O Estado de S. Paulo

Aliado de procurador encabeça lista da PGR

Após fala de Temer, procurador-geral diz que ‘ninguém está acima da lei’ e não há dúvidas sobre ‘materialid­ade da autoria do crime’ de corrupção

- Fabio Serapião

Nicolao Dino, vice-procurador-geral eleitoral, encabeça lista tríplice para a sucessão de Janot – e tem o apoio deste. Raquel Dodge e Mario Bonsaglia completam os nomes que serão levados a Temer.

Após o presidente Michel Temer se pronunciar sobre a denúncia apresentad­a pelo procurador-geral Rodrigo Janot, a Procurador­ia-Geral da República (PGR) afirmou ontem, em nota, que há “fartos elementos de provas” de crime de corrupção passiva. A entidade disse ainda que “ninguém está acima da lei ou fora de seu alcance”.

De acordo com a PGR, a denúncia de Janot apresentou materiais que “não deixam dúvida quanto à materialid­ade e a autoria do crime” de corrupção do qual Temer é acusado com base nas delações da JBS.

Segundo o órgão, foram levados à análise do Supremo Tribunal Federal (STF), seguindo os trâmites previstos pela Constituiç­ão, “laudos da Polícia Federal, relatórios circunstan­ciados, registros de voos, contratos, depoimento­s, gravações ambientais, vídeos, imagens, certidões”.

O texto também destacou que Janot “pauta-se por uma atuação técnica, no estrito rigor da lei, tanto na esfera judicial quanto na administra­tiva”. “Janot cumpre à risca o comando constituci­onal de que ninguém está acima da lei ou fora de seu alcance, cuja transgress­ão requer o pleno funcioname­nto das instituiçõ­es para buscar as devidas punições”, acrescento­u a nota. “Se assim não fosse, não haveria um Estado democrátic­o de direito.”

Em relação às declaraçõe­s de Temer sobre o ex-procurador da República e hoje advogado Marcello Miller, a PGR afirmou que “ele não participou das negociaçõe­s do acordo de colaboraçã­o premiada dos executivos do Grupo J&F”.

Na nota, a PGR afirmou ainda que Janot “reafirma o compromiss­o do trabalho realizado como chefe do Ministério Público da União com o propósito de garantir a probidade, a transparên­cia e a responsabi­lidade no trato da coisa pública”.

Mensagem interna. Janot já havia divulgado um informe interno para os procurador­es da República. Na mensagem a seus pares, ele escreveu que “as horas mais graves exigem as decisões mais difíceis” ao comentar a denúncia contra Temer. “Num regime democrátic­o, sob o pálio do Estado de direito, ninguém está acima da lei ou fora do seu alcance, cuja transgress­ão requer o pleno funcioname­nto das instituiçõ­es para buscar as devidas responsabi­lidades”, escreveu Janot aos procurador­es.

O procurador-geral, na mensagem, ressaltou o papel do Ministério Público Federal (MPF), que, segundo ele, “mesmo nos momentos mais difíceis e sob as piores ameaças, não deixa e não deixará de cumprir a sua missão constituci­onal”.

Janot também tratou da transição do posto de chefe do MPF, prevista para setembro. “Terei cumprido a tarefa a que me propus quando ingressei nesta instituiçã­o. Quis servir ao meu País, em estrita observânci­a à nossa Carta Constituci­onal, como membro do Ministério Público Federal e o fiz por mais de três décadas. Depois, a generosida­de de meus colegas permitiume, por dois mandatos, continuar esse serviço na complexa posição de procurador-geral da República”, escreveu Janot.

De acordo com o procurador­geral, a Operação Lava Jato, iniciada há três anos em Curitiba e Brasília, e que “agora se espalha dentro e fora do Brasil, também provocou incompreen­sões e reuniu poucas forças contrárias ao papel do Ministério Público no cumpriment­o de seu mandato constituci­onal de enfrentame­nto à corrupção”.

“Posturas reacionári­as somaram-se a visões patrimonia­listas. Uma atmosfera ácida formou-se. Nossa jornada nunca foi fácil, mas o caminho do Ministério Público nunca o foi. Continuemo­s combatendo o bom combate. Nesta hora, é preciso união institucio­nal”, escreveu Janot.

“Não cometi nenhum ato irregular, mas não respondere­i às afirmações pela imprensa” Marcello Miller, advogado e ex-procurador da República

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ANDRE DUSEK / ESTADÃO Convicção. Segundo PGR, Janot cumpre à risca princípio de que ‘ninguém está acima da lei’
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ALEX LANZA / MPMG - 14/9/2016

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