O Estado de S. Paulo

PSDB ainda mais dividido

Grupo concentrad­o na Câmara dos Deputados ganha argumentos para continuar disputa com a cúpula do partido pelo desembarqu­e

- / PEDRO VENCESLAU, RENAN TRUFFI, VALMAR HUSPEL FILHO e GILBERTO AMENDOLA

A denúncia contra Temer reforça inclinação de parte do PSDB em abandonar o governo. O Estado ouviu 31 dos 46 deputados da sigla e 15 disseram que votarão pela aceitação da denúncia.

A denúncia apresentad­a pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer anteontem ao Supremo Tribunal Federal reforçou o movimento de parte da bancada do PSDB na Câmara dos Deputados pelo desembarqu­e do partido do governo.

Apesar do esforço do Palácio do Planalto para manter os tucanos, que comandam quatro ministério­s, ao seu lado, o presidente não deverá ter o apoio em bloco da legenda na votação da admissibil­idade de denúncia no plenário da Câmara.

Para ser aprovada, a solicitaçã­o para a instauraçã­o do processo precisa do apoio de 342 dos 513 deputados da Casa. Se ficar admitida a acusação, após a aprovação do parecer, será autorizada a instauraçã­o do processo no Supremo.

O Estado ouviu 31 dos 46 integrante­s da bancada do PSDB. Destes, 15 afirmaram que votarão pela admissibil­idade da denúncia, sete contra e nove se disseram indecisos ou não quiseram opinar. Parte desse grupo prefere manter o posicionam­ento em sigilo por ora, mas muitos já falam abertament­e.

“Vou votar favoravelm­ente. Não cabe à Câmara dos Deputados impedir a admissibil­idade (da denúncia). O PSDB precisa de uma atitude independen­te em relação ao governo Temer”, afirmou o deputado Eduardo Barbosa (MG).

O Estado apurou ainda que, dos sete tucanos que integram a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ), onde será realizada a primeira etapa do processo, pelo menos cinco tendem a votar contra o governo.

Consulta. O líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), disse que avisou a cúpula do partido de que vai consultar a bancada e votará com a maioria. A interlocut­ores, porém, ele sinalizou que não pretende articular nenhum movimento em defesa do Planalto.

Aliado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o deputado Silvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB, reconheceu que o ambiente mudou desde a reunião ampliada da executiva tucana no dia 12 que decidiu pela permanênci­a no governo (mais informaçõe­s nesta página).

Tempo. Em caráter reservado, até mesmo os mais conhecidos defensores de Temer na bancada declararam que o desembarqu­e do partido da base do governo é uma “questão de tempo”.

A mudança de discurso do expresiden­te Fernando Henrique Cardoso, que passou a defender a renúncia de Temer, enfraquece­u o discurso dos tucanos mais alinhados com o Planalto.

O PSDB comanda, atualmente, quatro pastas na Esplanada dos Ministério­s: Cidades (Bruno Araújo), Relações Exteriores (Aloysio Nunes Ferreira), Direitos Humanos (Luislinda Valois) e Secretaria de Governo (Antonio Imbassahy).

Destes, Imbassahy e Nunes são os mais engajados em manter o PSDB no governo. O presidente licenciado do PSDB, senador afastado Aécio Neves (MG), também faz parte do grupo que pressiona o partido para permanecer ao lado de Temer.

Carta. Essa ala “pró-permanênci­a” no governo no tem ainda o reforço do Instituto Teotônio Vilela, braço teórico do PSDB que é presidido pelo suplente de senador e ex-secretário estadual José Aníbal (SP).

Em uma “carta de formulação e mobilizaçã­o política” divulgada ontem, o instituto disse que a eventual queda de Temer atende “às preces dos narradores do petismo”.

O mesmo documento faz coro com a defesa de Temer e afirma que não há, pelo menos por ora, “uma prova inconteste, uma evidência acachapant­e ou um depoimento irrefutáve­l que leve a uma condenação inequívoca”.

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DIDA SAMPAIO-/ESTADÃO-30/10/2007 Desembarqu­e. Para o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), o ambiente mudou no partido

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