de defesa de Joesley Batista, é da ‘estrita confiança’ do procurador-geral
Em pronunciamento no qual disse estar preparado para a “guerra”, o presidente Michel Temer fez duros ataques ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e à denúncia apresentada contra ele. Acusado de corrupção passiva, Temer insinuou que Janot pode ter recebido dinheiro por meio do ex-procurador da Lava Jato Marcelo Miller. Segundo o presidente, Miller “ganhou milhões em poucos meses” após ingressar em escritório que negociou acordo de leniência do Grupo J&F. Temer citou o ex-procurador como homem da “mais estrita confiança” de Janot, mas negou que estivesse fazendo “ilação”. O presidente disse que a acusação contra ele é “ficção” baseada em “provas ilícitas”, chamou o trabalho de “trôpego” e disse que as regras da Constituição não podem ser “tripudiadas pela embriaguez da denúncia que busca a revanche, a destruição e a vingança”. Em nota, a Procuradoria-Geral da República afirmou que há “fartos elementos de provas” de crime.
Ninguém está acima da lei ou fora de seu alcance” RODRIGO JANOT PROCURADOR-GERAL, EM NOTA
Em um pronunciamento no qual disse estar preparado para a “guerra”, o presidente Michel Temer fez ontem fortes ataques ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e à denúncia apresentada contra ele pelo chefe do Ministério Público Federal. Acusado de corrupção passiva, Temer insinuou que Janot pode ter recebido dinheiro por meio do ex-procurador da Lava Jato Marcello Miller, que, segundo o presidente, “ganhou milhões em poucos meses” após deixar a força-tarefa. Miller ingressou em escritório de advocacia que negociou acordo de leniência do Grupo J&F. Temer citou o ex-procurador como o homem da “mais estrita confiança” de Janot. Ele, porém, negou que estivesse fazendo uma “ilação”.
Porém, ele usou a mesma palavra para descrever a base da denúncia de Janot. Disse que a acusação é uma “ficção” baseada em “provas ilícitas”. Classificou ainda o trabalho de “trôpego” e disse que as regras da Constituição não podem ser “tripudiadas pela embriaguez da denúncia que busca a revanche, a destruição e a vingança”.
Em resposta, a Procuradoria-Geral da República afirmou ontem em nota que há “fartos elementos de provas” de crime de corrupção passiva pelo presidente e “ninguém está acima da lei ou fora de seu alcance”. Miller, cuja saída da PGR é alvo de um procedimento de apuração, disse que “não cometeu nenhum ato irregular”.
Dezenas de parlamentares acompanharam a declaração do presidente, que durou cerca de 18 minutos e teve trechos improvisados. Foi uma tentativa do Planalto de mostrar que o presidente mantém o apoio do Congresso. A acusação formal de Janot terá de receber aval da Câmara para ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal. Temer, ao iniciar o discurso, agradeceu a presença espontânea, mas, para garantir o quórum no Palácio do Planalto, o vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), encaminhou uma mensagem aos deputados convocando a base governista.
A denúncia de Janot reforçou o movimento de parte da bancada do PSDB pelo desembarque do partido do governo.