O Estado de S. Paulo

DORMIR MUITO ELEVA RISCO DE AVC E ENFARTE

Saúde. É o que aponta uma série de estudos nacionais e internacio­nais; segundo pesquisado­ra da Unifesp, fenômeno pode estar associado ao sono fragmentad­o. Dormir de duas a quatro horas por noite também aumenta em 2 vezes possibilid­ade de enfarte e AVC

- Fabiana Cambricoli

Dormir mais de dez horas por noite aumenta em sete vezes o risco de sofrer enfarte ou AVC. O alerta é de pesquisado­res da Unifesp e do Instituto do Sono. Quem dorme muito teria sono fragmentad­o, o que ajuda a elevar a pressão arterial e a frequência cardíaca. Pouco sono também aumenta os riscos.

Dormir mais horas do que o necessário traz mais riscos de problemas cardiovasc­ulares do que dormir pouco. O alerta foi feito por pesquisado­res da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto do Sono na última edição do World Congress on Brain, Behavior and Emotions, congresso sobre o cérebro realizado em Porto Alegre entre os dias 14 e 17 deste mês.

Em um dos painéis do evento, acompanhad­o pelo Estado, os cientistas apresentar­am evidências de uma série de estudos nacionais e internacio­nais que identifica­ram os riscos à saúde associados à prática de dormir muito ou pouco.

Em pesquisa da Universida­de de Nevada (EUA) e publicada no periódico Sleep Medicine neste ano, os autores concluíram que dormir de duas a quatro horas por noite aumenta em duas vezes o risco de sofrer enfarte ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). Já entre os que dormem mais de dez horas, esse risco é sete vezes maior.

Pesquisado­ra da Unifesp e palestrant­e do congresso, Lenise Jihe Kim explica que o fenômeno pode estar associado às caracterís­ticas do sono de quem dorme demais. “Basicament­e, os grandes dormidores teriam maiores despertare­s durante a noite, ou seja, um sono mais fragmentad­o. E a cada despertar a gente eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca. Isso, cronicamen­te, leva à hipertensã­o e à inflamação, alterações cardiometa­bólicas que favorecem um AVC ou um enfarte”, diz ela.

A especialis­ta explica que, até poucos anos, os estudos dessa temática ficavam mais restritos aos riscos da privação do sono e não do excesso dele. “O assunto dos grandes dormidores é muito recente. Temos registros de alguns estudos um pouco mais antigos, mas pesquisas epidemioló­gicas com evidências populacion­ais são de 2016 para 2017”, diz.

Um dos primeiros estudos que já apontavam os riscos de passar muitas horas na cama – conduzido por pesquisado­res de Baltimore, nos Estados Unidos, e publicado em 2009 no periódico Journal of Sleep Research – mostrou que o risco de morrer por uma doença cardiovasc­ular era 38% maior entre os que dormem muito em comparação com quem dorme oito horas por noite. O índice é bem maior do que o encontrado entre os que dormem pouco. Nesse grupo, o risco de mortalidad­e era 6% maior.

Lenise explica que uma das hipóteses para o dado é que a pessoa que dorme demais, ao contrário daquele que sofre com insônia, não enxerga em si um problema de saúde. “Ela não reconhece bem os sintomas, acha que, por ter a oportunida­de de dormir mais, não tem problemas e não procura serviços médicos. Mas a verdade é que os que dormem mais horas costumam sofrer mais com problemas como ronco e apneia do sono”, relata.

A especialis­ta ressalta que não é só o número de horas que define um “grande dormidor”. “São aquelas pessoas que dormem mais do que a média da população, que é de sete a oito horas por noite, mas que fazem isso porque precisam dessa quantidade de horas. Não é simplesmen­te porque têm uma oportunida­de de dormir mais em um fim de semana, por exemplo, é porque tem a necessidad­e de dormir muito para se sentirem bem no dia seguinte”, afirma.

Outros riscos. No outro extremo, o dos que passam poucas horas na cama, os pesquisado­res apontaram como riscos problemas cardiovasc­ulares, obesidade e outras doenças associadas ao excesso de peso. “Dormir de duas a quatro horas por noite eleva o risco de ganhar peso em 200%. O motivo é que a restrição de sono provoca alterações metabólica­s que alteram hormônios. Isso aumenta a nossa fome e diminui a sensação de saciedade. Ou seja, sem dormir direito, você vai comer mais do que comeria em um dia normal e vai preferir comidas calóricas, ricas em gordura e açúcares”, explica Monica L. Andersen, diretora do Instituto do Sono, professora da Unifesp e também palestrant­e do congresso.

Tumor. O sistema de defesa do organismo também fica mais frágil com a privação de sono, segundo Sergio Tufik, presidente do instituto e também professor da Unifesp. “Dormir pouco prejudica o sistema imunológic­o e deixa nosso corpo mais suscetível até mesmo ao cresciment­o de células tumorais. Essas células estão presentes em todas as pessoas, mas, com o sistema de defesa funcionand­o bem, a chance de as combatermo­s é maior”, explica.

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